sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

Ms. Paint

Oi gente! Ai, desculpem o sumiço. Fim de semestre, é sempre esse caos. Para compensar eu queria postar um texto bom, daqueles que demora mas que vale a pena. Porém, recebi um vídeo do Youtube, que me deixou de queixo caído. Já vi três vezes, mas não me canso. O que posso dizer dele´, sem estragar a espectativa, é que é um desenho, super elaborado, feito em paint brush. Não, você fica maravilhado com o dom do cara. Como pode? Enfim, só vendo mesmo para entender o que eu estou falando... E até mais!!

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

A Grande Mídia Encurralada

Desculpem a demora... Feriados, fim de semestre, acaba faltando tempo para viver... Paciência, né?! Para compensar, um texto ótimo sobre a imprensa. Por que a vitória do Lula acabou indo no caminho contrário ao que a imprensa quis e pregou, em todos os momentos das eleições. E o texto dá uma pincelada nesse assunto, enfocando nos abusos dessa nossa "imprensa democrática"! A Grande Mídia Encurralada Nunca vi uma situação como a atual em que a chamada grande imprensa sofre tantas críticas e tão merecidas “bordoadas”. Lula Miranda do site da Carta Capital Após ganhar todas as lutas, de modo inconteste, por nocaute, quase sempre no primeiro round, sob aplauso unânime de todos, utilizando-se, muitas vezes, de golpes baixos e gestos antiesportivos, a mídia está apanhando sem parar. Atordoada, com as pernas trêmulas, bambas, a face empalidecida, o olhar atônito, perdido, já completamente grogue, após inúmeros e certeiros golpes recebidos, a ex-toda poderosa grande mídia finalmente conheceu o córner e as cordas do ringue, e está na iminência de um espetacular nocaute. Como nas lutas de boxe, os espectadores (no caso, leitores) vibram entusiasmados, à espera do tombo do gigante antes imbatível. Não sou simpatizante do boxe. Na verdade, acho-o um “esporte” violento, bárbaro, brutal, deplorável mesmo – isso sem falar, claro, no vale-tudo. Mas é inevitável, irresistível recorrer a essa singela metáfora para melhor definir a situação em que se encontra a grande imprensa hoje. Confesso que, nesses quarenta e poucos anos de vida, pouco mais da metade deles dedicado à militância na literatura e na imprensa alternativas (portanto, na condição de antagonista às grandes editoras, jornais e revistas), nunca vi uma situação como a atual em que a chamada grande imprensa (a inatacável, inatingível, imbatível grande imprensa) sofre tantas críticas e tão merecidas “bordoadas”. E, ainda mais do que isso, a sua atuação é acompanhada de perto por leitores especialmente críticos e exigentes. Vivemos um momento ímpar, portanto, um marco na história recente da imprensa brasileira – sem dúvida ou exagero retórico algum. Seriam os primeiros passos no caminho para uma mídia mais democrática? É esperar (ou melhor, fazer) o porvir. A principal característica da mídia, e também seu principal defeito ou cacoete, seu calcanhar-de-aquiles, por assim dizer – assim como na nossa metáfora inicial, o mesmo se dá com o lutador de boxe –, é que ela, mídia, sempre esteve acostumada tão somente a bater. Bater e bater. Bater mais. Indiferente ao adversário ou contendor e às suas qualidades ou possíveis méritos (“impávido que nem Muhammad Ali”). Acostumou-se a distribuir porradas a torto e a direito, impunemente. Pegou traquejo e gosto pelo linchamento (moral). Mas também pela calúnia, pela intriga, pela manipulação e, in extremis, pela destruição de vidas e reputações. Muitas vezes, não se furtando a fazer uma espécie de publicidade da infâmia (um marketing ao contrário, infamante). Entregou-se, ainda, à incúria, ao descuido, à preguiça; à competição desenfreada pelo furo de reportagem, pela manchete a qualquer preço. Em nome de uma suposta (e sagrada) liberdade de expressão, a mídia tudo podia. Por que esse princípio sacramentado [o da liberdade de expressão] não serve também para proteger Emir Sader do mandonismo dos “donos do poder” (como dizia Faoro)? Eles tudo podiam em nome da tal liberdade de expressão, ou de imprensa - como, às vezes, preferem. A seu bel-prazer, a mídia caluniava, mentia, distorcia, manipulava - note que me utilizo aqui do tempo pretérito, como que a marcar o passado e sinalizar o porvir, o daqui para frente. Também a seu bel-prazer, elegia governadores, prefeitos, deputados, presidentes (quem não se lembra do “fenômeno” Collor?) etc - elegia até um poste, dizia-se. Também a seu bel-prazer cassava os mandatos de governadores, prefeitos, deputados, presidentes (Collor, também nesse caso, nos serve como exemplo) etc. Construía e destruía famas, reputações. A mídia tocava a sua flauta e nós, os ratinhos enfeitiçados, a seguíamos diligentes, comportados - muitas vezes, rumo a nossa própria desgraça. Impunha-nos suas verdades. Não mais. A grande mídia, e é essa a grande novidade, já não mais detém o monopólio da opinião pública. Já não nos guia em direção ao precipício, como se cegos fôssemos. Aqui é necessário que se faça um oportuno parêntesis. Não se pretende, de modo algum, negar a importante função social da imprensa. Seja na indispensável vigilância crítica de cidadãos, autoridades constituídas, governos e partidos políticos, seja no seu fundamental papel (constitucional?) na defesa das instituições e na luta pela consolidação (ainda em processo) da nossa incipiente democracia. Portanto, não queiram nos acusar, os atuais defensores dessa mídia prostituída que aí está (com o perdão das profissionais do sexo), de sermos “intransigentes”, “nazistas”, “stalinistas”, “petistas” (no início do século passado, nos chamariam de “comunistas”) e outros “istas” absolutamente vazios de conteúdo, destituídos de sentido. Cansamos, sim, do parcialismo desmedido, do facciosimo canalha, da hipocrisia, da falta de ética, da manipulação, dos escândalos pré-fabricados. Mazelas essas decorrentes, naturalmente, da falta de controle, dos plenos poderes, dos monopólios e oligopólios, do “coronelismo midiático”, que deixaram a nossa mídia livre para transgredir os limites da ética e do bom jornalismo. Não se trata, portanto (em absoluto!), de desejar calar a mídia ou manietá-la. Nunca se viram tantos artigos publicados sobre o papel da mídia como nos dias de hoje. E, mais precisamente, sobre sua (im)postura no processo eleitoral recentemente encerrado. Nunca se viram também tantos comentários de leitores (muito bem elaborados e articulados, por sinal) em blogs e sites na internet – essa via libertária e redentora que propicia o diálogo e a participação on line (em tempo real) dos cidadãos nos fóruns de debates (não à toa, vozes mais conservadoras no Senado já falam em “controlar a internet”). Na grande imprensa, quase nunca a opinião do leitor é publicada ou levada em consideração – as cartas nem sempre são publicadas. Nos sites e blogs da chamada imprensa digital essa relação é mais direta e profícua. E isso faz toda a diferença. A grande imprensa, se não se renovar, a si e aos seus quadros (jornalistas e, claro, editores), prosseguirá perdendo credibilidade, prestígio e, por fim, leitores. E, não se engane, além dos jornais e revistas, até mesmo os blogs e sites (ou sítios) mantidos por veículos das grandes corporações da comunicação (Grupo Folha da Manhã, Grupo Estado, Organizações Globo etc.) estão tornando-se sítios desertos – de idéias e de leitores. E, sabemos, sem a chamada “audiência” as verbas publicitárias começam a minguar, a receita a escassear e os impérios da mídia começarão, sem dúvida, muito em breve, a ruir, a cair. Como o lutador da nossa metáfora inicial. Outrora arrogante, imprudente, senhor de si, impávido em sua arena. Observe, por exemplo, aqui mesmo na Agência Carta Maior, os inúmeros comentários de leitores (já eram 169, por mim “auditados”, na noite dessa segunda-feira, 06/11) na matéria de Bia Barbosa: “População critica cobertura; Globo faz abaixo assinado pra se defender” (leia aqui). Ou os mais de 530 comentários na matéria de Marcel Gomes sobre a condenação de Emir Sader (leia aqui). No site do Observatório da Imprensa, onde o provecto jornalista Alberto Dines está fazendo – estranhamente, pois trata-se de um grande jornalista – um “papelão” na defesa intransigente, autoritária, injustificável e meramente retórica (nem um pouco dialética) da imprensa. Sim, aquele que era para fazer o papel de observador crítico da mídia parece ter incorporado o papel, nada nobre, de um rábula rabugento/intolerante, ou até mesmo de um mero guardião do mais mesquinho corporativismo. Será? Difícil entender. Ele, em sua retórica barroca (exagerada, destemperada) chega ao paroxismo de falar em “empastelamento” da imprensa. Dines tem recebido de 300 a 500 comentários em seus artigos e “posts” no site do Observatório. A retumbante maioria deles, na verdade quase a unanimidade, feitos de modo competente, ponderado, em sua maioria por jornalistas, professores e profissionais liberais, contrários às suas posições e com críticas contundentes/competentes à atuação da grande imprensa. Mas Dines, que tem tido a desfaçatez de, “democraticamente”, levar ao seu programa, o OI na TV, quase sempre, somente os que pensam como ele (como no programa de 31/10), numa completa ausência do contraditório, não é atualmente o único guardião da mídia farsante. Envolvidos no caso do chamado “dossiê da mídia” (ver CartaCapital edições 415 e 416), que analisou casos de matérias e procedimentos jornalísticos que ajudaram, digamos assim, a levar a eleição para o segundo turno, Ali Kamel (Rede Globo de Televisão) e Eurípedes Alcântara (revista Veja), e alguns outros sabujos dos donos do poder, já colocaram as barbas de molho e a cabeça para fora de seu casulo de empáfia e arrogância, e deram a cara pra bater em blogs, sites e até mesmo, como no caso de Kamel, através de uma matéria paga na revista CartaCapital. Porém, ainda não se tem registro de manifestação alguma do “Mister OFF” (referência a Otávio Frias Filho), que ainda não saiu das sombras para se justificar perante a sociedade pelos pecados cometidos pela Folha de S. Paulo na cobertura do incrível caso do delegado Bruno, suas armações ilimitadas e estratagemas para revelar à imprensa as fotos do dinheiro que seria utilizado na compra do famigerado dossiê Serra/Vedoin. Esse cronista, conforme já disse em textos anteriores, não descansará enquanto não houver uma punição exemplar aos jornalistas da Folha, da TV Globo e da Veja envolvidos no episódio, e enquanto não ocorrer, da parte desses veículos, um enfático pedido de desculpas à sociedade pelas mentiras e orquestrações engendradas. Esse cronista, inclusive, busca, no momento, assessoria jurídica para buscar a melhor forma (se via Ministério Público ou outros caminhos) de entrar com uma queixa-crime contra os veículos e jornalistas envolvidos. Mas, a despeito disso tudo, e na contra-mão dos fatos e dessa corrente renovadora e airosa trazida à pauta por essas novas mídias e por esses leitores mais atentos, críticos e qualificados, em recente editorial da própria Folha (sempre ela) intitulado “Volta a truculência”, os leitores mais atentos, críticos e qualificados puderam perceber a indelével marca da arrogância pequeno-burguesa de “Mister OFF” quando chama de “boçalidade” a louvável postura crítica em relação à imprensa do governador recém-reeleito pelo estado do Paraná, Roberto Requião. Também ele vítima, durante a sua gestão assim como na campanha, do facciosismo deletério, das mentiras e manipulações da mídia. Assim, ainda como o lutador de boxe na nossa metáfora inicial, a arrogância e desbragado narcisismo (vaidade, cinismo, desfaçatez etc.) dos “coronéis” da nossa imprensa, bem como de seus capatazes ou sabujos, selarão sua desgraça. Os oligarcas cordatos da nossa grande imprensa, que majestáticos ainda viram as costas à verdade factual e ao leitor, precisam reformular seus modos e estratégia, senão beijarão a lona dura e fria. Cairão enfim em desgraça. Ela, mass media, que sempre bateu com sádico prazer, sem dó nem piedade, agora apanha feio. Nada mais pedagógico – e emblemático. Sinais dos tempos, vindouros. Alvissareiros. Assim espero. Melhor, esperamos todos. N.A. Recomendo a leitura do artigo do sociólogo e diretor da Vox Populi, Marcos Coimbra (quase impecável), na CartaCapital edição de nº 418. Para os que não tiverem acesso, aqui vai um pequeno trecho: “(...) Ganhou o voto de quem se sentiu satisfeito com o que está vivendo e convencido de que os pecados de Lula e do PT só serão resolvidos quando todo o sistema político mudar. Ganhou, portanto, um voto concreto e informado, o inverso do que imaginam alguns analistas, que mais tendem a repetir estereótipos que a criticá-los”. “Tenho acompanhado a eleição desde muito cedo e com diversos instrumentos de pesquisa, é, para mim, muito claro que foram os eleitores de “classe média”, de maior escolaridade e renda, muitos vivendo em cidades grandes e modernas, os que mais tenderam a ser ‘manipulados’. Foram eles os que mais se revelaram propensos a votar segundo a informação recebida, de maneira acrítica e, muitas vezes, superficial. Ou seja, cada vez que alguém se inflamava contra a ignorância dos pobres, dirigia mal suas baterias”. Seria o caso de se perguntar: é preciso dizer mais alguma coisa?

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

A Polêmica da 'Raça'

Recebi essa notícia por e-mail e fiquei impressionada. Fui conferir na fonte. E não é que é verdade mesmo?? Como pode?? A Polêmica da 'Raça'

Emir Sader é condenado em processo movido por Bornhausen; cabe recurso

11ª Vara Criminal de São Paulo condena colunista a um ano de prestação de serviços à comunidade e à perda de seu cargo de professor na Uerj por ter chamado senador de 'racista'. Marcel Gomes* – Carta Maior São Paulo– O cientista social e colunista da Carta Maior Emir Sader foi condenado à perda de seu cargo de professor na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e a um ano de detenção, em regime aberto, conversível à prestação de serviços à comunidade, pela 11ª Vara Criminal de São Paulo, que julgou um processo de injúria movido pelo senador Jorge Bornhausen (PFL-SC). Cabe recurso à decisão, ainda em primeira instância. Na sentença, o juiz Rodrigo César Muller Valente avaliou que Sader cometeu crime ao tratar Bornhausen como “racista” em um artigo publicado na Carta Maior em 28 de agosto do ano passado. O colunista se referia a uma manifestação pública do senador feita dois dia antes, na qual, ao ser questionado em um evento com empresários se estava desencantado com a crise política, ele respondeu: “Desencantado? Pelo contrário. Estou é encantado, porque estaremos livres dessa raça pelos próximos 30 anos”. Marcelo Bettamio, advogado de Sader, disse que irá recorrer da decisão, que só passa a valer após o trânsito em julgado da sentença. Segundo ele, houve cerceamento do direito de defesa durante o trâmite do processo. “O juiz não intimou as testemunhas de defesa, cujo comparecimento ao tribunal fora pedido pelo defendente”, alega. Sobre a cassação do professor de seu cargo na Uerj, Bettamio considera a decisão descabida, uma vez que o artigo assinado por Sader não teria relação com sua função docente naquela universidade. O senador Jorge Bornhausen foi procurado para se manifestar sobre o caso, mas sua assessoria disse que ele não comentaria o caso. O juiz Rodrigo César Muller Valente também foi contatado através de sua secretária, mas não respondeu à solicitação de entrevista. A polêmica Na época, ao explicar a declaração, Bornhausen disse se referia aos petistas e à expectativa de que Lula fosse derrotado nas eleições deste ano. A expressão “raça” utilizada por ele gerou manifestações de repúdio no governo, no PT e em esferas da esquerda. Cartazes acusando o senador de racismo chegaram a ser distribuídos em Brasília. Diante da repercussão, o senador, que também é presidente do PFL, publicou um artigo no jornal Folha de S. Paulo, em 29 de setembro, em que tentava explicar o uso da expressão. “Quanto a ter usado a palavra ‘raça’ – não como designação preconceituosa de etnia, ideologia, religião, caracteres, mas como camarilha, quadrilha, grupo localizado –, tão logo alguns falsos intelectuais surgiram, incriminando-me, apareceram preciosos testemunhos a meu favor. Confesso que falei "dessa raça" espontaneamente, sem premeditação, usando meu modesto universo vocabular, a linguagem coloquial brasileira com que me expresso, embora meus adversários tentem me isolar numa aristocracia fantasiosa”, escreveu Bornhausen. Segundo o advogado Marcelo Bettamio, na apresentação de sua defesa, Emir Sader alegou que, ao usar o termo racismo, “não visou ofender a honra nem subjetiva nem objetiva do senador, mas sim fazer uma crítica a um parlamentar que fez uma declaração pública, perante a mídia, com termos preconceituosos”. Bettamio considera que, através do artigo na Folha de S. Paulo, o próprio senador se retratou. “O prof. Emir Sader apenas exerceu o direito à livre manifestação e à crítica, salvaguardado na Constituição”, disse o advogado. * Colaborou Flávio Aguiar O e-mail por mim recebido, dizia que os queiram assinar o manifesto em solidariedade ao prof. Emir Sader, podem enviar e-mail para solidariedadeaemirsader@hotmail.com

quarta-feira, 1 de novembro de 2006

Exigência de Maturidade Política

Olá! Fiz uma coisa no plog que eu estava querendo fazer já fazia um tempão. Organizar o arquivo. Para as pessoas encontrarem textos antigos postados. Estão todos organizados por mês, no ítem arquivo ao lado. Estopu pensando em tirar as figuras com links, para diminuir o campo direito fixo. Aceito sujestões. Após as eleições, vem agora as ponderações e as conclusões. Continuemos a pensar a esquerda brasileira hoje. E esse texto de hoje é ótimo nesse sentido. Ah, bom feriado!! Exigência de Maturidade Política Editorial - Correio da Cidadania Retirado do site do Correio da Cidadania Urge analisar dois aspetos contraditórios ligados a esta eleição. Não se trata de tarefa simples nem que possa ser cumprida adequadamente sem pesquisa sistemática e muito diálogo. Numa primeiríssima aproximação, basta fazer as conjecturas mais óbvias (e insuficientes) a respeito da sua significação. O primeiro aspecto é a blindagem do Lula. A avaliação desse fato não pode limitar-se ao óbvio efeito eleitoral do “Bolsa Família” nem à natural ligação da pessoa pobre do povo com seu igual que chegou lá. Há algo mais do que isso: há uma identificação que não chega a ser uma consciência de classe, mas que tem a aparência de um bloqueio a todo discurso originário dos setores que a pessoa pobre do povo designa por “eles” em contraposição ao “nós”. Se esta hipótese for correta, muita coisa terá de ser revista nas táticas dos partidos de esquerda. O outro aspecto intrigante diz respeito ao comportamento dos movimentos populares combativos na campanha que se findou. Críticos acérrimos do governo, cerraram fileiras atrás de Lula ao primeiro sinal de que sua reeleição poderia não estar absolutamente assegurada – um apoio incondicional, não precedido de qualquer negociação a respeito das políticas do governo neste novo mandato. O fato é preocupante porque os dois maiores partidos que restaram na esquerda – o PSOL e o PSTU – decidiram anular o voto no segundo turno. Não se pode conceber uma esquerda separada do movimento popular. Pela lógica, um dos dois deve estar enganado. Não, porém, se se fizer uma adequada diferenciação de planos. Os movimentos populares dão batalhas específicas (pela terra, pelos índios, pelos aposentados etc.); já os partidos procuram articular essas batalhas em uma estratégia destinada a vencer a guerra. São dois campos de visão distintos. No plano global da luta de classes, não há, atualmente, diferença substantiva entre a política de Lula e a de Alckmin. Os dois são executores de um modelo econômico contrário aos interesses da Nação e da classe trabalhadora. No plano da execução setorial dessa política, contudo, Alckmin representa uma repressão mais forte e decidida do que Lula. Não se pode negar que, para um sem terra acampado em uma fazenda ocupada, é melhor tratar com o sistema repressivo do governo Lula do que do governo Alckmin. Por isso, não é possível censurar os movimentos pela adesão ao Lula, pois todos sabem que a solução de continuidade prejudica enormemente o trabalho de base. Mas, sem dúvida, suas lideranças precisam estar muito atentas para não se deixarem cooptar pelas forças do grande capital. A posição dos partidos explica-se por outro tipo de raciocínio: esses partidos visualizam o desenvolvimento da luta geral que a classe trabalhadora trava contra o poder burguês. Sob este prisma, é muito importante mostrar que, substancialmente, não há diferença entre o modelo econômico adotado pelos dois candidatos, pois a primeira obrigação ética e política, de uma agremiação de esquerda, é desvendar a realidade do país a um povo completamente desinformado. O voto nulo visa esse objetivo. Provavelmente não será compreendido imediatamente pela grande maioria dos eleitores. Enfrentar situações de incompreensão para ser fiel ao compromisso de não esconder a realidade do povo é uma atitude de coragem política, perfeitamente justificável se não for tomada de modo dogmático e sectário. De qualquer modo, a discrepância entre forças que devem ser as duas faces de uma mesma moeda cria uma situação delicada, que só poderá não causar grandes estragos, se for tratada com maturidade por ambos lados. Não havendo como afirmar categoricamente qual a posição mais correta – se conseguir condições menos restritivas para a ação das organizações populares ou evitar o risco de se confundir o governo Lula com um governo de esquerda –, pode-se mesmo formular a hipótese de que ambas são as que cabem nesta quadra particularmente difícil para o país e para a classe trabalhadora.

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

Os Puros

Por Izaías Almada* (Recebido por e-mail, tendo como fonte citada o site da revista Caros Amigos. ) Chegamos e vamos passando, afinal, pelas controvertidas eleições de 2006... Tenho procurado acompanhar, não só pelos jornais e pela televisão -é claro – onde se mente mais do que se fala a verdade ou, se quiserem, onde se omite mais, a disputa pelo poder político que renova (ou não) agora em outubro muitos dos seus quadros. E nessa observação pude, aqui e ali, conversar com empregadas domésticas(como a minha, por exemplo), varredores de rua, com seguranças de prédios e lojas, com motoristas de táxi e de transporte público, alguns nordestinos com parentes na Paraíba, no Piauí, na Bahia, gente que trabalha no comércio, enfim, pessoas que moram na periferia de São Paulo e que – muitas delas – levam três horas para chegarem ao trabalho e outras três para regressarem às suas casas. E sabem o que boa parte dessa gente fala? Que o dinheirinho está dando para comprar a cesta básica e ainda sobra algum. Que muitos produtos não subiram de preço nos últimos quatro anos e que alguns até baixaram. Que já não se gasta tanto em transporte coletivo quanto se gastava (pelo menos, na cidade de São Paulo), que muita coisa já dá para comprar a prestação e que antes não dava. Pela primeira vez, em muitos anos, o salário mínimo (ainda pífio) supera a casa dos 120 dólares. Contaram-me, inclusive, um fato curioso que se deu na periferia de Osasco, onde um candidato a deputado fazia a sua campanha. A comitiva foi convidada a comer “a picanha do Lula”. Um dos assessores do candidato em campanha foi logo alertando que em tempos de campanha é proibido, pela lei eleitoral, pagar almoços em nome de candidatos. A situação foi esclarecida pelo homem que fizera o convite. “Não se preocupem”, disse ele, “ninguém está pagando nada para nós. É que agora nós podemos de vez em quando comer uma picanha nos fins de semana e antes era bem difícil. Por isso é que nós chamamos de picanha do Lula.” São os donos de sua força de trabalho contentes por “dar ao dente”. Na outra ponta do arco social somos confrontados a cada trimestre ou semestre com os imorais lucros dos nossos bancos, do grande sucesso da nossa agroindústria quase monocultora e transgênica, da queda (ainda tímida) dos juros e “spreads” bancários, e por aí afora. Senhores do poder de fato, apoiados por uma “imprensa independente e imparcial”, a turma que há 500 anos infelicita o povo brasileiro, os endinheirados, com dentes limpos e bem tratados, roupas finas, querendo livrar o país “dessa raça” suja e mal vestida. São os donos do capital felizes “por embolsar mais algum”. Entre esses dois extremos estamos muitos de nós. Não embolsamos lucros e nem vendemos a nossa força de trabalho abaixo do salário mínimo. Sobrevivemos. E, dirão alguns, honestamente. Que seja! Entre esses dois extremos estão os fazedores de opinião na imprensa, nas universidades, nas igrejas, nos quartéis, nos partidos políticos, esse enorme pelotão de classe média, muitos sonhando individualmente com a própria ascensão social. Outros, desejando-a para um número maior de seus semelhantes. E é nesse pelotão intermediário que se encontram os puros. Aqueles que elegeram a ética como um valor abstrato, longe da convivência dos homens, algo assim que só estivesse à altura dos eleitos, dos sábios, dos que não pecam. Como alguns intelectuais que, distantes da periferia das grandes cidades ou dos grotões interioranos desse imenso Brasil, que observam a realidade do país através de suas grossas lentes e das janelas de seus confortáveis apartamentos e escritórios pós-modernos. Alguns até se dizem de esquerda, seja lá o que isso signifique para eles. São historiadores, professores, sociólogos, filósofos, jornalistas, todos a deitar falação sobre corrupção, ética, honestidade, muitos deles esquecidos de que ajudaram a criar o “monstro” que agora combatem. Refiro-me ao presidente Lula e ao PT. Atenção, senhores cabeças pensantes! O sistema, até prova em contrário, ainda se chama capitalista. Vive do lucro e da mais-valia, da exploração do trabalho assalariado. Vive do lucro e incentiva o sucesso pessoal. Transforma tudo e todos em mercadoria. Idolatra o dinheiro e – sem esses ingredientes – você é um fracassado, um perdedor, um pobre. O sistema cria ilusões e mentiras, mas não oferece a todos as mesmas oportunidades para usufruírem de suas benesses. É natural, pois, e eu diria quase axiomático, que muitos cidadãos se corrompam para poder sobreviver, pois deles – com certeza e nesse sistema – não será o reino dos céus. E, quando se trata de conseguir ou manter o poder político, essa opção é ainda mais arraigada. Qual é a surpresa, então? Quem criou o PT e nele esteve muitos anos, que o embale ou que o refaça e não fique aí pelos cantos a chorar sobre o leite derramado. Não fique por aí a andar de mãos dadas com a direita mais conservadora e reacionária do país num momento em que o povo (e eu estou falando de povo mesmo, dos mais fodidos, dos analfabetos, dos doentes, dos subnutridos, dos desempregados, dos sem terra, dos sem casa, dos sem escola) já anda cansado dos profetas do paraíso terrestre por um lado e da escória que nos governa há quinhentos anos, do outro. Chega de hipocrisia! O povo quer saber de pão e trabalho, pois o circo ele já tem nas novelas de televisão, no futebol movido a lavagem de dinheiro, nas CPIs e em várias das sessões do Congresso Nacional... *Izaías Almada é escritor e dramaturgo

quinta-feira, 19 de outubro de 2006

Viva a Liberdade de Imprensa

Por Bernardo Kucinski "Quero agradecer em primeiro lugar aos meus companheiros de partido de São Paulo. Foi graças a São Paulo que estamos virando o jogo. E agradecer a meus irmãos da Opus Dei que me confortaram nos piores momentos da campanha até aqui. Mas quero agradecer acima de tudo aos jornalistas brasileiros, sem os quais seria impossível desconstruir esse verdadeiro mito da política que estamos enfrentando. Parecia uma tarefa impossível. O arquétipo do "pai dos pobres" estava profundamente enraizado no imaginário popular. Mas certos preconceitos também estavam e a imprensa foi muito feliz em fazer aflorar esses preconceitos. Lembro a todos a associação dos petistas a ratos através do poder da imagem, na capa de VEJA que vocês todos conhecem (1). Vários jornalistas, trabalharam essa associação depois por escrito, com grande sucesso.(2) Foi um risco calculado, usar mesma técnica que Goebbels usou no seu filme " O judeu eterno", para convencer os alemães de que os judeus deveriam ser exterminados. Mesmo porque, não se trata da eliminação física dos nossos adversários ou dessa raça, como disse equivocadamente, o nosso amigo senador Bornhausen. Mas se trata, sem dúvida, de sua erradicação da política brasileira. Outra associação importante foi com o conceito de "quadrilha." Arnaldo Jabor foi muito eficaz quando escreveu que "com a eleição de Lula, uma quadrilha se enfiou no governo e desviou bilhões de dinheiro público para tomar o Estado e ficar no poder 20 anos. " A própria palavra "petista" já está adquirindo uma conotação pejorativa. É, sem dúvida uma grande vitória na batalha pelas mentes e corações dos brasileiros... ( interrupção por aplausos prolongados). "Não importa se no final dos inquéritos em curso, não ficar provada corrupção no governo, ou que o dinheiro do mensalão não veio dos cofres do Estado, ou que a maioria dos esquemas de corrupção começou no governo anterior. Os jornalistas brasileiros agiram bem ao ignorarem formalismos como o da presunção da inocência ou o do direito à auto- imagem. E mais ainda ao cunharem a expressão "mensaleiro" que estigmatiza por igual toda uma categoria de políticos, independente do grau ou tipo de envolvimento de cada um. Foi através de abordagens corajosas como essas, ignorando a superada ética jornalística liberal, que conseguimos inculcar em grande parte do eleitorado a idéia da quadrilha (3) ( aplausos). "Da mesma forma, com a expressão "Nosso guia", a imprensa conseguiu associar sutilmente a figura desse falso "pai dos pobres" à dos ditadores comunistas, Stalin, Mao e Enver Hoxa. (4) Com isso personalizamos a idéia geral , que já havíamos conseguido disseminar antes, de que essa gente é autoritária por natureza . Também conseguimos convencer boa parte do eleitorado de que esse "pai dos pobres", não tem educação nem cultura, é um ignorante.E não foi fácil, dada a propensão do povo de respeitar as autoridades. Muitos jornalistas contribuíram para isso e todos eles eu agradeço.(5) A idéia de que se trata de um ignorante pegou fundo e hoje é encampada inclusive por intelectuais, como o dramaturgo Lauro Cezar Muniz que em declaração de grande destaque na Folha Ilustrada, explicou como " a falta de escolaridade impede a pessoa de entrar em contato com a lógica" e que por isso nosso adversário "não tem clareza para governar o Brasil."(6) "A imprensa estrangeira também ajudou. Quero lembrar a vocês o artigo do New York Times sugerindo que o mito é um alcoólatra. A primeira reação do povo foi repudiar o jornalista americano, por aquele motivo que já mencionei, o respeito à autoridade, ainda mais quando atacada por um estrangeiro. Mas graças ao desastrado gesto de sua expulsão e posterior ajuda de alguns de nossos mais brilhantes jornalistas, conseguimos reverter esse quadro e hoje posso assegurar a vocês, são muitos os brasileiros que acreditam na tese do alcoolismo. Agradeço em especial ao diretor da sucursal da Folha em Brasília , que através de pesquisa cuidadosa nos mostrou que o alcoolismo está no DNA da família Silva. (7) Finalmente quero mencionar o brilhantismo com que alguns jornalistas trabalharem a delicada idéia de esse pai dos pobres e os petistas em geral são tipos patológicos. VEJA foi pioneira ao dizer que "Lula tem dificuldades patológicas em compreender o que lhe pertence e o que pertence e ao Estado." (8) E Diogo Mainardi, comparou Lula ao Papa Léguas, "uma besta primária, um oportunista microcéfalo perfeitamente adaptado ao seu meio, que sabe apenas fugir das ciladas preparadas pelo coiote." (9) Quero mencionar, em especial o artigo de José Neumanne Pinto: "Freud, Lombroso e Jung no Planalto", publicado às vésperas da eleição, no jornal mais importante do país, O Estado de S.Paulo (10). Hoje, como vocês sabem, há um retorno ao paradigma genético, portanto ao modelo lombrosiano. Meus irmãos da Opus Dei,a propósito, nunca abandonaram a abordagem lombrosiana. O artigo de Neumanne foi tão importante que o colocamos no nosso site. Enfim, sei que deixei de mencionar dezenas de jornalistas que também contribuíram para o combate ao mito. A todos agradeço de coração. E os conclamo a continuar a lauta. O mito foi duramente atingido, mas ainda não morreu. Nossa tarefa é destruí-lo. ( aplausos prolongados, gritos de Viva a Liberdade de Imprensa, Viva São Paulo.) - Fim do discurso de agradecimentos. (1) VEJA, 25/05/2005. (2) Entre eles, André Petry em VEJA, de 24/06/06( " De ratos e homens") .e Rubens Alves na Folha de S. Paulo, de 18/04/2006 (" Os ratos e os elefantes") (3) O Código de ética dos jornalistas brasileiros, aprovado em congresso nacional da categoria e em vigor desde 1987, diz nos seus artigos 14 e 15: Art. 14. O jornalista deve: a) Ouvir sempre, antes da divulgação dos fatos, todas as pessoas objeto de acusações não comprovadas, feitas por terceiros e não suficientemente demonstradas ou verificadas. b) Tratar com respeito a todas as pessoas mencionadas nas informações que divulgar. Art. 15 - O jornalista deve permitir o direito de resposta às pessoas envolvidas ou mencionadas em sua matéria, quando ficar demonstrada a existência de equívocos ou incorreções. (4) A expressão foi repetidamente aplicada por Elio Gaspari em sua coluna e hoje já é usada por outros jornalistas. (5) Reinaldo Azevedo chama o presidente de "analfabeto", na epígrafe de seu site; Miriam Leitão, no O Globo, de 11/09/05, dedicou toda uma coluna à "falta de escolaridade do candidato do partido dos Trabalhadores"; e Sonia Racy, no Estadão de 19/01/06, concluiu que ao se referir ao Uruguai e Paraguai como " nossos irmãos mais pequenos", Lula revelou sua ignorância do vernáculo, quando a ignorância na verdade era dela, pois segundo a gramática de André Hildebrando de Afonso a expressão é correta e de uso corrente em várias regiões. (6) Folha Ilustrada, 07/03/2006. Cezar Muniz parece ignorar que o raciocínio lógico é inerente ao cérebro humano. Até mesmo os loucos raciocinam com lógica. O que muda é o conteúdos do raciocínio, conforme se trate de um saber cientifico, ou religioso, popular, ou supersticioso. (7) Josias de Souza, Folha de São Paulo, 16/05/04: "Alcoolismo marca três gerações dos Silva." (8) VEJA, 12/07/06. (9) 28/06/06 (10) OESP, 20/09/06 Bernardo Kucinski é jornalista, é professor da Universidade de São Paulo e autor, entre outros, de "A síndrome da antena parabólica: ética no jornalismo brasileiro" (1996) e "As Cartas Ácidas da campanha de Lula de 1998" (2000). ave

quarta-feira, 11 de outubro de 2006

Alckimin e a Segurança em SP

Hoje eu recebi um video de uma reportagem estrangeira entrevistando o Governador do estado de São Paulo sobre a segurança em São Paulo. Vale a pena ver. http://www.youtube.com/watch?v=vsRynm18_Eg

terça-feira, 10 de outubro de 2006

Tortura na Febem-SP continua até em unidades pequenas

E para comemorar o PSDB no governo do Estado de São Paulo por mais, no mínimo, 4 anos, vamos à situação da Febem. E rezemos para não os colocarem também na presidência. pelo amor de Deus!! Tirada do site carta maior

Tortura na Febem-SP continua até em unidades pequena

Ao contrário do que afirma governo de São Paulo, funcionários de unidades consideradas “modelo” também usam da prática de tortura supostamente para manter problemas de disciplina sob controle. Em Bauru, no interior do estado, internos apresentam marcas de violência. Bia Barbosa – Carta Maior São Paulo – O filho do comerciante Silas Aparecido Moreira é uma das vítimas mais recentes do modelo repressivo de tratamento dos adolescentes em conflito com a lei que estão sob a custódia do governo de São Paulo. Com 18 anos recém-completados, ele cumpre medidas socioeducativas há nove meses por tráfico de drogas na Unidade de Internação da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) em Bauru, no interior do estado. No dia 7 de setembro, o adolescente escreveu na lousa da sala de aula “paz, liberdade e justiça”. Por isso, foi acusado de ser membro do PCC. Levado para o castigo, ele apanhou muito. “Bateram tanto no meu filho que ele chegou a urinar sangue. Ele tomou muita pancada no rim e na cara”, conta Moreira. O comerciante procurou imediatamente o diretor da unidade de Bauru, Antonio Alfredo Costela Parras, que lhe garantiu que isso não acontecia ali dentro. “Mas só três semanas depois levaram meu menino pra fazer exames. Claro que, depois desse tempo, não deu nada. O relatório de comportamento do meu filho é bom; ele nunca teve problemas. Agora está sofrendo represálias. Os funcionários que bateram nele estão colocando outros jovens contra ele. Meu moleque está revoltado com o espancamento que recebeu. O diretor disse que vai transferi-lo para Iaras, mas assim eu não vou ter como ver o meu filho”, lamenta Silas Moreira. A denúncia de Silas foi feita na última semana quando um grupo de familiares e funcionários da Febem de Bauru procurou o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), órgão oficial criado pela Constituição do Estado de São Paulo para apurar violações de direitos humanos. Eles entregaram ao Condepe um dossiê com termos de declarações elaborados pela Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Bauru e boletins de ocorrência que descrevem detalhadamente os casos de tortura e abusos envolvendo o próprio diretor da unidade e outros funcionários. Entre as denúncias de tortura, humilhações e abusos estão ocorrências de choques elétricos, espancamentos, trancamento de internos em celas por 75 dias, ameaças de morte, abusos sexuais e o caso de um interno que teve deslocamento de retina após apanhar dos monitores. De acordo com os funcionários que procuraram o Condepe, a Ouvidoria e a Corregedoria da Febem foram comunicadas das ocorrências em fevereiro, mas nenhuma providência teria sido tomada até então. “Nós víamos os meninos marcados, mas ele morrem de medo de falar o que acontece. Em fevereiro as torturas se acentuaram. No dia 12 de abril, eu presenciei o espancamento de dois adolescentes. Eles apanharam tanto que saía sangue pela boca”, contou à Carta Maior Roseli Diccine Mariano, que era coordenadora pedagógica da Unidade de Internação de Bauru. Era ela quem coordenava a rotina dos 72 adolescentes internos. Quando denunciou as agressões, foi destituída de seu cargo e impedida de entrar na administração da unidade. A direção também proibiu outros funcionários de conversarem com ela, depois a transferiu para o atendimento de adolescentes em regime de liberdade assistida. Roseli desenvolveu um quadro de hipertensão e hoje está em licença médica. Ela e outros funcionários que denunciaram as práticas da direção de Bauru foram afastados e se dizem com medo. “Agora, quem é responsável pela rotina dos adolescentes são os funcionários da disciplina, os mesmos que bateram nos meninos. São pessoas sem preparação nenhuma, que estão destruindo a possibilidade de recuperação desses jovens. Isso não é um problema só de modelo; é de abuso, de desrespeito à dignidade humana e de doutrinação, algo muito diferente de educação”, avalia Roseli. “Tenho vergonha, como educadora, de ter que denunciar quem deveria estar do nosso lado na educação dessas pessoas. Quando a gente diz que quer recuperar um jovem da Febem, é para recuperar o país. Não vamos desistir da crença no ser humano. Acredito que há uma recuperação, mas pra isso é preciso seguir o caminho certo. Só que é uma atrocidade o que está acontecendo lá dentro. A gente fica doente de ver o martírio dessas crianças. O ser humano dá o que recebe. Se recebe violência, como vai devolver carinho?”, questiona a funcionária da Febem. O Condepe conseguiu, na última sexta (6), o afastamento de Antônio Parras da direção de Bauru. Antes de assumir o comando da unidade, Parras trabalhou no Centro de Detenção Provisória (presídio) do município e na Corregedoria da Febem. De acordo com as entidades de direitos humanos, ele responde a um processo por desvio de dinheiro público e improbidade administrativa. “Percebe-se que é uma pessoa com “gabarito” para ser da Corregedoria da Febem”, ironiza Ariel de Castro Alves, coordenador estadual do Movimento Nacional de Direitos Humanos e membro do Condepe. “Desde fevereiro os funcionários estão denunciando na Corregedoria o que está acontecendo, sem que se tomem providências. Há uma omissão da instituição neste sentido. Bauru é uma unidade pequena, que deveria ser modelo. Mas o que está acontecendo lá desmonta o argumento do governo de São Paulo de que os problemas estão só nos grandes complexos”, afirma. O programa de governo de Geraldo Alckmin fala, por exemplo, da descentralização do atendimento aos adolescentes em conflito com a lei, com investimentos na construção de pequenos centros para internação e ressocialização. “Essa é uma questão de formação, de impunidade e de corporativismo”, acredita Alves. Em nota de esclarecimento enviada à imprensa, a Febem explica que o afastamento de Antônio Parras foi preventivo, e “visa a dar maior transparências às investigações, que serão feitas pela corregedoria da instituição, sobre as denúncias apresentadas pelos representantes do Condepe à Secretaria Estadual da Justiça e da Cidadania”. Com isso, assume a direção de Bauru a funcionária Juliana Rosa que, até então, dirigia a unidade Rio Novo, na cidade de Iaras, a cerca de 150 km de Bauru. Boas-vindas No final da tarde desta sexta, a nova diretora da unidade de Bauru, Juliana Rosa, recebeu a visita de entidades de defesa dos direitos humanos, que foram até a cidade verificar as denúncias feitas pelos funcionários. O cenário descrito pelos integrantes do Condepe, da Comissão de Direitos Humanos da OAB e do Conselho Tutelar é, além de degradante, assustador. “Os internos vivem ali dentro como se fossem robôs. Têm que andar de cabeça baixa, com as mãos pra trás o tempo todo. Se reclamam de alguma coisa, recebem tapas na cara. Alguns funcionários batem mais do que outros; alguns cospem na cara dos internos. O divertimento deles é mandar os adolescentes rolarem nus no chão. Outros mandam os jovens tirarem a roupa, ficarem de quatro e latirem como cachorros. É a humilhação completa, a permissividade total. Dessa forma você animaliza qualquer ser humano. Me lembrou Abu Graib [presídio do Iraque que ficou conhecido em todo o mundo depois que fotos de cenas de tortura praticadas pelo exército americano foram divulgadas]”, conta Paulo Sampaio, da Associação dos Cristãos para a Abolição da Tortura (ACAT). Na descrição do representante da OAB, Francisco Lúcio França, o local parece um "campo de concentração nazista", onde não se pode sorrir nem expressar o menor sentimento. A unidade conta com quatro celas na chamada “sessão disciplinar”. Ali, os internos são deixados de castigo por longos períodos. A cela não tem entrada alguma de luz. “Os meninos ficam sentados no cimento durante todo o tempo. Às 22h recebem um colchão, que é recolhido às 6h. O lugar parece uma valeta de cemitério. Vimos três internos nessa situação. Um vai ficar de castigo por 30 dias porque trocou a sandália com o irmão durante a última visita. Outro porque desenhou um menino fumando no caderno”, conta Paulo Sampaio. “Um adolescente de 14 anos que já tinha ficado no castigo, ao saber que corria o risco de ir pra lá de novo, tentou se enforcar com uma camisa. Depois levou uma surra porque tentou se matar”, relata. Durante a visita, as entidades pediram para a nova diretora escolher cinco adolescentes aleatoriamente. Ao tirarem a camiseta, todos apresentavam marcas de espancamento. As entidades de direitos humanos solicitarão esta semana ao Ministério Público e ao governo de São Paulo que os internos passem por exames de corpo de delito. A OAB de Bauru tentará entrar na unidade nesta segunda para se certificar de que os internos não apanharam no final de semana em represália ao que disseram durante da visita do Condepe de sexta-feira. De acordo com os internos, a última vez que apanharam de maneira generalizada foi no dia 7 de setembro – mesmo dia em que o filho do comerciante Silas Moreira foi surrado. Mas os adolescentes temem o que os espera neste feriado de 12 de outubro. Já sabem o que pode ser seu presente de Dia das Crianças.

quinta-feira, 5 de outubro de 2006

Chico Buarque: lucidez e coerência

Olá! Não, eu realmente não me posicionei no primeiro turno, mesmo pq, como eu já disse, quem passa por aqui sabe contra quem eu sou. Mas agora está demais! As pessoas – pelo menos os prepotentes paulistanos – fazem questão de ficar ofendendo o Lula de ladrão, falando no PT como se sempre fosse um partido de bandidos. Tudo bem, não posso esperar nada de pessoas que abraçam tudo que a Fátima Bernardes fala, mas pelo amor de deus!! O Lula inventou a corrupção em Brasília agora?? Sem falar nos milhões de e-mails que circulam contra o governo, com sarcasmo e hipocrisia. Debato então com os porucos que chegam defendendo o outro lado,o do Lula e do PT. E tem outra coisa: um povo que vota no Clodovil e no Frank Aguiar não pode falar mal de mais ninguém. Que isso? A honestidade e a lucidez só servem para o Lula agora?? Pelo amor, quem vota nesses caras não tem escrúpulos nenhum!! E olha, não duvido nada se o tucano ganhar as eleições. O paulistano merece. Merece Serra, o caos no Estado, merece cpi´s engavetadas, merece Maluf, merece o cãozinho dos teclados, merece o Clodovil. Aliás, quem sofre as conseqüências disso não merece não. Enfim, aqui vai um texto que recebi por e-mail. Entrevista com Chico Buarque. Bem bom. Té mais

Chico Buarque: lucidez e coerência

A cada uma de suas entrevistas, o compositor e cantor Chico Buarque de Holanda sempre surpreende por sua lucidez e enorme coerência. Agora, no lançamento do seu novo CD, Carioca, ele novamente brilhou ao falar sobre a situação política brasileira. A direita deve ter ficado furiosa, com saudades dos tempos da ditadura militar que o perseguiu e censurou; a esquerda "rancorosa" deve ter ficado ressentida com seus irônicos comentários; já os setores da sociedade que, mesmo críticos das limitações do governo Lula, não perderam a perspectiva, ganharam novo impulso criativo para a sua atuação. Mas é melhor deixar o poeta falar, pinçando trechos das suas entrevistas na revista Carta Capital e no jornal Folha de S.Paulo: Sobre a crise política: É claro que esse escândalo abalou o governo, abalou quem votou no Lula, abalou sobretudo o PT. Para o partido, esse escândalo é desastroso. O outro lado da moeda é que disso tudo pode surgir um partido mais correto, menos arrogante. No fundo, sempre existiu no PT a idéia de que você ou é petista ou é um calhorda. Um pouco como o PSDB acha que você ou é tucano ou é burro (risos). Agora, a crítica que se faz ao PT erra a mão. Não só ao PT, mas principalmente ao Lula. Quando a oposição vem dizer que se trata do governo mais corrupto da história do Brasil é preciso dizer 'espera aí'. Quando aquele senador tucano canastrão diz que vai bater no Lula, dar porrada, quando chamam o Lula de vagabundo, de ignorante - aí estão errando muito a mão. Governo mais corrupto da história? Onde está o corruptômetro? É preciso investigar as coisas, sim. Tem que punir, sim. Mas vamos entender melhor as coisas. A gente sabe que a corrupção no Brasil está em toda parte. E vem agora esse pessoal do PFL, justamente ele, fazer cara de ofendido, de indignado. Não vão me comover... Preconceito de classe. O preconceito de classe contra o Lula continua existindo - e em graus até mais elevados. A maneira como ele é insultado eu nunca vi igual. Acaba inclusive sendo contraproducente para quem agride, porque o sujeito mais humilde ouve e pensa: 'Que história é essa de burro!? De ignorante!? De imbecil!?'. Não me lembro de ninguém falar coisas assim antes, nem com o Collor. Vagabundo! Ladrão! Assassino! - até assassino eu já ouvi. Fizeram o diabo para impedir que o Lula fosse presidente. Inventaram plebiscito, mudaram a duração do mandato, criaram a reeleição. Finalmente, como se fosse uma concessão, deixaram Lula assumir. 'Agora sai já daí, vagabundo!'. É como se estivessem despachando um empregado a quem se permitiu o luxo de ocupar a Casa Grande. 'Agora volta pra senzala!'. Eu não gostaria que fosse assim. Eu voto no Lula! A economia não vai mudar se o presidente for um tucano. A coisa está tão atada que honestamente não vejo muita diferença entre um próximo governo Lula e um governo da oposição. Mas o país deu um passo importante elegendo Lula. Considero deseducativo o discurso em voga: 'Tão cedo esses caras não voltam, eles não sabem fazer, não são preparados, não são poliglotas'. Acho tudo isso muito grave. Hoje eu voto no Lula. Vou votar no Alckmin? Não vou. Acredito que, apesar de a economia estar atada como está, ainda há uma margem para investir no social que o Lula tem mais condições de atender. Vai ficar devendo, claro. Já está devendo. Precisa ser cobrado. Ele dizia isso: 'Quero ser cobrado, vocês precisam me cobrar, não quero ficar lá cercado de puxa-sacos'. Ouvi isso dele na última vez que o vi, antes dele tomar posse, num encontro aqui no Rio. Sobre o PSOL. Percebo nesses grupos um rancor que é próprio dos ex: ex-petista, ex-comunista, ex-tudo. Não gosto disso, dessa gente que está muito próxima do fanatismo, que parece pertencer a uma tribo e que quando rompe sai cuspindo fogo. Eleitoralmente, se eles crescerem, vão crescer para cima do PT e eventualmente ajudar o adversário do Lula. Papel da mídia. Não acho que a mídia tenha inventado a crise. Mas a mídia ecoa muito mais o mensalão do que fazia com aquelas histórias do Fernando Henrique, a compra de votos, as privatizações. O Fernando Henrique sempre teve uma defesa sólida na mídia, colunistas chapa-branca dispostos a defendê-lo a todo custo. O Lula não tem. Pelo contrário, é concurso de porrada para ver quem bate mais.

sexta-feira, 29 de setembro de 2006

Não à Direita

Agência Carta Maior Qualquer que seja o juízo que se tenha do governo Lula – mais ou menos severo nas críticas -, o quadro político está fortemente polarizado entre direita e esquerda. A esquerda pode errar muitas vezes, a direita erra menos. Esta escolheu um mau candidato, mas aponta firme contra quem considera seu inimigo fundamental, hoje representado pelo governo Lula. É uma constatação de fato que constitui o eixo central dos enfrentamentos do campo político no processo eleitoral atual. Não entremos a considerar as razões dessa oposição e dos ataques brutais contra o governo. Sabemos que não é zelo pela ética, porque a direita tolerou, participou e ganhou com todas as maracutaias da ditadura, do governo Collor, do governo FHC e de tantos governos locais. Constatamos sua virulência e seu objetivo de desalojar o governo Lula, apesar da moderação de tantos aspectos desse governo. Trata-se de uma ofensiva contra a esquerda, como fica claro nos temas programáticos centrais da direita: menos Estado, retomada das privatizações (Petrobrás, Banco do Brasil, Eletrobrás, Caixa Econômica Federal, BNDES), menos tributação, corte maior dos gastos públicos, maior abertura da economia, fim das regulações estatais, privilegio das relações externas com o Norte e fim da política Sul/Sul, menos soberania e integração, mais livre comércio e Alca, políticas de segurança pública ainda mais repressivas, tratamento duro com os movimentos sociais. Caso venha a ganhar o candidato tucano-pefelista, ninguém, no campo da esquerda, dos movimentos sociais, do campo popular e do pensamento crítico, será poupado da sanha direitista que se apossou da elite brasileira, ninguém deixará de sofrer direta e indiretamente os efeitos dessas políticas, inclusive no seu aspecto criminalizador dos movimentos sociais e diretamente repressivo. Não bastasse os apelos a Carlos Lacerda, as comparações com Watergate, o editorial da FSP (“Degradação”) de domingo passado é parecido com o do Correio da Manhã (“Basta”) nas vésperas do golpe de 1964 (foi taxado, corretamente, de lacerdista por Luis Nassif). Querem criar um clima de agosto de 1954 – com CPIs funcionando de “República do Galeão” -, de março de 1964 – deslegitimando governos e preparando o impeachment, caso a vontade popular uma vez mais se volte contra eles. Era a direita unificada, como há muito não se via – praticamente todo o grande empresariado, a totalidade da grande mídia privada monopolista , todos os partidos da direita e outros que um dia não eram de direita, aderidos ao bloco tucano-pefelista, unidos na mesma campanha contra a candidatura de Lula. Como não podem ganhar no primeiro turno, seu objetivo hoje é chegar ao segundo turno, contando com os votos de todos que não votem por Lula. E criar aí um clima de virada, com todo o contexto de terror, apoiado na unanimidade monopolista da grande mídia privada, valendo-se de todos os métodos de manipulação de que tem se mostrado capaz, seja na maquiagem de pesquisas, seja na editorialização absoluta dos noticiários e no uso brutal do poder que sua mídia monopolista pode ter a favor do seu candidato – Alckmin, do bloco tucano-pefelista. A esquerda tem que mostrar agora que sabe distinguir os campos de enfrentamento, mais além das diferenças que têm. A esquerda que não distingue o campo e os movimentos da direita, não é esquerda, se perde nos ataques dispersos a outros candidatos do próprio campo da esquerda e acaba perdendo seu próprio caráter de esquerda. A esquerda tem que demonstrar, diante dessa feroz ofensiva da direita, que sabe colocar em prática uma política de frente única, que não confunde inimigos estratégicos com aliados táticos, que sabe distinguir as linhas de divisão das contradições irreconciliáveis entre direita e esquerda. Não abrir mais flancos ao inimigo – ademais dos graves erros cometidos pelo PT – e aparecer firmemente unida numa frente anti-direitista, que fortaleça a esquerda, que aponte para seus inimigos fundamentais – o neoliberalismo, a hegemonia imperial estadunidense, o monopólio midiático. Contra o poder do dinheiro, das armas e da palavra – pilares do poder no mundo atual e inimigos fundamentais da esquerda. Para poder, no dia seguinte da derrota imposta à direita, trabalhar para recompor a esquerda, formulando projetos democráticos, populares e soberanos para o Brasil, mobilizando o pensamento crítico do país e os movimentos sociais, políticos e culturais – que constituem o eixo e a força maior da esquerda. Para pressionar o novo governo, para que caminhe na direção efetiva de superação dos três obstáculos maiores com que se enfrenta a esquerda, no Brasil, na América Latina e no mundo: os monopólios do dinheiro, das armas e da palavra. Que trabalhe de forma concentrada e unificada pela substituição do modelo econômico por um outro, centrado em metas sociais e não econômico-financeiras; que retome um projeto de desenvolvimento acelerado centrado na expansão do consumo popular; que realize plenamente a reforma agrária, promova centralmente a economia familiar e a política de segurança alimentar, em oposição aos modelos centrados na exportação e nos trangênicos; que consolide e expanda os processos de integração regional e no Sul do mundo; que trabalhe decididamente pela democratização dos meios de comunicação, que inclua da legalização e o incentivo das rádios comunitárias, ao fortalecimento das mídias públicas e das alternativas, que retome fortemente a implementação dos softwares alternativos – entre tantas outras demandas da esquerda e dos movimentos sociais. Mas, antes, saber unir-nos e mobilizar-nos para barrar a ofensiva da direita radicalizada, que é o elemento mais característico da fase final da campanha presidencial, derrotá-los já no primeiro turno, demonstrando que a esquerda sabe reconhecer seus inimigos, sabe reunir forças para derrotá-los, porque nenhum setor de esquerda, do campo popular, dos movimentos sociais e do pensamento crítico ficarão imunes a uma eventual vitória do bloco tucano-pefelista – inimigo fundamental da esquerda. Trata-se assim, nesta reta final da campanha, de ganhar os votos suficientes para consolidar a vitória no primeiro turno, para frear o ímpeto terrorista da direita e abrir os espaços para a recomposição da esquerda, que permitam formular um projeto de nação democrática política, social, econômica e culturalmente, fazer com que a esquerda retome, de forma unificada, a iniciativa e coloque com força seu objetivo fundamental – um Brasil posneoliberal. Não à direita, não a seu projeto de terror e manipulação midiática, de tentar impor um segundo turno de vale-tudo entre direita e esquerda. Derrotar a direita com a força do povo e da unidade da esquerda.

quarta-feira, 13 de setembro de 2006

Morre Cel. Ubiratan

Pois é, como a vida é engraçada... Assassinaram o assassino de, no mínimo, 111 pessoas. E o povo lamenta. Se fosse qualquer um dos que estão enlouquecendo dentro das prisões do Estado, estariam aplaudindo. Êta discursinho mais cretino!! Tenho lido algumas coisas sobre a morte dele no orkut. Vi o perfil dele, aliás. E o povo o aplaude. Como pode? Bom, pelo menos a justiça que ele acreditava foi feita. Um bandido foi morto - ele, no caso. E o engraçado é que a suspeita da polícia é de crime passional. No começo, eu duvidei, mas o modo como ele foi assassinado meio que exclui a possibilidade de execução. Mas que ele demorou para ser assassinado, demorou. Não sei por que não acertaram ele antes. Quer dizer, não sei como deixaram ele vivo por tanto tempo, depois do que fez. E não sei também como é que as pessoas votam num cara desse!! E eram capazes de votar de novo! Claro que não estou defendendo o assassinato do cara, né, do mesmo jeito que não defendo a morte para ninguém que tenha cometido um crime. Por que ele não era nada além disso: um criminoso. Que deveria ser punido como todos os outros. E para ele, a justiça "dos homens" não valeu. Foi considerado um homem de bem, um bem feitor para a sociedade paulista. Pode?? Isso no mínimo me dá ódio! Nunca fiz isso antes, mas não vou postar texto algum, além desse meu desabafo. Mesmo por que ainda não foi publicado nada além de relatos do crime. E eu achei que essa notícia não podia faltar aqui, por que quando ele foi absolvido, postei o caso. E se aparecer alguma coisa boa, eu posto. boa semana a todos e até mais!! (espero que os que tentaram ver os filmes do post passado tenham conseguido)

sexta-feira, 1 de setembro de 2006

Links de Filmes

Oláááá!! Nossa, fiquei até emocionada com o recado deixado no post anterior, de que eu ajudei no trabalho de seu filho. Que bom, isso até estimula a gente a postar mais e mais coisas. Bom, hoje eu vou dar links de dois documentários óóótimos. Háoutros, mas eu não estou achando na internet. Que droga! Bom, o primeiro chama-se Ilha das Flores. É sobre a qualidade da alimentação - ou a falta dela. No começo, é até irônico. Depois vem a bomba. Acaba sendo até pesado. O outro, Muito Além do Cidadão Kane, é sobre a Globo e seu poder na vida das pessoas e no país. É um pouco velhinho, mas atualíssimo. Bem bom também. Bom, o primeiro é um link de um site de curta metragens. Já o outro, é no youtube (já que em outros lugares, como no google vídeos, demora uma eternidade, mesmo com banda larga), dividido em três partes. Demora um pouquinho, mas dá para esperar e ver. Bom, para os com internet discada (como lá em casa), vai ser demoradíssimo. Mas acho que dá para deixar os filmes gravando e ir comer, tomar banho, passear, para depois vê-los. Bom, é isso. Bom fim de semana a todos (memso com friozinho q está em São Paulo) e até mais!! Muito alem do Cidadao KANE - parte1 Muito alem do Cidadao KANE - parte2 Muito alem do Cidadao KANE - parte3 Muito alem do Cidadao KANE - parte4 Ilha das Flores

terça-feira, 22 de agosto de 2006

Futuro da democracia no México é imprevisível, dizem analistas

Bom, anda meio difícil encontrar reportagens boas, nessa época de eleição... Todos parecem - e são - tendenciosos. Como não quero influenciar o voto de ninguém, já que quem passa por aqui sabe - e no mínimo concorda - da minha posição política. Podem não saber em quem vou votar, mas sabem em quem eu NÃO vou. Enfim, está difícil encontrar reportagens para postar aqui. Hj achei uma sobre a crise política no Mexico, a respeito das eleições ditas fraudadas pela oposição e que tranformaram o México "numa autêntica panela de pressão social". Há quem acredite até que a democracia está em jogo. Vamos lá então! E té mais!

Futuro da democracia no México é imprevisível, dizem analistas

Demora na definição do impasse sobre eleição presidencial pode causar convulsão social, avaliam intelectuais mexicanos. Convenção da esquerda e dos movimentos sociais, em setembro, vai definir rumos da luta. Maurício Thuswohl – Carta Maior Rio de Janeiro – Os desdobramentos da crise política do México são imprevisíveis e o impasse eleitoral que paralisa o país há mais de um mês pode se transformar numa convulsão social sem precedentes na história mexicana. Essa foi a opinião unânime dos intelectuais mexicanos que participaram na segunda-feira (21) do painel que discutiu a atual situação do México e abriu na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) os debates da IV Conferência Latino-Americana e Caribenha de Ciências Sociais, promovida pelo Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso). Sob o sugestivo título “Uma democracia em perigo”, os expositores mostraram durante o painel que o clima na esquerda e nos movimentos sociais mexicanos é de tensão crescente desde as eleições presidenciais de 2 de julho, que ainda não têm vencedor confirmado pelo Instituto Federal Eleitoral (IFE). Inicialmente apontado como vitorioso por uma margem pouco maior que meio ponto percentual _ equivalente a 236 mil votos _ num pleito que teve dois milhões e meio de votos anulados pelo IFE, o candidato da situação Felipe Calderón (Partido Ação Nacional, PAN), teve sua vitória contestada pelo segundo colocado, Andrés Manuel López Obrador (Partido da Revolução Democrática, PRD). As mobilizações de rua iniciadas desde então pelos que acusam o IFE de fraude e o impasse acerca da recontagem dos votos transformaram, segundo os debatedores, o México numa autêntica panela de pressão social. “A percepção de que houve fraude eleitoral com a participação de órgãos federais agravou profundamente a insatisfação das pessoas que querem um México com instituições eleitorais novas e fortes e onde exista uma cidadania com direitos”, afirmou Lucio Oliver, que é coordenador da pós-graduação em Estudos Latino-Americanos da Universidade Autônoma do México (Unam). Ele acredita que a tensão social tende a se exacerbar: “Se não houver uma solução para o impasse eleitoral, poderemos estar iniciando uma crise que vai durar muitos anos. Será uma luta, e seus resultados são imprevisíveis. Já existem rumores de que a ultradireita começa a se armar”, disse. Também professora da Unam, Maria Elvira Bórques contou que informações obtidas pelos movimentos sociais e pelo PRD dão conta de que, se computadas as urnas impugnadas, López Obrador venceria Calderón por cerca de 250 mil votos, invertendo a vantagem hoje creditada ao candidato da situação: “Não sabemos como o IFE vai se comportar, mas, se for mantida a vitória de Calderón, o México deve começar a viver um período de grandes mobilizações populares, com a realização de um conjunto de ações de resistência civil”, disse. Os rumos desse movimento, segundo Maria Elvira, serão decididos na Convenção Nacional Democrática, evento organizado pelos movimentos sociais e pelos partidos de esquerda que acontecerá em 16 de setembro, dez dias após o prazo final estipulado pelo IFE para anunciar definitivamente o novo presidente mexicano. Ajuda federal O principal motivo da revolta da parte mais esclarecida da população mexicana, segundo os debatedores, é o papel desempenhado pelo IFE e a clara associação do supremo órgão eleitoral às elites políticas e econômicas que detiveram o poder no México por 72 anos com o PRI (Partido Revolucionário Institucional) e continuaram mandando no país depois da eleição do atual presidente, Vicente Fox (PAN), em 2000: “Um instituto do Estado, o principal órgão eleitoral do México, teve uma atuação absolutamente parcial e interveio no sentido de apoiar o candidato da direita. Esse episódio mostrou a falta de compromisso da direita mexicana com a democracia. Democracia, para a direita mexicana e os órgãos que ela controla, só quando o quadro político lhes é favorável”, afirmou Lucio Oliver. O economista Gregorio Vidal lembrou que o IFE alimentou desde a vitória de Fox em 2000 a impressão de que teria se tornado mais moderno e eficaz, imagem que ruiu na última eleição: “Foi a primeira vez que o IFE coordenou eleições sem que o presidente em exercício fosse do PRI, mas a impressão de eficácia foi embora assim que a população percebeu a repetição das velhas práticas de fraude e favorecimento ao candidato oficial”, disse. Vidal foi além, e garantiu que a Suprema Corte de Justiça também “tem apresentado um comportamento bastante peculiar” desde antes das eleições: “Um dos juízes questionou o artigo 97 da Constituição Mexicana, justamente o que faculta à Suprema Corte o direito de intervir em caso de irregularidade no processo eleitoral. O artigo foi considerado pelo colegiado como anacrônico e inaplicável logo antes das eleições”, contou. Regime em xeque A crise atual, segundo os debatedores, foi a gota d’água que fez transbordar o cálice da insatisfação popular mexicana com a direita tradicional e o regime político vigente no país há quase um século: “Mesmo com a derrota do PRI em 2000, o que ocorreu com a chegada de Fox e do PAN ao poder foi apenas uma troca de estafeta e a manutenção do mesmo projeto político neoliberal. Desde então, constituiu-se no país uma oposição muito forte a esse modelo. Esse sentimento se agravou com a campanha suja que os partidos de direita e a mídia conservadora fizeram contra López Obrador e ganhou as ruas depois que foi organizada esta fraude sofisticada e meticulosa com a ajuda do órgão que deveria impedi-la. Agora, a sociedade quer não somente que não se permita a fraude, mas também que não continue esse modelo”, disse Maria Elvira Bórques. Fundadora do PRD, Ifigenia Martinez lembrou que Fox assumiu o poder com a missão de fazer a transição democrática, mas nada realizou nesse sentido nos seis anos de seu mandato: “Esperávamos o câmbio democrático, mas Fox não cumpriu o que prometera. O México continua dependente de outros países e dominado por um pequeno grupo concentrado no Banco do México e no Ministério da Fazenda. Agora, o povo quer mudanças, e as forças democráticas têm maioria”, avaliou. Gregorio Vidal disse acreditar que, devido a esse esgotamento do regime que governa o país há oito décadas, a sociedade mexicana não vai aceitar que o IFE declare a vitória de Felipe Calderón nos moldes atuais. Para ele, na pior das hipóteses, as eleições deveriam ser anuladas: “Qualquer decisão que não limpe esse processo eleitoral será um sério problema para a democracia mexicana. A democracia, no México, ainda é uma tarefa pendente”, resumiu. fonte: Agência Carta Maior

quinta-feira, 10 de agosto de 2006

Atlas Econômico SP/ “Política do encarceramento” faliu sistema prisional de SP

Gente, desculpa o imenso sumiço. Trabalhei como um jegue na semana passada e retrasada, para terminar, finalmente, o Atlas Econômico do Estado de São Paulo, aqui do Seade. Bom, a Ana Carolina perguntou onde comprar o especial da Caros Amigos do PCC. Estava nas bancas há umas semnaas atrás. Tem que ver se alguma ainda tem. Se não, pergunta para o jornaleiro o que fazer para conseguir. Os ataques em São Paulo continuam. De ontem para hj melhoraram, mas no começo da semana as coisas apertaram de novo. Só que parece que não estão surtindo efeito. Nenhum efeito. Nem as reivindicações dos que atacam nem da "sociedade". Estive pensando... se os caras começarem a achar isso também, podem pensar que é melhor mudar a estratégia de reivindicação. E passar a matar civis. Já me disseram que isso não lhes é viável, por que terão uma reprovação muito grande. E a polícia iria reprimir mais ainda. Mas eles já mudaram de estratégia, pararam de matar policiais, talvez por causa das chacinas que tivemos como resposta da polícia. Então, perceberiam que somente a violência contra a pessoa comove. Mas contra a pessoa que os reprime diretamente, não dá, pq a resposta é muito dura. Viria daí a violência contra os civis. Sabe, eu espero profundamente que eles não sigam esse meu raciocínio. Se bem que já atacaram um poupa-tempo, às oito e meia, segundo a Folha, horário de funcionamento. Mas parou por aí – ainda bem, né?! Hoje eu encontrei um texto que vai no cerne da causa do surgimento e ascensão do PCC. A violência e o descaso nos presídios e as negociações do Estado com as organizações. Para quem ainda não sabe, o PCC surgiu no presídio de Taubaté, por um time de futebol no qual estavam um cara que tem uma fratura no crânio até hoje devido aos espancamentos com canos de ferro neste presídio. O jogo começou com esse cara quebrando o pescoço de outro. Também, um cara que, no mínimo, apanha desse jeito, esperamos o que? Bom, vamos ao texto, né?! Que escrevi demais já. E té mais – e espero que esse mais seja mais curto.

“Política do encarceramento” faliu sistema prisional de SP

Drama dos detentos de Araraquara (SP), que continuam submetidos a condições desumanas de alojamento, é um dos reflexos da política adotada em São Paulo há muitos anos tanto pelo Executivo como pelo Judiciário. Bia Barbosa – Carta Maior do site da Carta Maior São Paulo – Terça-feira (18), representantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), Central Geral dos Trabalhadores (CGT), Central Autônoma dos Trabalhadores (CAT) e da Social Democracia Sindical (SDS) se reuniram com o governador Cláudio Lembo e apresentaram ao Estado propostas para a crise da segurança pública em São Paulo. Entre os eixos de ação propostos pelas centrais sindicais estão a adoção de políticas públicas que ofereçam à juventude qualificação profissional, saúde, educação e lazer; a melhoria das condições de trabalho e salário dos funcionários do sistema prisional e das polícias; e a criação de mutirões nos presídios para fazer um raio-x da verdadeira situação da população carcerária de São Paulo. O governador Lembo teria demonstrado “simpatia” pelas propostas, mas ressaltado que os problemas da segurança pública são complexos e difíceis de serem resolvidos prontamente. Nenhuma surpresa neste sentido. Com uma população carcerária que cresceu de forma linear na última década, saltando de 56 mil em 1994 para 143 mil em 2006, somando os detentos sob responsabilidade da Secretaria de Administração Penitenciária e da Secretaria de Segurança Pública, São Paulo enfrenta uma das situações mais complexas do país. Os problemas vão da permanente superlotação das unidades a deficiências gritantes no atendimento médico e psicológico dos presos, passando pela ausência de oferta de trabalho e educação dentro dos presídios e por maus-tratos e torturas. No dia 10 de maio deste ano, durante uma visita à Cadeia Pública de Jundiaí, na Grande São Paulo – onde dez presos morreram durante uma rebelião em março –, a Acat (Associação dos Cristãos para a Abolição da Tortura) ouviu uma série de denúncias dos detentos. De acordo com o documento divulgado pela entidade, depois da rebelião quase todos os presos foram espancados. Com três deles, a reação foi mais dura ainda: “Alan foi baleado na boca e teve as juntas dos braços e pernas quebradas. Edi Carlos teve suas coxas e nádegas comidas por cachorros. Anderson, com várias marcas de espancamento com barra de ferro e mordidas de cachorros. Os familiares destas vítimas foram ameaçados caso denunciassem as condições dos cadáveres”. No Centro de Detenção Provisória do Belém, na capital paulista, a situação de degradação não é diferente. “Meu irmão ficou sete meses preso esperando para ser julgado. Lá dentro, teve problema de coceira e sarna. Eles tomavam muito banho, mas como dormia todo mundo junto, 32 onde só cabiam 12, não tinha jeito. O presídio fica do lado do rio Tietê, então tinha muito rato. À noite, eles fechavam os buracos no chão [onde são feitas as necessidades fisiológicas] para os ratos não subirem. O mal cheiro era muito grande”, contou A.S. à equipe da Carta Maior. De acordo com o relatório sobre o sistema prisional brasileiro da Comissão de Minorias e Direitos Humanos da Câmara Federal, o princípio da dignidade humana é condição indispensável para que o sistema prisional exerça sua função. “O que se pode esperar de um ser humano – que não perde essa condição a despeito de ter cometido crime, amontoado em masmorras fétidas, submetido à tortura, a toda a sorte de humilhações e maus-tratos, transformado em refém do crime organizado? Que exemplo a sociedade e o Estado estamos dando aos presos se não respeitamos seus direitos fundamentais e lhe negamos acesso à justiça?”, questiona o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, presidente da Comissão. Para Greenhalgh, é preciso desmistificar as falsas soluções no sentido de recrudescer as normas de cumprimento de penas. Ele acredita que agravar penas e reduzir idade penal, impor castigos cruéis, aplicar de forma indiscriminada a Lei dos Crimes Hediondos – igualando os delinqüentes de crime único aos de alta periculosidade – são medidas que têm sido empregadas sem sucesso. “Pelo contrário, o Estado de São Paulo, que vem se orientando nos últimos anos por essa política regressiva, é o Estado com a mais explosiva situação prisional de todo o país, tanto nas unidades para adultos quanto nas de internação de adolescentes da Febem, reprovadas por diferentes instituições internacionais de direitos humanos”, avalia. Penas alternativas O drama dos detentos de Araraquara, no interior do Estado, que continuam submetidos a condições desumanas de alojamento depois que todo o presídio foi destruído durante uma rebelião, é um dos reflexos da política adotada em São Paulo há muitos anos tanto pelo Executivo como pelo Judiciário. Na origem da rebelião que acabou com a unidade no mês passado está o problema da superlotação do centro, fruto de uma linha política de construção desenfreada de presídios e de um conservadorismo do Judiciário que não utiliza, como poderia – e deveria –, as medidas alternativas de punição a criminosos. Em Araraquara, 400 pedidos de benefícios estão parados na Vara de Execução Penal. Segundo a Ordem dos Advogados do Brasil no município, cerca de 50 livramentos condicionais poderiam ser concedidos, e pelo menos 100 pessoas poderiam estar fora desta situação. “O que se fez em São Paulo é uma bomba relógio. Você concentra recursos na construção de unidades prisionais, multiplica o número de presos pelo estado e submete-os a uma política que não vai levar à recuperação. Ali, todos estão reunidos num mesmo espaço, presos de alta periculosidades e criminosos primários. Isso é um ambiente “criminógeno” em si”, acredita José Marcelo Zacchi, coordenador institucional do Fórum Nacional de Segurança Pública. “Parte dessa população, se tivesse assistência judiciária, poderia fazer jus a benefícios ou estar liberada. Além disso, é preciso dedicar parte dos recursos a uma rede que possa cuidar das penas alternativas e absorver essas pessoas. As duas coisas têm que ser feitas em equilíbrio”, acredita. A ênfase desmensurada na construção de presídios de regime fechado, sem investimentos no semi-aberto, em penas alternativas e em oficinas de trabalho para absorver os egressos do sistema prisional também é criticada pelo deputado estadual Renato Simões, ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos, relator da CPI do narcotráfico e membro da Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa de São Paulo. “O governo se preocupou muito com a porta de entrada e pouco com a porta de saída dos presídios. Com isso, a progressão de regime e a ressocialização dos presos não foram asseguradas. Assim, o número de presos que entram supera muito o que sai, e a qualidade dos presos que saem não foi alterada por uma política de ressocialização”, afirma o deputado. “O Estado falha, deste jeito, ao negar direitos fundamentais aos presos, que depois são assegurados como privilégios apenas ao membros do PCC. Quem é inimigo do PCC dentro dos presídios morre, mas quem é amigo tem advogado, acesso aos poucos postos de trabalho, a celas menos lotadas. Fica inviável, então, administrar presídios quando os direitos fundamentais são garantidos a poucos e sob a chancela de grupos criminosos. O que o Estado precisa deixar claro para o preso é que ele tem opção no Estado, e hoje ele não tem. Só na facção”, afirma Renato Simões. Organizações da sociedade civil criticam ainda uma mudança na política estadual ocorrida no final da década de 90, quando o governo teria passado a fazer acordos com lideranças das facções criminosas – o que é negado pelo Executivo – para que elas mesmas se responsabilizassem pela disciplina dentro das unidades. “Em vez de garantir direitos coletivos, é muito mais fácil para o Estado tratar alguns líderes com regalias, que muitas vezes até são direitos, mas que dentro de um sistema de tanta carência se tornam regalias. Assim, estabelecem um sistema de auto-gestão, onde os presos se auto-governam, mantêm a disciplina dos demais. Assim, o governo acabou fortalecendo a liderança dessas facções criminosas, acabou estruturando cada vez o crime organizado nos presídios, exatamente para manter essa política de aparência. Uma aparente calmaria mantida através de acordos entre os governos e as lideranças”, diz Ariel de Castro Alves, coordenador estadual do Movimento Nacional de Direitos Humanos. “Antes de 2000, quem fazia a interlocução entre governo e presos, em prol de direitos coletivos e do cumprimento da lei de execuções penais, eram as entidades de direitos humanos, principalmente a Pastoral Carcerária. Depois de 2000, o governo começou a fazer reuniões e discussões diretamente com as lideranças sistema prisional, e assim as reconheceu e fortaleceu, estabelecendo também acordos para que garantissem a disciplina e a auto-gestão dos presídios”, explica Alves.

quarta-feira, 19 de julho de 2006

Caros Amigos - especial PCC

Bom, essa semana eu vou fazer uma coisa que nunca fiz aqui. Aconselhar às pessoas a lerem algo fora daqui. Por que o post da semana passada, o depoimento do Marcola, deu a visão de um lado do caso. Falta então os outros lados - dos presos e da polícia. Lados estes que a Revista Caros Amigos, em uma edição especial sobre o PCC. Fala das condições - internas nos presídios e pólíticas - que ocasionaram sua gênese e seu crescimento, das relações e disputas de poder internos, do lado ruim e do lado bom do seu poder dentro das cadeias, das estranhas relações entre o PCC e policiais, entre várias outras coisas. Há uma entrevista com o delegado Ruy, citado como corrupto por Marcola. No decorrer da reportagem e no histórico do grupo e das ações do PCC, são citados muitos nomes ditos na CPI das armas. Dá para entender melhor a complexa rede de relações envolvidas. Há também o Estatuto do "partido", como o chamam. A revista foi publicada com as informações levantadas, de todos os grupos envolvidos, desde janeiro deste ano, por João de Barros. Custa 4,99 reais - informação importante. Para quem se interessou e leu, pelo menos um pouco, o depoimento de Carlos Camacho, vale muito a pena ler a revista. Até mesmo para não idealizar as ações do PCC e do Marcola. E até mais!!

quinta-feira, 13 de julho de 2006

Depoimento de Carlos Camacho à CPI do Narcotráfico

Eu estava lendo o depoimento do Marcola para a CPI do tráfico de armas. Pena que é tão grande (205 páginas!!). Ele fala das organizações dentro dos presídios, das regras de convivência que eles próprios criaram lá dentro, de como eles são tratados dentro dos presídios - que vai inclusive de encontro com o relatório da Pastoral Carcerária publicada aqui outro dia. Ah, ele fala também da corrupção dos policiais, do que a mídia transformou ele, e até dos atentados e rebelões que aconteceram e que continuam acontecendo em São Paulo (e que foram a eles atribuídos). Fala que o PCC surgiu para reivindicar os direitos dos presos, e que sua metodologia é Leninista e Maoísta. Discute até esses métodos com os deputados!! Enfim, óótimo o depoimento. Tem que ler!! Corre lá!! É grande, mas vale a pena ler até cansar (o que fica meio difícil)!! Na íntegra, Depoimento de Carlos Camacho à CPI do Narcotráfico Ah, a fonte: blog do Josias, na Folha de São Paulo.

terça-feira, 11 de julho de 2006

Avaliação da Coordenação da Pastoral Carcerária SP sobre o Sistema Prisional

(link) São Paulo, 19 de junho de 2006 O Estado de São Paulo vive hoje o clima do pós-rebeliões, do pós-confronto do crime organizado contra os policiais, do pós-confronto da policia com os membros da Facção criminosa PCC e do pós-confronto da violência com as vitimas inocentes. Enquanto isso as penitenciárias e cadeias do estado continuam a aumentar a sua população e a violência nas ruas e nas cadeias: com mortos e feridos continuam. Como a pastoral Carcerária entende as rebeliões, suas causas e como a sociedade, o Estado e os poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário podem contribuir para evitar as rebeliões e trabalhar a reintegração da pessoa aprisionada. Causas: 1-) As prisões utilizadas como forma de segregação social. O aprisionamento tornou-se expediente utilizado para reafirmação inconsciente da exclusão social. Reflexo e prova disso é a população carcerária, formada em sua maioria por jovens de baixa escolaridade, provenientes dos berços da pobreza. 2-) Superlotação. O Estado de São Paulo conta, hoje, com 144 unidades prisionais ligadas a SAP e 223 cadeias publicas sob a responsabilidade da SSP. A população que superlota as unidades esta distribuída em 142.451 na SAP e 17.008 na SSP. Tais números representam um déficit de 32. 000 vagas, ou seja, seria necessária a construção de mais de 45 presídios com capacidade para 700 presos, para que o problema da explosão demográfica prisional fosse sanado. Podemos observar que, na maioria dos casos, a Justiça prende e abandona. É notório que a agilidade da polícia e do Poder Judiciário no tocante ao aprisionamento é inversamente proporcional aos esforços envidados à soltura dos presos. Centros de Detenções Provisórias (CDPs), Penitenciárias e carceragens policiais superlotadas, principalmente no interior do estado e nas cadeias femininas, comprovam essa colocação. 3-) Oposições no âmbito municipal. Câmaras de vereadores, prefeitos, associações, igrejas, etc. criam obstáculos à construção de novas unidades prisionais, agravando ainda mais a situação de excedente populacional já insustentável. Os poderes públicos locais contestam, não aceitam a construção de penitenciárias e de CDPs em seus municípios. Em confirmação ao que se disse no item 1 deste texto, não aceitam nem que os seus próprios cidadãos fiquem presos em suas cidades. Quanto mais longe dos olhos dos munícipes a desgraça humana estiver enjaulada, melhor. Soma-se a isso o fato de que são construídas e inauguradas unidades prisionais sem condições plenas de funcionamento, com quadro de funcionários insuficiente, desprovidas de técnicos, especialmente em relação à saúde, assistências social e judiciária, e em péssimas condições de alojamento. 4-) Exposição dos funcionários do Sistema Prisional a condições de trabalho precárias. São muitas as exigências e responsabilidades, o que não corresponde a uma adequada valorização. 5-) Ausência das entidades sociais no interior do Sistema, salvo participação isolada de algumas entidades. A população “livre” vira as costas para seus aprisionados. Mais uma vez a segregação social se faz presente. 6 -) Inspeção e fiscalização do Sistema Prisional. Os organismos responsáveis pela fiscalização e inspeção nos presídios em nosso estado, de acordo com a Lei de Execução Penal, são, na sua maioria, omissos e descomprometidos. Em parte, isso se deve ao fato e não sofrerem nenhuma cobrança da sociedade ou das autoridades competentes. É comum tais organismos se fazerem presentes somente nos momentos de rebeliões ou de motins, ignorando sua função preventiva: a) Juizes da Execução Penal. De acordo com o artigo 66, inciso VII, da LEP, os juízes deveriam realizar visitas mensais aos presídios sob sua responsabilidade, a fim de fiscalizar as unidades e verificar as necessidades dos presos. Infelizmente esta prática é quase inexistente. Há poucos exemplos positivos, de juizes estão visitando as unidades prisionais. b) Ministério Púbico. O artigo 68, parágrafo único, da LEP, exige do Ministério Público o mesmo dever dos juízes de visitar mensalmente. Lamentavelmente, verificamos a mesma ausência; c) Conselho Penitenciário. Os artigos 69 e 70 da LEP o definem como um órgão consultivo e fiscalizador da execução da pena com responsabilidade de visitas periódicas às unidades; d) Conselho da Comunidade. Poucas são as comarcas do nosso estado em que foram instalados os conselhos da comunidade e mais raras ainda são as que possuem conselhos em efetivo funcionamento. e) Conselho Nacional de Políticas Criminais e Penitenciárias (CNPCP). Localizado em Brasília, tem também a atribuição de visitar os locais de detenção, artigo 63 da LEP. Mas para isso depende da provocação de grupo estadual ou entidade que solicite sua presença em determinada unidade, o que raramente ocorre; 7) O Legislativo estadual até o momento não aprovou a Lei Penitenciária Local, exigência da Lei de Execução Penal, deixando o sistema penitenciário dependente de normas administrativas emanadas das secretarias estaduais, as quais atuam de acordo com a conveniência administrativa, o que nem sempre respeita os princípios do Estado Democrático de Direito. A criação do RDD e RDE basta para recordar; 8) Até o momento não temos Ouvidoria da Secretaria da Administração Penitenciária (ou do sistema prisional) instituída por lei. A Pastoral Carcerária junto com outras entidades já enviou uma carta ao Governador assinada por várias entidades para que ele encaminhe ao Legislativo proposta de Lei da Ouvidoria. A atual é fruto também de norma administrativa, se o próximo secretário entender que não mas deva existir, ela será extinta. 9-) As lacunas deixadas pelo Estado, pelos órgãos responsáveis pela aplicação integral da Lei de Execução Penal, possibilitam o desenvolvimento de organizações criminosas, suprindo as necessidades, a seu modo, da população carcerária extremamente carente. A forte atuação das facções no sentido de valorização do indivíduo com auto-estima deficiente, à margem da sociedade, tornando-o parte de um grupo maior, dotado de “ideais” e objetivos, transforma a “filiação” em algo praticamente irresistível. 10-) O conjunto de irregularidades do Sistema Prisional representa contundente violação do princípio constitucional da dignidade humana, destruindo gradativamente a personalidade do indivíduo. Não seria exagero classificar o cumprimento das penas privativas de liberdade, nas condições em que se apresentam em nosso país, como tratamento cruel, desumano e degradante, proibida constitucionalmente. 11-) A estigmatização do preso e a escassa perspectiva de reintegração efetiva à sociedade, causadas pelo preconceito social de que é vítima, contribuem diretamente para os altos índices de reincidência, bem como para a postura desprovida de esperança para o apenado; 12 – Os Conselhos previstos na LEP (CNPCP, Conselho Penitenciário e Conselho da Comunidade) são submetidos ao poder público. Sua instituição e nomeação de seus membros ainda dependem de autoridades. O CNPCP do Ministro da Justiça, o Conselho Penitenciário do Governador e o Conselho da Comunidade do Juiz, em contraste com outros conselhos, como do ECA, onde vigora o princípio da democracia participativa; 13 – O Congresso Nacional até o momento não ratificou o Protocolo Facultativo à Convenção da ONU contra a Tortura. Este Protocolo permitirá a criação de mecanismos eficazes de prevenção à tortura. Conseqüências imediatas das rebeliões: Mortes, reféns, desespero dos familiares, angústia e impotência dos funcionários, difícil recuperação dos envolvidos nas rebeliões. Tanto presos, como agentes de segurança, carcereiros e familiares, gastos exorbitantes pelo Estado com as reformas dos presídios destruídos atrasa os benefícios e a construção de presídios novos. Propostas: 1-) Criação e fomentação dos Conselhos da Comunidade em todas as Comarcas do Estado de São Paulo, conforme manual do Depen – Ministério da Justiça. 2-) Audiências públicas municipais para a criação de unidades prisionais. É certa a necessidade da construção de mais escolas, áreas de lazer, ginásios esportivos, pólos culturais, entre outros estabelecimentos de suma importância para a sociedade, mas não podemos ignorar a existência dos presos. Negar esta realidade é a pior atitude a ser adotada. Ela existe e precisa ser debatida com a população, a fim de possibilitar a reinserção social do aprisionado. Para tanto, há a necessidade de que o detento permaneça em sua cidade, próximo dos seus e contando com o apoio técnico-social de sua comunidade. 3-) Criação de unidades pequenas, localizadas dentro da unidade territorial do município, a exemplo dos CRs, os Centros de Ressocialização, unidades modelo que contam com a participação ativa da comunidade local. 4-) O Estado, junto com o governo municipal, criar a infra estrutura necessária, em termos de saúde publica, assistência social e hospedagem para abrigar a demanda proveniente dos presídios sem prejudicar a população local. 5-) Contatar e desafiar juízes, Ministério Público, Conselho Penitenciário e o Conselho Nacional de Políticas Criminais e Penitenciária (CNPCP) para inspeções prisionais, dando efetivo cumprimento ao disposto na Lei de Execução Penal. 6-) Funcionários. Proporcionar a possibilidade de trabalho em unidades próximas a suas residências e famílias; a) Formação para os funcionários diretamente ligados à custódia de seres humanos: não só ASPs e técnicos, como também para carcereiros, investigadores, policias militares e civis, no curso de Melhorias na Gestão Penitenciária – Uma abordagem de Direitos Humanos para o Sistema Prisional - Criado pelo Conselho Britânico em parceria com a ONU e o Ministério da Justiça; b) A contratação urgente de pessoal: ASPs e técnicos. Com assistência psicológica e social para estes profissionais; c) Escolta. Na SAP, a liberação dos Guardas de Muralha, já capacitados, para este trabalho, visando ao fim de problemas como cancelamento e suspensão de audiências judiciais, atendimento, consultas e cirurgias médicas. Situações que abalam o equilíbrio emocional dos presos, levando-os muitas vezes ao desespero. 7) Interdição de todas as carceragens da polícia, colocando a administração de unidades prisionais e a manutenção dos presos totalmente nas mãos da administração penitenciária, deixando os policiais voltar para a função de polícia 8) Criação de Lei Penitenciária Local e da Ouvidoria do Sistema Prisional. 9) Por último, que a Comissão de Direitos Humanos da OAB e da Assembléia Legislativa realizasse visitas às unidades prisionais e carceragens de polícia conforme a solicitação dos encarcerados ou dos seus familiares. Esperamos que estas medidas sejam tomadas enquanto a população que está atrás dos muros ainda é menor do que a de fora. Pe. Valdir João Silveira Coordenador de Pastoral Carcerária. CNBB- Sul 1. Na segunda feira, 12, deste, mais uma pessoa foi assassinada dentro da Unidade Prisional de Avaré II e outro, no dia 13, deste, retirado quase sem vida do DACAR III. Enquanto que, em várias unidades se encontram pessoas feriadas ou que perderam membro do corpo por cachorro da policia, como se encontra ainda em unidade de Ribeirão Preto. Muito das pessoas que estão feridas, machucadas, presas não fizeram parte das rebeliões. População prisional do Estado de São Paulo Maio de 2006: SSP: 223 cadeias: 161 masculinas; 62 femininas População: 17.008 total 12.093 homens (8124 provisórios, 3969 condenados) 4915 mulheres (3090 provisórias, 1825 condenadas) Enquanto as mulheres somente compõem 5% da população prisional, elas são 37% da população ainda encarcerada na Secretaria da Segurança Pública. Anota também, que 51% das mulheres presas ainda se encontram em cadeias públicas, enquanto somente 9% dos homens ainda estão na SSP SAP (07 de junho de 06) 144 unidades População: 125.701 121.291 homens e 4274 mulheres, mais 136 em transito em tratamento de saúde (dois dias depois, no dia 09/06, a população prisional da SAP diminuiu para 125.443) Total (mais ou menos porque os dados da SSP são de maio, e os dados da SAP são de junho) SSP 17.008 SAP 125.701 TOTAL: 142.709 Ou seja, quase 14% da população prisional ainda se encontra em cadeias públicas. Segundo SAP, em janeiro de 2006, a população prisional do Estado era 138.805. Em 4 meses, aumentou quase 4 mil pessoas. Apesar da promessa de fechar todas as delegacias, a população das cadeias somente diminuiu 183 pessoas. 144 Unidades Prisionais (do site da SAP - http://www.admpenitenciaria.sp.gov.br/) População Carcerária Total em 9/6: 125.443 Masculino:121.027 Feminino: 4279 Tratamento de Saúde (trânsito):137

quinta-feira, 22 de junho de 2006

Provocações, por Luís Fernando Veríssimo

Bom, sobre aquela quebradeira que fizeram lá em Brasília eu não postei nada. Recebi alguns textos, dos quais este que publico hoje. Cheia de trabalho para fazer, to meio sem tempo... Mas vai passar! até mais! Provocações, por Luís Fernando Veríssimo A primeira provocação ele agüentou calado. Na verdade, gritou e esperneou. Mas todos os bebês fazem assim, mesmo os que nascem em maternidade, ajudados por especialistas. E não como ele, numa toca, aparado só pelo chão. A segunda provocação foi a alimentação que lhe deram, depois do leite da mãe. Uma porcaria. Não reclamou porque não era disso. Outra provocação foi perder a metade dos seus dez irmãos, por doença e falta de atendimento. Não gostou nada daquilo. Mas ficou firme. Era de boa paz. Foram lhe provocando por toda a vida. Não pode ir a escola porque tinha que ajudar na roça. Tudo bem, gostava da roça. Mas aí lhe tiraram a roça. Na cidade, para aonde teve que ir com a família, era provocação de tudo que era lado. Resistiu a todas. Morar em barraco. Depois perder o barraco, que estava onde não podia estar. Ir para um barraco pior. Ficou firme. Queria um emprego, só conseguiu um subemprego. Queria casar, conseguiu uma submulher. Tiveram subfilhos. Subnutridos. Para conseguir ajuda, só entrando em fila. E a ajuda não ajudava. Estavam lhe provocando. Gostava da roça. O negócio dele era a roça. Queria voltar pra roça. Ouvira falar de uma tal reforma agrária. Não sabia bem o que era. Parece que a idéia era lhe dar uma terrinha. Se não era outra provocação, era uma boa. Terra era o que não faltava. Passou anos ouvindo falar em reforma agrária. Em voltar à terra. Em ter a terra que nunca tivera. Amanhã. No próximo ano. No próximo governo. Concluiu que era provocação. Mais uma. Finalmente ouviu dizer que desta vez a reforma agrária vinha mesmo. Para valer. Garantida. Se animou. Se mobilizou. Pegou a enxada e foi brigar pelo que pudesse conseguir. Estava disposto a aceitar qualquer coisa. Só não estava mais disposto a aceitar provocação. Aí ouviu que a reforma agrária não era bem assim. Talvez amanhã. Talvez no próximo ano... Então protestou. Na décima milésima provocação, reagiu. E ouviu espantado, as pessoas dizerem, horrorizadas com ele: - Violência, não!

segunda-feira, 12 de junho de 2006

Site - Imagens Infinitas

Hoje vai um link super legal. É só ir clicando nas figuras. Boa semana e boa viagem!! imagens infinitas

sexta-feira, 9 de junho de 2006

Liberdade de Gegê

Gente, só um informe: Foi concedido o habeas corpus ao Gegê, militante do Movimento de Moradia do Centro, após um ano de fuga, de muitos abaixo-assinados e de manifestações. Abaixo, a notícia pela Carta Maior. E, ao fim, a divulgação de uma reunião com ele. Liberdade de Gegê STJ concede hábeas corpus a dirigente petista Gegê Líder do movimento de moradia de São Paulo, dirigente da Central de Movimentos Populares e membro do Diretório Nacional do PT, Luiz Gonzaga da Silva, o Gegê, que teve prisão preventiva decretada por suposta participação em um homicídio na capital, obteve um hábeas corpus do STJ e poderá assumir representação no Conselho das Cidades na próxima semana. Verena Glass - Carta Maior São Paulo – O Superior Tribunal de Justiça (STJ) concedeu, às 20 h desta quinta (1), um hábeas corpus que reverte o pedido de prisão preventiva contra o líder do movimento de moradia de São Paulo, dirigente da Central de Movimentos Populares e membro do Diretório Nacional do PT, Luiz Gonzaga da Silva, o Gegê. A liminar foi expedida pelo ministro do STJ, Helio Qualia Barbosa, em resposta ao pedido impetrado pelos advogados de Gegê na manhã da própria quinta-feira. Gegê, que concorreu à presidência do PT em 2005 e hoje é membro do Diretório Nacional do partido, foi acusado de facilitar a fuga do autor do assassinato de José Alberto dos Santos Pereira Mendes, supostamente envolvido com tráfico de drogas, morto em um acampamento do Movimento de Moradia do Centro na Zona Leste de São Paulo, em agosto de 2002. Um primeiro pedido de prisão preventiva já tinha detido Gegê no início de abril de 2004, mas, 51 dias depois, sua soltura foi decretada pela 3a Câmara do Tribunal de Justiça, que lhe concedeu habeas corpus e o direito de aguardar o julgamento em liberdade. Em maio do ano passado, o Tribunal de Justiça de São Paulo voltou a pedir sua prisão, baseando-se, segundo o advogado de Gegê, Roberto Rainha, no depoimento de uma testemunha concedido à Justiça no período anterior à prisão do acusado. “Entendemos que o juiz da vara criminal que expediu o segundo mandado de prisão preventiva contra Gegê, errou por ter utilizado um argumento já derrubado pelo primeiro hábeas corpus. Ou seja, no período entre a soltura e o novo pedido de prisão, nada ocorreu de novo ocorreu que justificasse essa nova decisão da Justiça”, explica Rainha. Com o hábeas corpus, explica Rainha, foi expedido concomitantemente o contra-mandado de prisão, e agora se inicia o processo de julgamento do mérito. Até lá, Gegê está em liberdade para exercer plenamente suas funções sociais e políticas, e responder em liberdade ao processo de suposta participação no homicídio. Retorno O caso Gegê criou comoção entre os movimentos populares de São Paulo por ser considerado exemplar do processo de criminalização contra lideranças sociais. A campanha pela sua liberdade contou também com o apoio do Partido dos Trabalhadores e seus dirigentes, como o deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh, que atuou como advogado no caso. Em função do que considerou perseguição por parte do judiciário, o grupo político de Gegê avaliou que seria melhor que ele se mantivesse afastado de suas atividades em São Paulo, e desde setembro de 2005 ele esteve vivendo na Venezuela. “Se até a Suzana von Richthoven pode aguardar julgamento e liberdade, imagine o Gegê. Estamos organizando o retorno dele para os próximos dias, para que possa assumir seu cargo de conselheiro junto ao Conselho das Cidades, que será instalado na quarta (7), em Brasília”, comemorou Afonso Magalhães, suplente de Gegê no Conselho. Pelo fim à perseguição aos movimentos sociais ================================ !!!Gegê Livre!!! 4a feira, 14 de junho, às 19 horas Vamos dar os parabéns e comemorar a volta do Gegê! Câmara dos Vereadores de São Paulo Viaduto Jacarei, 100 - Centro Sala Oscar Pedroso Horta - Subsolo ============================= Liberdade para todos os perseguidos políticos!