quinta-feira, 26 de outubro de 2006

Os Puros

Por Izaías Almada* (Recebido por e-mail, tendo como fonte citada o site da revista Caros Amigos. ) Chegamos e vamos passando, afinal, pelas controvertidas eleições de 2006... Tenho procurado acompanhar, não só pelos jornais e pela televisão -é claro – onde se mente mais do que se fala a verdade ou, se quiserem, onde se omite mais, a disputa pelo poder político que renova (ou não) agora em outubro muitos dos seus quadros. E nessa observação pude, aqui e ali, conversar com empregadas domésticas(como a minha, por exemplo), varredores de rua, com seguranças de prédios e lojas, com motoristas de táxi e de transporte público, alguns nordestinos com parentes na Paraíba, no Piauí, na Bahia, gente que trabalha no comércio, enfim, pessoas que moram na periferia de São Paulo e que – muitas delas – levam três horas para chegarem ao trabalho e outras três para regressarem às suas casas. E sabem o que boa parte dessa gente fala? Que o dinheirinho está dando para comprar a cesta básica e ainda sobra algum. Que muitos produtos não subiram de preço nos últimos quatro anos e que alguns até baixaram. Que já não se gasta tanto em transporte coletivo quanto se gastava (pelo menos, na cidade de São Paulo), que muita coisa já dá para comprar a prestação e que antes não dava. Pela primeira vez, em muitos anos, o salário mínimo (ainda pífio) supera a casa dos 120 dólares. Contaram-me, inclusive, um fato curioso que se deu na periferia de Osasco, onde um candidato a deputado fazia a sua campanha. A comitiva foi convidada a comer “a picanha do Lula”. Um dos assessores do candidato em campanha foi logo alertando que em tempos de campanha é proibido, pela lei eleitoral, pagar almoços em nome de candidatos. A situação foi esclarecida pelo homem que fizera o convite. “Não se preocupem”, disse ele, “ninguém está pagando nada para nós. É que agora nós podemos de vez em quando comer uma picanha nos fins de semana e antes era bem difícil. Por isso é que nós chamamos de picanha do Lula.” São os donos de sua força de trabalho contentes por “dar ao dente”. Na outra ponta do arco social somos confrontados a cada trimestre ou semestre com os imorais lucros dos nossos bancos, do grande sucesso da nossa agroindústria quase monocultora e transgênica, da queda (ainda tímida) dos juros e “spreads” bancários, e por aí afora. Senhores do poder de fato, apoiados por uma “imprensa independente e imparcial”, a turma que há 500 anos infelicita o povo brasileiro, os endinheirados, com dentes limpos e bem tratados, roupas finas, querendo livrar o país “dessa raça” suja e mal vestida. São os donos do capital felizes “por embolsar mais algum”. Entre esses dois extremos estamos muitos de nós. Não embolsamos lucros e nem vendemos a nossa força de trabalho abaixo do salário mínimo. Sobrevivemos. E, dirão alguns, honestamente. Que seja! Entre esses dois extremos estão os fazedores de opinião na imprensa, nas universidades, nas igrejas, nos quartéis, nos partidos políticos, esse enorme pelotão de classe média, muitos sonhando individualmente com a própria ascensão social. Outros, desejando-a para um número maior de seus semelhantes. E é nesse pelotão intermediário que se encontram os puros. Aqueles que elegeram a ética como um valor abstrato, longe da convivência dos homens, algo assim que só estivesse à altura dos eleitos, dos sábios, dos que não pecam. Como alguns intelectuais que, distantes da periferia das grandes cidades ou dos grotões interioranos desse imenso Brasil, que observam a realidade do país através de suas grossas lentes e das janelas de seus confortáveis apartamentos e escritórios pós-modernos. Alguns até se dizem de esquerda, seja lá o que isso signifique para eles. São historiadores, professores, sociólogos, filósofos, jornalistas, todos a deitar falação sobre corrupção, ética, honestidade, muitos deles esquecidos de que ajudaram a criar o “monstro” que agora combatem. Refiro-me ao presidente Lula e ao PT. Atenção, senhores cabeças pensantes! O sistema, até prova em contrário, ainda se chama capitalista. Vive do lucro e da mais-valia, da exploração do trabalho assalariado. Vive do lucro e incentiva o sucesso pessoal. Transforma tudo e todos em mercadoria. Idolatra o dinheiro e – sem esses ingredientes – você é um fracassado, um perdedor, um pobre. O sistema cria ilusões e mentiras, mas não oferece a todos as mesmas oportunidades para usufruírem de suas benesses. É natural, pois, e eu diria quase axiomático, que muitos cidadãos se corrompam para poder sobreviver, pois deles – com certeza e nesse sistema – não será o reino dos céus. E, quando se trata de conseguir ou manter o poder político, essa opção é ainda mais arraigada. Qual é a surpresa, então? Quem criou o PT e nele esteve muitos anos, que o embale ou que o refaça e não fique aí pelos cantos a chorar sobre o leite derramado. Não fique por aí a andar de mãos dadas com a direita mais conservadora e reacionária do país num momento em que o povo (e eu estou falando de povo mesmo, dos mais fodidos, dos analfabetos, dos doentes, dos subnutridos, dos desempregados, dos sem terra, dos sem casa, dos sem escola) já anda cansado dos profetas do paraíso terrestre por um lado e da escória que nos governa há quinhentos anos, do outro. Chega de hipocrisia! O povo quer saber de pão e trabalho, pois o circo ele já tem nas novelas de televisão, no futebol movido a lavagem de dinheiro, nas CPIs e em várias das sessões do Congresso Nacional... *Izaías Almada é escritor e dramaturgo

quinta-feira, 19 de outubro de 2006

Viva a Liberdade de Imprensa

Por Bernardo Kucinski "Quero agradecer em primeiro lugar aos meus companheiros de partido de São Paulo. Foi graças a São Paulo que estamos virando o jogo. E agradecer a meus irmãos da Opus Dei que me confortaram nos piores momentos da campanha até aqui. Mas quero agradecer acima de tudo aos jornalistas brasileiros, sem os quais seria impossível desconstruir esse verdadeiro mito da política que estamos enfrentando. Parecia uma tarefa impossível. O arquétipo do "pai dos pobres" estava profundamente enraizado no imaginário popular. Mas certos preconceitos também estavam e a imprensa foi muito feliz em fazer aflorar esses preconceitos. Lembro a todos a associação dos petistas a ratos através do poder da imagem, na capa de VEJA que vocês todos conhecem (1). Vários jornalistas, trabalharam essa associação depois por escrito, com grande sucesso.(2) Foi um risco calculado, usar mesma técnica que Goebbels usou no seu filme " O judeu eterno", para convencer os alemães de que os judeus deveriam ser exterminados. Mesmo porque, não se trata da eliminação física dos nossos adversários ou dessa raça, como disse equivocadamente, o nosso amigo senador Bornhausen. Mas se trata, sem dúvida, de sua erradicação da política brasileira. Outra associação importante foi com o conceito de "quadrilha." Arnaldo Jabor foi muito eficaz quando escreveu que "com a eleição de Lula, uma quadrilha se enfiou no governo e desviou bilhões de dinheiro público para tomar o Estado e ficar no poder 20 anos. " A própria palavra "petista" já está adquirindo uma conotação pejorativa. É, sem dúvida uma grande vitória na batalha pelas mentes e corações dos brasileiros... ( interrupção por aplausos prolongados). "Não importa se no final dos inquéritos em curso, não ficar provada corrupção no governo, ou que o dinheiro do mensalão não veio dos cofres do Estado, ou que a maioria dos esquemas de corrupção começou no governo anterior. Os jornalistas brasileiros agiram bem ao ignorarem formalismos como o da presunção da inocência ou o do direito à auto- imagem. E mais ainda ao cunharem a expressão "mensaleiro" que estigmatiza por igual toda uma categoria de políticos, independente do grau ou tipo de envolvimento de cada um. Foi através de abordagens corajosas como essas, ignorando a superada ética jornalística liberal, que conseguimos inculcar em grande parte do eleitorado a idéia da quadrilha (3) ( aplausos). "Da mesma forma, com a expressão "Nosso guia", a imprensa conseguiu associar sutilmente a figura desse falso "pai dos pobres" à dos ditadores comunistas, Stalin, Mao e Enver Hoxa. (4) Com isso personalizamos a idéia geral , que já havíamos conseguido disseminar antes, de que essa gente é autoritária por natureza . Também conseguimos convencer boa parte do eleitorado de que esse "pai dos pobres", não tem educação nem cultura, é um ignorante.E não foi fácil, dada a propensão do povo de respeitar as autoridades. Muitos jornalistas contribuíram para isso e todos eles eu agradeço.(5) A idéia de que se trata de um ignorante pegou fundo e hoje é encampada inclusive por intelectuais, como o dramaturgo Lauro Cezar Muniz que em declaração de grande destaque na Folha Ilustrada, explicou como " a falta de escolaridade impede a pessoa de entrar em contato com a lógica" e que por isso nosso adversário "não tem clareza para governar o Brasil."(6) "A imprensa estrangeira também ajudou. Quero lembrar a vocês o artigo do New York Times sugerindo que o mito é um alcoólatra. A primeira reação do povo foi repudiar o jornalista americano, por aquele motivo que já mencionei, o respeito à autoridade, ainda mais quando atacada por um estrangeiro. Mas graças ao desastrado gesto de sua expulsão e posterior ajuda de alguns de nossos mais brilhantes jornalistas, conseguimos reverter esse quadro e hoje posso assegurar a vocês, são muitos os brasileiros que acreditam na tese do alcoolismo. Agradeço em especial ao diretor da sucursal da Folha em Brasília , que através de pesquisa cuidadosa nos mostrou que o alcoolismo está no DNA da família Silva. (7) Finalmente quero mencionar o brilhantismo com que alguns jornalistas trabalharem a delicada idéia de esse pai dos pobres e os petistas em geral são tipos patológicos. VEJA foi pioneira ao dizer que "Lula tem dificuldades patológicas em compreender o que lhe pertence e o que pertence e ao Estado." (8) E Diogo Mainardi, comparou Lula ao Papa Léguas, "uma besta primária, um oportunista microcéfalo perfeitamente adaptado ao seu meio, que sabe apenas fugir das ciladas preparadas pelo coiote." (9) Quero mencionar, em especial o artigo de José Neumanne Pinto: "Freud, Lombroso e Jung no Planalto", publicado às vésperas da eleição, no jornal mais importante do país, O Estado de S.Paulo (10). Hoje, como vocês sabem, há um retorno ao paradigma genético, portanto ao modelo lombrosiano. Meus irmãos da Opus Dei,a propósito, nunca abandonaram a abordagem lombrosiana. O artigo de Neumanne foi tão importante que o colocamos no nosso site. Enfim, sei que deixei de mencionar dezenas de jornalistas que também contribuíram para o combate ao mito. A todos agradeço de coração. E os conclamo a continuar a lauta. O mito foi duramente atingido, mas ainda não morreu. Nossa tarefa é destruí-lo. ( aplausos prolongados, gritos de Viva a Liberdade de Imprensa, Viva São Paulo.) - Fim do discurso de agradecimentos. (1) VEJA, 25/05/2005. (2) Entre eles, André Petry em VEJA, de 24/06/06( " De ratos e homens") .e Rubens Alves na Folha de S. Paulo, de 18/04/2006 (" Os ratos e os elefantes") (3) O Código de ética dos jornalistas brasileiros, aprovado em congresso nacional da categoria e em vigor desde 1987, diz nos seus artigos 14 e 15: Art. 14. O jornalista deve: a) Ouvir sempre, antes da divulgação dos fatos, todas as pessoas objeto de acusações não comprovadas, feitas por terceiros e não suficientemente demonstradas ou verificadas. b) Tratar com respeito a todas as pessoas mencionadas nas informações que divulgar. Art. 15 - O jornalista deve permitir o direito de resposta às pessoas envolvidas ou mencionadas em sua matéria, quando ficar demonstrada a existência de equívocos ou incorreções. (4) A expressão foi repetidamente aplicada por Elio Gaspari em sua coluna e hoje já é usada por outros jornalistas. (5) Reinaldo Azevedo chama o presidente de "analfabeto", na epígrafe de seu site; Miriam Leitão, no O Globo, de 11/09/05, dedicou toda uma coluna à "falta de escolaridade do candidato do partido dos Trabalhadores"; e Sonia Racy, no Estadão de 19/01/06, concluiu que ao se referir ao Uruguai e Paraguai como " nossos irmãos mais pequenos", Lula revelou sua ignorância do vernáculo, quando a ignorância na verdade era dela, pois segundo a gramática de André Hildebrando de Afonso a expressão é correta e de uso corrente em várias regiões. (6) Folha Ilustrada, 07/03/2006. Cezar Muniz parece ignorar que o raciocínio lógico é inerente ao cérebro humano. Até mesmo os loucos raciocinam com lógica. O que muda é o conteúdos do raciocínio, conforme se trate de um saber cientifico, ou religioso, popular, ou supersticioso. (7) Josias de Souza, Folha de São Paulo, 16/05/04: "Alcoolismo marca três gerações dos Silva." (8) VEJA, 12/07/06. (9) 28/06/06 (10) OESP, 20/09/06 Bernardo Kucinski é jornalista, é professor da Universidade de São Paulo e autor, entre outros, de "A síndrome da antena parabólica: ética no jornalismo brasileiro" (1996) e "As Cartas Ácidas da campanha de Lula de 1998" (2000). ave

quarta-feira, 11 de outubro de 2006

Alckimin e a Segurança em SP

Hoje eu recebi um video de uma reportagem estrangeira entrevistando o Governador do estado de São Paulo sobre a segurança em São Paulo. Vale a pena ver. http://www.youtube.com/watch?v=vsRynm18_Eg

terça-feira, 10 de outubro de 2006

Tortura na Febem-SP continua até em unidades pequenas

E para comemorar o PSDB no governo do Estado de São Paulo por mais, no mínimo, 4 anos, vamos à situação da Febem. E rezemos para não os colocarem também na presidência. pelo amor de Deus!! Tirada do site carta maior

Tortura na Febem-SP continua até em unidades pequena

Ao contrário do que afirma governo de São Paulo, funcionários de unidades consideradas “modelo” também usam da prática de tortura supostamente para manter problemas de disciplina sob controle. Em Bauru, no interior do estado, internos apresentam marcas de violência. Bia Barbosa – Carta Maior São Paulo – O filho do comerciante Silas Aparecido Moreira é uma das vítimas mais recentes do modelo repressivo de tratamento dos adolescentes em conflito com a lei que estão sob a custódia do governo de São Paulo. Com 18 anos recém-completados, ele cumpre medidas socioeducativas há nove meses por tráfico de drogas na Unidade de Internação da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) em Bauru, no interior do estado. No dia 7 de setembro, o adolescente escreveu na lousa da sala de aula “paz, liberdade e justiça”. Por isso, foi acusado de ser membro do PCC. Levado para o castigo, ele apanhou muito. “Bateram tanto no meu filho que ele chegou a urinar sangue. Ele tomou muita pancada no rim e na cara”, conta Moreira. O comerciante procurou imediatamente o diretor da unidade de Bauru, Antonio Alfredo Costela Parras, que lhe garantiu que isso não acontecia ali dentro. “Mas só três semanas depois levaram meu menino pra fazer exames. Claro que, depois desse tempo, não deu nada. O relatório de comportamento do meu filho é bom; ele nunca teve problemas. Agora está sofrendo represálias. Os funcionários que bateram nele estão colocando outros jovens contra ele. Meu moleque está revoltado com o espancamento que recebeu. O diretor disse que vai transferi-lo para Iaras, mas assim eu não vou ter como ver o meu filho”, lamenta Silas Moreira. A denúncia de Silas foi feita na última semana quando um grupo de familiares e funcionários da Febem de Bauru procurou o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), órgão oficial criado pela Constituição do Estado de São Paulo para apurar violações de direitos humanos. Eles entregaram ao Condepe um dossiê com termos de declarações elaborados pela Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Bauru e boletins de ocorrência que descrevem detalhadamente os casos de tortura e abusos envolvendo o próprio diretor da unidade e outros funcionários. Entre as denúncias de tortura, humilhações e abusos estão ocorrências de choques elétricos, espancamentos, trancamento de internos em celas por 75 dias, ameaças de morte, abusos sexuais e o caso de um interno que teve deslocamento de retina após apanhar dos monitores. De acordo com os funcionários que procuraram o Condepe, a Ouvidoria e a Corregedoria da Febem foram comunicadas das ocorrências em fevereiro, mas nenhuma providência teria sido tomada até então. “Nós víamos os meninos marcados, mas ele morrem de medo de falar o que acontece. Em fevereiro as torturas se acentuaram. No dia 12 de abril, eu presenciei o espancamento de dois adolescentes. Eles apanharam tanto que saía sangue pela boca”, contou à Carta Maior Roseli Diccine Mariano, que era coordenadora pedagógica da Unidade de Internação de Bauru. Era ela quem coordenava a rotina dos 72 adolescentes internos. Quando denunciou as agressões, foi destituída de seu cargo e impedida de entrar na administração da unidade. A direção também proibiu outros funcionários de conversarem com ela, depois a transferiu para o atendimento de adolescentes em regime de liberdade assistida. Roseli desenvolveu um quadro de hipertensão e hoje está em licença médica. Ela e outros funcionários que denunciaram as práticas da direção de Bauru foram afastados e se dizem com medo. “Agora, quem é responsável pela rotina dos adolescentes são os funcionários da disciplina, os mesmos que bateram nos meninos. São pessoas sem preparação nenhuma, que estão destruindo a possibilidade de recuperação desses jovens. Isso não é um problema só de modelo; é de abuso, de desrespeito à dignidade humana e de doutrinação, algo muito diferente de educação”, avalia Roseli. “Tenho vergonha, como educadora, de ter que denunciar quem deveria estar do nosso lado na educação dessas pessoas. Quando a gente diz que quer recuperar um jovem da Febem, é para recuperar o país. Não vamos desistir da crença no ser humano. Acredito que há uma recuperação, mas pra isso é preciso seguir o caminho certo. Só que é uma atrocidade o que está acontecendo lá dentro. A gente fica doente de ver o martírio dessas crianças. O ser humano dá o que recebe. Se recebe violência, como vai devolver carinho?”, questiona a funcionária da Febem. O Condepe conseguiu, na última sexta (6), o afastamento de Antônio Parras da direção de Bauru. Antes de assumir o comando da unidade, Parras trabalhou no Centro de Detenção Provisória (presídio) do município e na Corregedoria da Febem. De acordo com as entidades de direitos humanos, ele responde a um processo por desvio de dinheiro público e improbidade administrativa. “Percebe-se que é uma pessoa com “gabarito” para ser da Corregedoria da Febem”, ironiza Ariel de Castro Alves, coordenador estadual do Movimento Nacional de Direitos Humanos e membro do Condepe. “Desde fevereiro os funcionários estão denunciando na Corregedoria o que está acontecendo, sem que se tomem providências. Há uma omissão da instituição neste sentido. Bauru é uma unidade pequena, que deveria ser modelo. Mas o que está acontecendo lá desmonta o argumento do governo de São Paulo de que os problemas estão só nos grandes complexos”, afirma. O programa de governo de Geraldo Alckmin fala, por exemplo, da descentralização do atendimento aos adolescentes em conflito com a lei, com investimentos na construção de pequenos centros para internação e ressocialização. “Essa é uma questão de formação, de impunidade e de corporativismo”, acredita Alves. Em nota de esclarecimento enviada à imprensa, a Febem explica que o afastamento de Antônio Parras foi preventivo, e “visa a dar maior transparências às investigações, que serão feitas pela corregedoria da instituição, sobre as denúncias apresentadas pelos representantes do Condepe à Secretaria Estadual da Justiça e da Cidadania”. Com isso, assume a direção de Bauru a funcionária Juliana Rosa que, até então, dirigia a unidade Rio Novo, na cidade de Iaras, a cerca de 150 km de Bauru. Boas-vindas No final da tarde desta sexta, a nova diretora da unidade de Bauru, Juliana Rosa, recebeu a visita de entidades de defesa dos direitos humanos, que foram até a cidade verificar as denúncias feitas pelos funcionários. O cenário descrito pelos integrantes do Condepe, da Comissão de Direitos Humanos da OAB e do Conselho Tutelar é, além de degradante, assustador. “Os internos vivem ali dentro como se fossem robôs. Têm que andar de cabeça baixa, com as mãos pra trás o tempo todo. Se reclamam de alguma coisa, recebem tapas na cara. Alguns funcionários batem mais do que outros; alguns cospem na cara dos internos. O divertimento deles é mandar os adolescentes rolarem nus no chão. Outros mandam os jovens tirarem a roupa, ficarem de quatro e latirem como cachorros. É a humilhação completa, a permissividade total. Dessa forma você animaliza qualquer ser humano. Me lembrou Abu Graib [presídio do Iraque que ficou conhecido em todo o mundo depois que fotos de cenas de tortura praticadas pelo exército americano foram divulgadas]”, conta Paulo Sampaio, da Associação dos Cristãos para a Abolição da Tortura (ACAT). Na descrição do representante da OAB, Francisco Lúcio França, o local parece um "campo de concentração nazista", onde não se pode sorrir nem expressar o menor sentimento. A unidade conta com quatro celas na chamada “sessão disciplinar”. Ali, os internos são deixados de castigo por longos períodos. A cela não tem entrada alguma de luz. “Os meninos ficam sentados no cimento durante todo o tempo. Às 22h recebem um colchão, que é recolhido às 6h. O lugar parece uma valeta de cemitério. Vimos três internos nessa situação. Um vai ficar de castigo por 30 dias porque trocou a sandália com o irmão durante a última visita. Outro porque desenhou um menino fumando no caderno”, conta Paulo Sampaio. “Um adolescente de 14 anos que já tinha ficado no castigo, ao saber que corria o risco de ir pra lá de novo, tentou se enforcar com uma camisa. Depois levou uma surra porque tentou se matar”, relata. Durante a visita, as entidades pediram para a nova diretora escolher cinco adolescentes aleatoriamente. Ao tirarem a camiseta, todos apresentavam marcas de espancamento. As entidades de direitos humanos solicitarão esta semana ao Ministério Público e ao governo de São Paulo que os internos passem por exames de corpo de delito. A OAB de Bauru tentará entrar na unidade nesta segunda para se certificar de que os internos não apanharam no final de semana em represália ao que disseram durante da visita do Condepe de sexta-feira. De acordo com os internos, a última vez que apanharam de maneira generalizada foi no dia 7 de setembro – mesmo dia em que o filho do comerciante Silas Moreira foi surrado. Mas os adolescentes temem o que os espera neste feriado de 12 de outubro. Já sabem o que pode ser seu presente de Dia das Crianças.

quinta-feira, 5 de outubro de 2006

Chico Buarque: lucidez e coerência

Olá! Não, eu realmente não me posicionei no primeiro turno, mesmo pq, como eu já disse, quem passa por aqui sabe contra quem eu sou. Mas agora está demais! As pessoas – pelo menos os prepotentes paulistanos – fazem questão de ficar ofendendo o Lula de ladrão, falando no PT como se sempre fosse um partido de bandidos. Tudo bem, não posso esperar nada de pessoas que abraçam tudo que a Fátima Bernardes fala, mas pelo amor de deus!! O Lula inventou a corrupção em Brasília agora?? Sem falar nos milhões de e-mails que circulam contra o governo, com sarcasmo e hipocrisia. Debato então com os porucos que chegam defendendo o outro lado,o do Lula e do PT. E tem outra coisa: um povo que vota no Clodovil e no Frank Aguiar não pode falar mal de mais ninguém. Que isso? A honestidade e a lucidez só servem para o Lula agora?? Pelo amor, quem vota nesses caras não tem escrúpulos nenhum!! E olha, não duvido nada se o tucano ganhar as eleições. O paulistano merece. Merece Serra, o caos no Estado, merece cpi´s engavetadas, merece Maluf, merece o cãozinho dos teclados, merece o Clodovil. Aliás, quem sofre as conseqüências disso não merece não. Enfim, aqui vai um texto que recebi por e-mail. Entrevista com Chico Buarque. Bem bom. Té mais

Chico Buarque: lucidez e coerência

A cada uma de suas entrevistas, o compositor e cantor Chico Buarque de Holanda sempre surpreende por sua lucidez e enorme coerência. Agora, no lançamento do seu novo CD, Carioca, ele novamente brilhou ao falar sobre a situação política brasileira. A direita deve ter ficado furiosa, com saudades dos tempos da ditadura militar que o perseguiu e censurou; a esquerda "rancorosa" deve ter ficado ressentida com seus irônicos comentários; já os setores da sociedade que, mesmo críticos das limitações do governo Lula, não perderam a perspectiva, ganharam novo impulso criativo para a sua atuação. Mas é melhor deixar o poeta falar, pinçando trechos das suas entrevistas na revista Carta Capital e no jornal Folha de S.Paulo: Sobre a crise política: É claro que esse escândalo abalou o governo, abalou quem votou no Lula, abalou sobretudo o PT. Para o partido, esse escândalo é desastroso. O outro lado da moeda é que disso tudo pode surgir um partido mais correto, menos arrogante. No fundo, sempre existiu no PT a idéia de que você ou é petista ou é um calhorda. Um pouco como o PSDB acha que você ou é tucano ou é burro (risos). Agora, a crítica que se faz ao PT erra a mão. Não só ao PT, mas principalmente ao Lula. Quando a oposição vem dizer que se trata do governo mais corrupto da história do Brasil é preciso dizer 'espera aí'. Quando aquele senador tucano canastrão diz que vai bater no Lula, dar porrada, quando chamam o Lula de vagabundo, de ignorante - aí estão errando muito a mão. Governo mais corrupto da história? Onde está o corruptômetro? É preciso investigar as coisas, sim. Tem que punir, sim. Mas vamos entender melhor as coisas. A gente sabe que a corrupção no Brasil está em toda parte. E vem agora esse pessoal do PFL, justamente ele, fazer cara de ofendido, de indignado. Não vão me comover... Preconceito de classe. O preconceito de classe contra o Lula continua existindo - e em graus até mais elevados. A maneira como ele é insultado eu nunca vi igual. Acaba inclusive sendo contraproducente para quem agride, porque o sujeito mais humilde ouve e pensa: 'Que história é essa de burro!? De ignorante!? De imbecil!?'. Não me lembro de ninguém falar coisas assim antes, nem com o Collor. Vagabundo! Ladrão! Assassino! - até assassino eu já ouvi. Fizeram o diabo para impedir que o Lula fosse presidente. Inventaram plebiscito, mudaram a duração do mandato, criaram a reeleição. Finalmente, como se fosse uma concessão, deixaram Lula assumir. 'Agora sai já daí, vagabundo!'. É como se estivessem despachando um empregado a quem se permitiu o luxo de ocupar a Casa Grande. 'Agora volta pra senzala!'. Eu não gostaria que fosse assim. Eu voto no Lula! A economia não vai mudar se o presidente for um tucano. A coisa está tão atada que honestamente não vejo muita diferença entre um próximo governo Lula e um governo da oposição. Mas o país deu um passo importante elegendo Lula. Considero deseducativo o discurso em voga: 'Tão cedo esses caras não voltam, eles não sabem fazer, não são preparados, não são poliglotas'. Acho tudo isso muito grave. Hoje eu voto no Lula. Vou votar no Alckmin? Não vou. Acredito que, apesar de a economia estar atada como está, ainda há uma margem para investir no social que o Lula tem mais condições de atender. Vai ficar devendo, claro. Já está devendo. Precisa ser cobrado. Ele dizia isso: 'Quero ser cobrado, vocês precisam me cobrar, não quero ficar lá cercado de puxa-sacos'. Ouvi isso dele na última vez que o vi, antes dele tomar posse, num encontro aqui no Rio. Sobre o PSOL. Percebo nesses grupos um rancor que é próprio dos ex: ex-petista, ex-comunista, ex-tudo. Não gosto disso, dessa gente que está muito próxima do fanatismo, que parece pertencer a uma tribo e que quando rompe sai cuspindo fogo. Eleitoralmente, se eles crescerem, vão crescer para cima do PT e eventualmente ajudar o adversário do Lula. Papel da mídia. Não acho que a mídia tenha inventado a crise. Mas a mídia ecoa muito mais o mensalão do que fazia com aquelas histórias do Fernando Henrique, a compra de votos, as privatizações. O Fernando Henrique sempre teve uma defesa sólida na mídia, colunistas chapa-branca dispostos a defendê-lo a todo custo. O Lula não tem. Pelo contrário, é concurso de porrada para ver quem bate mais.