domingo, 30 de novembro de 2008

Água: vida ou mercadoria?

Nossa, quanta correria. Faz um tempão que nem ligo o pc. Mas vamos lá, postarei aqui um texto que deve fazer um mês que eu li e fiquei super a fim de postar. Estava dando uma aula fofa de água e o consumo nosso de cada dia, assim como o consumo dos americanos e dos quenianos. A revista da nova proposta do estado me dizia para fazer uma aula a fim de calcularmos o consumo de água dos alunos, para saber para qual das duas realidades tendemos. "Aconselhava": peça as contas dos alunos e calcule, depois de algumas contas, qual o consumo per capita da sala. Ótimo, brilhante, mó legal. Seria perfeito se não fosse uma coisa: em algumas salas o povo não paga água. Aí, comecei a pirar na idéia da água como mercadoria. Encontrei então, o ótimo texto a seguir. Depois de lê-lo, fui ver seu autor. Não podia ser de outra pessoa mesmo. Leonardo Boff.

Água: vida ou mercadoria?

Leonardo Boff

O Popular, 20 de fevereiro de 2004 (Goiânia)

De Quarta-Feira de Cinzas até a Páscoa milhões de católicos pelo País afora estarão refletindo sobre o tema da Campanha da Fraternidade deste ano: Água, Fonte de Vida. Além de sua missão evangelizadora, a Igreja está assim reforçando a cidadania, pois ensina seus fiéis a pensar coletivamente e a se responsabilizar por um bem vital que é a água. O livreto distribuído aos milhares, além de dados sobre a questão, oferece subsídios espirituais e éticos bem fundados e apresenta indicações práticas de como cuidar da água. Nossos melhores especialistas, como Aldo da Cunha Rebouças, são aí arrolados. Vejamos os principais dados e o conflito de base que envolve a questão da água.

Há 500 milhões de anos, a quantidade de água é praticamente constante. 70% da superfície da Terra são cobertos de água: 97,6%, salgada e apenas 2,4%, doce. Dessa minguada porcentagem, 70% destinam-se à irrigação, 20% à indústria e somente 10% ao consumo humano. Entretanto, apenas 0,7% dos 10% é imediatamente acessível; o restante está nos aqüíferos profundos, nas calotas polares ou no interior das florestas. A renovação das águas é da ordem de 43 mil quilômetros cúbicos por ano descarregados nos rios, enquanto o consumo total é estimado em 6 mil quilômetros cúbicos por ano. Há muita água, mas desigualmente distribuída: 60% encontram-se em apenas 9 países, enquanto 80 outros enfrentam escassez. Pouco menos de 1 bilhão de pessoas consome 86% da água existente, enquanto para 1,4 bilhão é insuficiente e, para 2 bilhões, não é tratada, o que provoca 85% das doenças.

O Brasil é a potência natural das águas, com 13% de toda água doce do planeta, perfazendo 5,4 trilhões de metros cúbicos. Mas é desigualmente distribuída: 70% na região amazônica, 15% no Centro-Oeste, 6% no Sul e no Sudeste e 3% no Nordeste. Apesar da abundância, não sabemos usar a água, pois 46% dela são desperdiçados, o que daria para abastecer toda a França, a Bélgica, a Suíça e o Norte da Itália. É urgente, portanto, um novo padrão cultural.

Dois problemas têm criado o “estresse mundial da água”: sua sistemática poluição associada à destruição da biomassa que garante a perpetuidade das águas correntes e a falta generalizada de cuidado no uso da gota d’água disponível. Ensina Aldo Rebouças: é mais importante saber usar a gota d’água disponível do que ostentar sua abundância. Por ser um bem escasso, nota-se corrida desenfreada à posse privada da água doce. Quem controla a água controla a vida. Quem controla a vida detém o poder.

Surge então o dilema: a água é fonte de vida ou fonte de lucro? É um bem natural, vital e insubstituível ou um bem econômico e uma mercadoria? Os que apenas visam lucro, a tratam como mercadoria. Os que pensam a vida, a vêem como um bem essencial a todos os organismos vivos e ao equilíbrio ecológico da Terra. Direito à vida implica direito à água potável gratuita. Mas porque há custos na captação, tratamento, distribuição, uso, reuso e conservação, existe inegável dimensão econômica. Mas esta não deve prevalecer sobre o direito, antes, torná-lo real e garantido para todos.

Água doce é mais que recurso hídrico. É vida com todas as suas ressonâncias simbólicas de fecundidade, renascimento e purificação. Isso tem imenso valor, mas não tem preço. Se houver cuidado ela será abundante para todos

fonte: http://www.recicloteca.org.br/agua/boff.htm

domingo, 19 de outubro de 2008

Serra e a blindagem da TV Globo

Tenho pensado na "guerra enre as polícias" ocorrida nesta semana, em São Paulo. Procurava, então, um texto que discursasse sobre o tratamento dado às manifestações e greves, neste estado. Encontrei o texto a seguir, que trata de uma questão prévia às soluções dadas a estas ações: a manipulação na cabeça do povo. O texto a seguir é ótimo, mas voltemos ao meu raciocínio. Não achei nada espantoso o confronto que ocorreu. Mesmo porque já participei de várias manifestações que tiveram aquele final trágico. Só que o resultado foi um pouco mais trágico que o habitual por um motivo: houve possibilidade de e uma real reação por parte dos manifestantes. É fácil chamar a Choque para Sem-terra, estudantes e professores, não é? Tratá-los como qualquer coisa, batendo, chutando, jogando bombas com vários efeitos, vale, é bem mais fácil. Agora, vai fazer isso com uns caras daquele tamanho, com tantos armamentos quanto a PM e que conhecem e praticam as mesmas táticas. Aí, é mais difícil, não é? Pois é, mas é assim que o estado trata qualquer um que queira reivindicar seus direitos ou uma melhoria na condição de vida/trabalho. Seja ele um policial ou um professor. E a imprensa, só para variar, ratifica esse ódio aos que reivindicam. Só para os outros, os homens de bem, não fazerem o mesmo.

Serra e a blindagem da TV Globo

O que Perseu Abramo destacou como “padrões de ocultação", fragmentação" e "inversão" foram a tônica de um noticiário mais empenhado em evitar desgaste de Serra na véspera do segundo turno das eleições municipais do que explicar os motivos que levaram a barbárie a tomar as ruas paulistanas.

A cobertura dada pela TV Globo ao confronto entre policiais civis e militares, nas proximidades do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, foi um show de culinária. Não bastasse o silêncio durante a tarde, a edição de 16/10 do Jornal Nacional se esmerou em cozinhar textos de uma só fonte para oferecer um produto pouco informativo, incompleto e sem qualquer rigor na apuração. Entende-se. A correta contextualização dos fatos poderia arranhar a imagem do governador José Serra. E de um modo de governar que tem na incapacidade de negociação o DNA tucano. O interessante é que não estamos diante de um caso isolado ou de falha provocada por profissionais inexperientes e/ou incompetentes. Muito pelo contrário. Mais uma vez, a emissora da família Marinho, reuniu a nata da casa, para subordinar o exercício do bom jornalismo, e as responsabilidades a ele inerentes, ao projeto eleitoral do consórcio PSDB/DEM. As imagens de um conflito em que foram utilizadas bombas de gás lacrimogêneo, munição convencional e de borracha foram ao ar acompanhadas do texto que melhor convinha ao "padrão Globo" de divulgação de notícias. Para o telespectador, a intransigência tinha um só lado: policiais, sindicalistas e partidos políticos, com destaque para o PT, é claro. Não havia greve que se arrasta há um mês e muito menos uma categoria que tem a média salarial mais baixa que o piso de 11 estados. A registrar, uma disfuncão, nada mais. O que Perseu Abramo destacou como “padrões de ocultação", fragmentação" e "inversão" foram a tônica de um noticiário mais empenhado em evitar desgaste de Serra na véspera do segundo turno das eleições municipais do que explicar os motivos que levaram a barbárie a tomar as ruas paulistanas. Microfones abertos para o principal personagem a ser blindado e sua versão pautou a cobertura. O relato da emissora serviu como narrativa de corroboração “O governador José Serra disse que o protesto foi feito por uma minoria e que é ilegal. “Essa manifestação reuniu, no máximo, 1.000, 1.200 pessoas. A Polícia Civil tem 35 mil efetivos. Trata-se, portanto, de uma minoria. Muitos dos participantes não são da polícia, são de outros sindicatos, da CUT e da Força Sindical. Há partidos políticos por trás”. Serra também criticou o uso de armas pelos manifestantes. “Armas são entregues às polícias para defenderem o povo contra os criminosos. Não para servirem a movimentos políticos reivindicatórios. Reivindicação se faz na mesa conversando, não com violência. Isso nós não aceitamos”. E se tivesse havido diálogo, a crise teria chegado a esse ponto? Confronto entre policiais não aponta para crise institucional? Será isso o que estamos vivendo no Estado mais rico do país? Onde ocorreu embates envolvendo forças de segurança antes? Em Belo Horizonte, há 11 anos. A que partido pertencia o então governador de Minas, Eduardo Azeredo? São questões por demais delicadas para que o jornalismo global possa fazer qualquer aprofundamento. Mas o "melhor", em matéria de manipulação, estava guardado para o dia seguinte. Na edição de 17/10 do Bom Dia Brasil. Com ar contrito, o jornalista Renato Machado anunciou que "A população de São Paulo assistiu atônita a mais um exemplo da crise que assola a segurança pública no Brasil”. A nacionalização do conflito esclarece o planejamento da agenda. Como no Brasil? É em São Paulo, e sob as ordens de um governador do PSDB, que polícia atira em polícia. Essa é uma anomia exclusivamente tucana. O ato falho talvez tenha revelado o que a emissora antecipa para 2010.

*Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Observatório da Imprensa

domingo, 7 de setembro de 2008

Fora da Velha Ordem - Carta Escola

Preciso que meus alunos de sétima-série leiam um pouco sobre os confitos causados na busca ao petróleo, para fazerem uma redação de conclusão sobre o consumo de petróleo no mundo. Assim, após mapearem esse consumo, deverão ler o texto a seguir e fazer uma redação.
O texto saiu na revista Carta Escola de agosto. Esta revista disponibiliza textos no seu site para que nós, professores, possamos usá-los com os alunos. Porém, justamente esse texto não encontra-se no mesmo. Por isso, anexarei o artigo a seguir. O subtítulo mais importante do artigo, que trata de conflitos em busca de petróleo é o "Todos Querem Energia". É só clicar nas imagens para lê-las! Quem não conseguir encaixá-las em uma folha para imprimir, me manda um e-mail pedindo as imagens num documento só, em pdf. Meu e-mail é: primerhy@gmail.com beijinhos, boa sorte, e té mais!

sexta-feira, 25 de julho de 2008

A Auto-Estima do Professor

(Um testinho simples, mas que refelete a situação a que estamos sujeitos.)

A escola e os educadores precisam de mais respeito

Imagem-de-professora-idosa-junto-com-aluno

Sabe-se que a atenção dada pelo professor ao aluno é fundamental para que o rendimento escolar e a própria auto-estima do estudante sejam melhoradas. Há muitas histórias de crianças, adolescentes ou jovens que se sentiam incompreendidos pelos pais ou até mesmo pela própria sociedade que tiveram na figura do professor um alento para suas vidas e futuros.

Li recentemente num livro que a simples preocupação demonstrada por parte dos patrões em relação aos funcionários de suas empresas pode redundar em ganhos de produtividade, melhorar os relacionamentos dentro da firma e promover um ganho real no quesito lucratividade.

É notório que quando há diálogo, compreensão e disposição para a cooperação entre as pessoas que vivem ou trabalham num mesmo local se estabelece uma clara tendência a uma melhor qualidade de vida. São também vários os casos registrados de empresas que para agradar seus funcionários lhes concedem certas regalias, como horários mais flexíveis, permissão para o uso de roupas mais confortáveis, escolas para os filhos próximas ao local de trabalho, hora de almoço mais longa,...

Todos esses exemplos anteriormente mencionados servem para registrar o quanto é importante, senão imprescindível, para os seres humanos a atenção e o reconhecimento. Professores não são diferentes, pelo contrário, atualmente se mostram muito carentes e se sentem um tanto quanto abandonados. São portadores de uma missão fundamental para a estruturação da sociedade e sabem disso, no entanto, não percebem por parte das comunidades que servem o devido respeito pelo seu trabalho.

Imagem-de-crianças-e-professora-juntos Professores motivados renovam suas práticas, investem tempo em novos estudos, promovem uma melhor socialização entre os estudantes e tornam a escola muito mais interessante e rica para os estudantes.

É claro que não estou falando que a resposta social ao trabalho educacional tem sido agressiva ou mesmo negativa. Tanto os pais de alunos quanto os demais membros da sociedade reconhecem a necessidade da educação e entendem que o futuro de seus filhos e também do país passa pelas salas de aulas de nossas escolas.

Há, entretanto, um diferencial no que se refere ao trabalho executado pelos professores quando se comparam suas funções e atribuições ao exercício profissional de médicos, engenheiros ou advogados, por exemplo. Não é comum que uma pessoa entre no consultório de um pediatra e, sem qualquer conhecimento médico, opine ou ainda se oponha abertamente as orientações dadas por um profissional da área.

Também não vemos as pessoas interferindo nas decisões e encaminhamentos tomados por um advogado ao longo de um processo criminal. Se qualquer cidadão tentasse, por conta própria, construir um prédio sem os devidos conhecimentos técnicos da área tão caros a engenheiros ou arquitetos o que poderia acontecer? Já imaginaram?

Em educação também há conhecimentos específicos, que são atualizados constantemente, que depreendem a prática exercida diariamente e o enfrentamento das situações do cotidiano, porém, os pais acham que entendem tanto (ou mais) de educação do que os próprios pedagogos, especialistas nas disciplinas, orientadores educacionais ou diretores das escolas...

A freqüência à escola é uma característica da vida da maioria dos brasileiros, isso é fato, felizmente. Por esse motivo qualquer cidadão desse país pensa entender de educação como os profissionais que atuam na área e que estão a todo o momento envolvidos com os problemas, as novidades pedagógicas, as novas tecnologias incorporadas ao cotidiano da escola, as tendências filosóficas mais contemporâneas, as metodologias mais eficientes.

Imagem-de-professora-escrevendo-na-lousa Os estudantes precisam de apoio tanto dos professores quanto de seus pais para obter melhores resultados na escola. Aos pais compete acompanhar o trabalho da escola e orientar com freqüência os estudos de seus filhos. Atitudes como essas auxiliam muito o trabalho dos professores.

Do mesmo modo como advogados, médicos ou arquitetos se sentem ofendidos quando tem seu trabalho questionado por leigos, também os professores demonstram sua evidente insatisfação por posicionamentos dos pais que demonstram o não conhecimento das novas possibilidades didáticas relativas ao trabalho em sala de aula.

Para piorar a situação é praticamente regra que os pais visitem as escolas apenas em momentos críticos da vida educacional de seus filhos. O mais usual é que isso aconteça ao final dos bimestres, com a realização das reuniões de fechamento de um ciclo de estudos e avaliações. Invariavelmente isso acarreta encontros que são marcados por críticas e mais críticas ao trabalho dos professores, poucos são os pais que se dispõem realmente a dialogar e conjuntamente descobrir as dificuldades e problemas gerais do processo de ensino-aprendizagem.

Não estou dizendo com isso que não há erros e desacertos por parte dos educadores. Todos sabem que ainda existem muitos problemas a serem solucionados na educação brasileira. O que não pode acontecer é a crucificação do trabalho educacional sem uma avaliação isenta que permita perceber que há acertos a serem feitos tanto pelos professores e demais profissionais de uma escola quanto pelos alunos e por sua família.

Os professores precisam da compreensão da sociedade e, especialmente, do apoio dos pais de seus alunos. Necessitam frequentemente de estímulo da direção da escola. Tem que ter incentivo para estudar, aperfeiçoar ainda mais seus conhecimentos. Devem ingressar na era da informática e adequar suas aulas ao uso das Tecnologias de Informação e Conhecimento (TICs) ao mesmo tempo em que inovem no cotidiano de seu trabalho educacional.

Imagem-de-alunos-com-as-mãos-erguidas Alunos motivados dependem de um professor que esteja com auto-estima elevada. Para tanto é necessário que seu trabalho seja incentivado e renovado com o apoio da comunidade e da direção da escola.

É claro que isso exige tempo, investimento, mudança de paradigmas e revisão de posturas sociais arraigadas já há muito tempo. Tanto por parte dos professores como de toda a sociedade. Sabemos também que avanços já estão acontecendo de forma isolada, através de experiências realizadas em unidades educacionais privadas ou públicas. Isso já é um alento.

Essas experiências e também os conhecimentos que estão sendo gestados e produzidos nas universidades devem, no entanto, ser socializados mais rapidamente do que são atualmente. Há trabalhos que se forem incorporados ao cotidiano escolar das redes públicas ou privadas podem solucionar problemas crônicos das escolas e ajudar a recuperar a auto-estima dos professores.

Não conheço educadores que saiam de casa com a deliberada intenção de dar aulas ruins. Sei de pessoas que têm dificuldades por que não puderam se aperfeiçoar, estudar mais. Também já estive em contato com professores que se desiludiram, pois as mudanças e transformações que lhes foram prometidas não ocorreram ou acontecem a um ritmo extremamente lento.

Há também os casos, que são numerosos, de professores que se sentem desestimulados justamente porque não tem o devido respeito por sua dignidade profissional, empenho pessoal e vontade de mudar. Em todos esses casos a auto-estima dos educadores vai lá para baixo e, como conseqüência disso, suas aulas são muito inferiores ao que realmente poderiam ser.

Trate o professor de seu filho com respeito. Dê a ele a devida consideração por seu trabalho. Escute suas ponderações e depois, educadamente, apresente suas dúvidas e questionamentos. Cobre a escola e a rede a qual ela pertence por maiores investimentos na formação desses professores. Elogie as iniciativas bem sucedidas, isso pode estimular esses profissionais da educação a melhorarem ainda mais suas práticas de ensino. A educação e os seus trabalhadores agradecem essa compreensão e se comprometem a fazer sempre o melhor pelos estudantes e também em prol do país...

fonte: http://www.planetaeducacao.com.br/novo/artigo.asp?artigo=491

terça-feira, 15 de julho de 2008

quinta-feira, 26 de junho de 2008

A Falta de Educação

Ai, ai. Quanto tempo não escrevo... a vida anda MUITO corrida. Trabalhando demais. Demais é pouco com relação ao que eu ganho. Tô na educação do Estado, para os que não me conhecem ou para os que não estão tão próximos... e a vida nesse trabalho não é fácil. Ariisco dizer que é quase impossível você sobreviver, lúcida, até o final da carreira. O abandono à educação, à escola, é total, a insituição está falida e sem base alguma. Um professor da FE (Faculdade de educação da USP) costuma dizer que a escola, do jeito que é concebida, não dá mais certo. E eu estou vendo isso na pele. A escola do jeito que é só funciona num regime ditatorial, numa relação de dominante - professor - e dominado - aluno. O conceito está errado e, enquanto não mudar, a coisa só tende a afundar mais. Conclusão: você, professor, tem que ser um carrasco, por que, se não o for, fica difícil controlar a galerinha. Parece que eles não entendem conversa! (e não devem entender mesmo; em casa, quando alguém fala com eles é nos berros e, na escola, também. Aí, cria o círculo vicioso). Mas a escola, desse jeito, não produz cabeças pensantes e possíveis transformadores da sua realidade. Formamos fantoches, cada vez mais. E os formamos até mesmo para sobrevivermos em sala. Ai, complicado. Complicadíssimo. Aí, para resolver, o Governo do Estado de São Paulo implanta novidades. Caderninhos com toda matéria e metodologia para que possamos aplicar (possamos não, para que apliquemos). Pronto, problema resolvido, disse o SPTV! Só esqueceram de dizer que falta verba e material para o aluno. Mas isso é "só" um detalhe. Sou obrigada a dizer que o material realmente é bom. O meu, claro por que, para trabalhar com os anjinhos, é bem difícil. Digo trabalhar o conteúdo, por que, para todos te ouvirem, só com Jesus ao seu lado. A garotada não sabe ler um gráfico, interpretar um texto. É uma lástima. Aí, vem a nova proposta, dizendo: "Professores, suas antas, a educação está asim por causa de vocês. Por isso, vocês vão trabalhar como "nós" queremos. Se vocês são tão incapazes e incompetentes, daremos a salvação da lavoura - a nova proposta." Aposto que você ouviu o "tcharam" e algumas estrelinhas quando leu esta frase. Para responder a essas constantes constatações por parte dos nossos superiores - da nossa incompetência -, recebo essa carta, por e-mail, de uma supervisora do ensino do Estado. Simplesmente ma-ra-vi-lho-sa!
"Carta de supervisora à Secretária de Educação-SP
Senhora Secretária,
Quero aqui expressar, com todo o respeito, a opinião de uma profissional que pensa que a educação pública de boa qualidade é fundamental para o desenvolvimento do país e que, por isto mesmo, tem orgulho de pertencer ao Quadro do Magistério Estadual Paulista. Tenho 15 anos de trabalho na Escola Pública de São Paulo, 11 dos quais em sala de aula e os últimos 04 na Supervisão de Ensino. Tenho lido com muita apreensão algumas matérias que saem nos jornais e na Revista 'Veja' que, a meu ver, têm colocado a maior parte da responsabilidade dos males da educação nos professores e gestores escolares, sem, contudo, fazer uma reflexão mais profunda sobre esta situação.
Concordo que há um número grande de professores sem condição para assumir uma sala de aula. Mas há que se perguntar: por que isto acontece? Se a justificativa do fracasso da educação está neste fato, por que aceitar professores tão mal formados? É triste pensar que boa parte dos professores é formada em cursos que não preenchem os mínimos requisitos para formar bons professores. Não posso deixar de pensar que isto parece uma política muito bem pensada. Professores mal formados formam mal seus alunos e, por isto mesmo, não têm o direito de receber salários dignos de um bom profissional. Os bons profissionais acabam abandonando a carreira, pois não são valorizados tanto financeiramente, como do ponto de vista social. Nem o Estado, nem a sociedade respeitam estes profissionais. E como resgatar o respeito perdido perante a sociedade, se toda campanha que o governo e a mídia em geral fazem por uma educação de qualidade, é uma campanha contra os professores, sempre apontados como os grandes culpados pela situação da escola pública?
No entanto, quando alguns de nós afirmamos que é preciso fiscalizar, com mais firmeza, os cursos para que passem a formar professores competentes, lá vem aquela 'baboseira ideológica' (me desculpe por emprestar sua expressão) de que somos um bando de castristas autoritários. Ninguém reclama quando a vigilância sanitária fecha um estabelecimento que não segue as mínimas regras - afinal é uma questão de saúde pública. Mas quando falamos da necessidade de fiscalizar as instituições de ensino superior e tomar atitudes firmes contra aquelas que formam mal, é uma gritaria geral. Em uma entrevista à 'Veja' a senhora afirma que 'num mundo ideal' fecharia as faculdades de pedagogia porque seus cursos são 'exclusivamente teóricos, sem nenhuma conexão com as escolas públicas e suas reais demandas' (Veja, 13/02/2008). Na verdade, senhora secretária, uma boa parte dos cursos são vagos mesmo e os alunos não tem aulas de tipo algum, sejam teóricas, sejam práticas.
Penso que qualquer reforma no ensino básico será infrutífera se não acompanhada de uma reforma profunda nos cursos que formam professores. Outra questão reside nas condições de trabalho. Muito tem se falado no exemplo finlandês, especialmente em matérias da 'Veja'. Convenhamos, nenhuma delas explica muito bem a situação dos professores finlandeses, tão citados como exemplares. Matéria do 'Washington Post', disponível na Internet (washingtonpost.com , acesso em fevereiro de 2007) e intitulada 'Focus on Schools Helps Finns Build a Showcase Nation', nos fornece dados que possibilitam ver as diferenças entre as condições de trabalho dos professores daqui e da Finlândia. Neste país, a profissão é valorizada, os professores são respeitados pela sociedade e se orgulham de sua profissão. Quase todos são mestres, no mínimo. Será que se formam em cursos vagos, de fim de semana? Cursos reconhecidos pelo Governo e que cresceram exponencialmente a partir dos anos 90? Aqui em São Paulo, até mesmo o programa 'Bolsa Mestrado' foi suspenso pelo governador José Serra.
Na Finlândia, os professores não são horistas; são contratados para trabalhar em uma única escola; têm dedicação exclusiva, tendo tempo para desenvolver projetos que favoreçam a aprendizagem. Enfim, são professores-pesquisadores, com condições para tal. Aqui, senhora secretária, professor da escola pública é horista e dá até vergonha de dizer quanto vale a hora / aula de um professor. Para compor o salário os OFAs se deslocam de uma escola para outra para completar a carga horária. Muitos efetivos de cargo, para aumentar a renda, acabam acumulando cargo no próprio Estado ou no Município. Isto sem falar naqueles que também atuam em escolas particulares. Em relação a esta questão, outra matéria 'vejiana' afirma que salário não tem relação com qualidade de ensino. Citando a Finlândia, afirma que lá os professores ganham quase o mesmo que a média do salário nacional, enquanto os professores daqui ganham cerca de 50% a mais. Ora, eu gostaria de ganhar um salário igual ao da média nacional, desde que a nossa média nacional fosse igual à da Finlândia. Como os professores de lá, com certeza eu não reclamaria. Como diversos estudos mostram, números são interpretados em função de nossas intenções e visões de mundo. Como educadora e com uma visão diferente da 'vejiana', penso que devemos lutar por um futuro em que a média dos salários daqui possa se comparar à de países que oferecem uma vida mais digna aos seus cidadãos. Aliás, é interessante observar que matéria da própria 'Veja' (Veja São Paulo, de 16/04/2008), mostra que salário tem sim relação com a qualidade de ensino. A matéria nos informa que a média dos salários dos professores das 10 melhores escolas no ENEM 2007 é de R$ 6.000,00. Há professores que recebem mais de R$ 9.000,00. São professores bem formados, valorizados e com dedicação exclusiva. Sei das dificuldades de se arcar com custos de salários tão altos para os professores das escolas
públicas, mas dizer que ganhamos bem e que reclamamos à toa beira é brincadeira de mau gosto, para não dizer que parece um discurso ensaiado e de má fé. Voltando à Finlândia, lá o sistema é 'rich in staff', como é afirmado na matéria do 'Washington Post'. Há funcionários, psicólogos e especialistas em crianças com necessidades especiais. Já aqui... Lá o sistema seleciona os melhores professores, pois os valoriza. Aqui o sistema contrata professores mal formados exatamente porque não os valoriza. Só quando os professores forem profissionais bem formados, receberem salários dignos de sua profissão e forem respeitados enquanto profissionais é que o Estado terá condições de exigir resultados. Aí sim poderá avaliar e até mesmo criar mecanismos para excluir aqueles professores que não tenham compromisso em sua profissão, tal como na Finlândia ou nas escolas particulares. Do contrário, as avaliações só continuarão a mostrar o fracasso do sistema. Penso ser urgente pensar nestas questões, pois não adianta cobrar melhora nos resultados de aprendizagem se não há um sistema de contratação de profissionais bem formados, sejam professores, sejam gestores. Concordo que o problema da má qualidade de ensino não se resolverá apenas com aumento de salário dos professores. Mas os profissionais da educação pública precisam ter seus salários revistos.
Repito: sei das dificuldades de o Estado arcar com uma folha de pagamento alta como das escolas particulares, mas nosso salário está vergonhoso e não acredito que o governo do Estado mais rico da federação não poderia oferecer um pouco mais. Há também outros problemas que precisam ser enfrentados, de fato. Acho no mínimo preocupante quando a senhora afirma, em uma das reportagens (Folha de São Paulo, 25/02/2008), quando questionada sobre as 'falhas dos governos tucanos' (Covas, Alckmin), que prefere dizer que os problemas atuais são estruturais. Não são falhas de um governo que está aí há anos, não é questão de incompetência. São questões estruturais. No entanto, quando dizemos que muitos dos problemas da escola pública são estruturais (salários baixos, lotação, prédios horrorosos, lousas caindo aos pedaços, falta de laboratórios, violência, indisciplina, etc.) ouvimos que isto é reclamação sem fundamento; que é só saber bem o conteúdo e boas técnicas didático-metodológicas que tudo se resolveria (isto fica bem claro quando lemos o 'Caderno do Gestor' que acompanha a nova 'Proposta Curricular'). Mas quando questionada em uma das reportagens sobre as condições das escolas, a senhora diz que o governo faz o que pode, manda verbas, mas à noite a escola é invadida e roubam os fios. Isto não é contraditório? O governo tem desculpas, não é sua culpa, é da estrutura e dos vândalos que invadem a escola. Agora, quando um professor tem que enfrentar uma classe lotada, sem a mínima estrutura ele tem que se virar.
Não tem desculpas... Em outras palavras: todas as falhas dos governos passados não são falhas ou questão de incompetência, são problemas de estrutura. Mas quando os professores dizem que a estrutura atual do sistema de ensino contribui muito para o fracasso escolar, o governo diz que isto é desculpa, que é 'baboseira ideológica', e que basta ser competente e saber o conteúdo que tudo se resolverá. Voltando à tão citada Finlândia, fica claro que lá os professores são competentes, como se afirma, porque bem formados, valorizados e com condições estruturais bem melhores que as que temos no Estado de São Paulo. Portanto, falar em qualidade em salas lotadas, sem condições estruturais satisfatórias e sem professores bem formados (bem diferente do tão falado sistema finlandês), é falar para 'inglês ouvir'. Em suma, uma educação de qualidade reside no tripé salários dignos, condições de trabalho e compromisso profissional. Só quando o Estado pagar salários dignos e fornecer condições para os professores e gestores desenvolverem seu trabalho, poderá selecionar os melhores e até mesmo criar formas de excluir aqueles que não tenham compromisso. Em tempo, senhora secretária: fiz mestrado e doutorado e não ganho o salário que estão dizendo por aí que eu ganho. Muitos de meus colegas me perguntam por que ainda estou na educação pública ganhando um salário tão baixo que não condiz com a minha formação.
Respondo que escolhi isto por acreditar que estou exercendo uma profissão chave para um país que deseja um futuro mais digno; que ainda acredito na educação e que, sim, tenho um compromisso ideológico com a escola pública.
Mas a seguir sua visão e a visão 'vejiana' de educação, senhora secretária, isto deve ser mais uma das minhas 'baboseiras ideológicas'.
Profª Drª Clarete - Supervisora de Ensino

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Bairros mais ricos de SP têm até quatro vezes mais investimento que os mais pobres, diz estudo

Da Redação do site da uol Em São Paulo Uma pesquisa realizada pela ONG Movimento Nossa São Paulo e divulgada nesta quinta-feira (24) traduz em números a desigualdade econômica e social entre as diferentes regiões da capital paulista. O estudo, feito com dados oficiais, fornecidos pela Prefeitura de São Paulo, revela que enquanto bairros de classe média como os de Pinheiros e Jardins têm serviços de saúde, educação e cultura semelhantes aos de países desenvolvidos, bairros da periferia da capital apresentam total carência de serviços essenciais. O estudo revela quanto a Prefeitura efetivamente investe em cada uma das 31 subprefeituras da cidade. Ao analisar o orçamento de cada subprefeitura em 2006 e dividi-lo pelo número de habitantes atendidos, a ONG conseguiu detectar que o volume de recursos que chega aos bairros ricos é em média 4 vezes maior que chega aos bairros pobres. No período analisado, as três subprefeituras com maior orçamento per capita foram Pinheiros (R$ 126,59), Sé (R$ 123,22) e Santo Amaro (R$ 120,87). No outro extremo, as de menor investimento foram as de Capela do Socorro (R$ 31,43), M'Boi Mirim (R$ 35,60) e Cidade Ademar (R$ 44,66) De acordo com Maurício Broinizi Pereira, coordenador-executivo do Movimento Nossa São Paulo, o volume de recursos repassados pela Prefeitura às subprefeituras é desproporcional ao tamanho dos bairros e de sua população. "A maior parte dos investimentos se concentra em bairros de classe média alta, que concentram uma elite com capacidade de pressão política", afirma. Um exemplo: a verba destinada à região da subprefeitura de Pinheiros (Pinheiros, Jardim Paulista, Alto de Pinheiros e Itaim Bibi), com 245 mil habitantes divididos por 32 km2, foi quatro vezes maior do que o total destinado à Capela do Socorro (Socorro, Cidade Dutra e Grajaú), que tem 645 mil habitantes em uma área de 134 km2. Além da desigualdade de investimentos, a pesquisa revelou a desvantagem dos bairros de periferia com relação a acesso a saúde, educação, esporte, cultura e lazer. Comparando o número de hospitais existentes em toda São Paulo, o estudo constatou que a cidade tem em média 2,84 leitos hospitalares para cada 100 mil habitantes. Os bairros melhor assistidos são os da região da Sé (18,64 leitos para cada 100 mil habitantes), da Vila Mariana (16) e de Pinheiros (12,53). Os pior assistidos são os de Campo Limpo (0,02 leitos para cada 100 mil habitantes) e Aricanduva e Freguesia do Ó/Brasilândia (0,47 cada). E há regiões que não contam com um leito sequer: Cidade Ademar, Cidade Tiradentes, Parelheiros e Perus. Quanto acesso à educação, a desigualdade mais evidente está no número de horas de aula oferecidas a estudantes de bairros pobres e ricos. Na periferia, para atender a um número maior de alunos, as escolas municipais de Ensino Fundamental têm aulas divididas em três turnos de quatro horas - o intermediário, das 11h às 15h, é conhecido como 'o turno da fome'. Em Cidade Tiradentes, por exemplo, 69% das escolas seguem esse sistema. Em Campo Limpo, 51%. Já em Pinheiros e na Sé, todas as escolas têm apenas dois turnos, de seis horas cada. Segundo os organizadores do estudo, a falta de serviços públicos essenciais é determinante para o agravamento de problemas sociais na periferia. "As subprefeituras com menor grau de investimento público são as que têm os piores indicadores de criminalidade juvenil", diz Pereira. A partir de dados do Pro-Aim (Programa de Aprimoramento de Dados sobre a Mortalidade no Município de São Paulo), o Movimento Nossa São Paulo fez uma análise do número de homicídios de jovens do sexo masculino de 15 a 29 anos em toda a cidade de São Paulo. Segundo essa análise, as regiões com menor número de mortes violentas são as das subprefeituras de Vila Mariana (10,19 para cada 100 mil habitantes), Pinheiros (12,85) e Lapa (18,12). As regiões com maior número são: Casa Verde/Cachoeirinha (174,92), Freguesia do Ó/Brasilândia (143,44) e M'Boi Mirim (129,69). "Ou seja, enquanto os bairros mais ricos de São Paulo apresentam índices de mortes violentas semelhantes ao de países desenvolvidos, os mais pobres da periferia apresentam taxas semelhantes às de países em guerra", diz Pereira. De posse desses dados, a ONG espera convencer a população a pressionar a Prefeitura para que ela atenda de forma mais equânime os 96 distritos da cidade. De acordo com os organizadores, o estudo poderia servir para nortear os postulantes ao cargo de prefeito e às 55 vagas na Câmara Municipal a montarem programas que atendam às reais necessidades de cada bairro. A íntegra da pesquisa pode ser acessada no site do Movimento Nossa São Paulo.

domingo, 20 de abril de 2008

Agrocombustíveis e produção de alimentos

ARIOVALDO UMBELINO DE OLIVEIRA* E as conseqüências, para a produção de alimentos no Brasil, da expansão da cana-de-açúcar nos últimos 15 anos, quais são? A RELAÇÃO entre a expansão dos agrocombustíveis e a produção de alimentos ganhou a agenda política internacional. A agricultura mundial continua passando por transformações profundas. O avanço da "comoditização" dos alimentos e do controle genético das sementes que sempre foram patrimônio da humanidade foi acelerado. Dois processos monopolistas comandam a produção agrícola mundial. De um lado, está a territorialização dos monopólios, que atuam simultaneamente no controle da propriedade privada da terra, do processo produtivo no campo e do processamento industrial da produção agropecuária. O principal exemplo é o setor sucroalcooleiro. De outro lado, está a monopolização do território pelas empresas de comercialização e processamento industrial da produção agropecuária, que, sem produzir absolutamente nada no campo, controlam, por meio de mecanismos de sujeição, camponeses e capitalistas produtores do campo. As empresas monopolistas do setor de grãos atuam como "players" no mercado futuro das Bolsas de mercadorias do mundo e, muitas vezes, têm também o controle igualmente monopolista da produção dos agrotóxicos e dos fertilizantes. A crise, portanto, tem dois fundamentos. O primeiro, de reflexo mais limitado, refere-se à alta dos preços internacionais do petróleo e, conseqüentemente, à elevação dos custos dos fertilizantes e agrotóxicos. O segundo é conseqüência do aumento do consumo, mas não do consumo direto como alimento, como quer fazer crer o governo brasileiro, mas, isto sim, daquele decorrente da opção dos Estados Unidos pela produção do etanol a partir do milho. Esse caminho levou à redução dos estoques internacionais desse cereal e à elevação de seus preços e dos preços de outros grãos – trigo, arroz, soja. Assim, a "solução" norte-americana contra o aquecimento global se tornou o paraíso dos ganhos fáceis dos "players" dos monopólios internacionais que nada produzem, mas que sujeitam produtores e consumidores à sua lógica de acumulação. Certamente, não há caminho de volta para a crise, pois, no caso norte-americano, os solos disponíveis para o cultivo são disputados entre trigo, milho e soja. O avanço de um se reflete inevitavelmente no recuo dos outros. Daí a crítica radical de Jean Ziegler, da ONU (Organização das Nações Unidas), que classificou o etanol como "crime contra a humanidade". É no interior dessa crise que o agronegócio do agrocombustível brasileiro quer pegar carona no futuro fundado na reprodução do passado. O governo está pavimentando o caminho. Por isso, a questão dos agrocombustíveis e a produção de alimentos rebatem diretamente no campo brasileiro. A área plantada de cana-de-açúcar na última safra chegou perto de 7 milhões de hectares e, em São Paulo, onde se concentra mais de 50% do total, já ocupa a quase totalidade dos solos mais férteis existentes. Em meio à expansão dos agrocombustíveis, uma pergunta se faz necessária: quais foram as conseqüências, para a produção de alimentos no Brasil, da expansão da cultura da cana nos últimos 15 anos? Os dados do IBGE, entre 1990 e 2006, revelam a redução da produção dos alimentos imposta pela expansão da área plantada de cana-de-açúcar, que cresceu, nesse período, mais de 2,7 milhões de hectares. Tomando-se os municípios que tiveram a expansão de mais de 500 hectares de cana no período, verifica-se que, neles, ocorreu a redução de 261 mil hectares de feijão e 340 mil hectares de arroz. Essa área reduzida poderia produzir 400 mil toneladas de feijão, ou seja, 12% da produção nacional, e 1 milhão de toneladas de arroz, o que equivale a 9% do total do país. Além disso, reduziram-se nesses municípios a produção de 460 milhões de litros de leite e mais de 4,5 milhões de cabeças de gado bovino. Embora a expansão esteja mais concentrada em São Paulo, já o está também no Paraná, em Mato Grosso do Sul, no Triângulo Mineiro, em Goiás e em Mato Grosso. Nesses Estados, reduziu-se a área de produção de alimentos agrícolas e se deslocou a pecuária na direção da Amazônia Isso deu, conseqüentemente, em desmatamento. Por isso, a expansão dos agrocombustíveis continuará a gerar a redução da produção de alimentos. A produção dos três alimentos básicos no país -arroz, feijão e mandioca- também não cresce desde os anos 90, e o Brasil se tornou o maior país importador de trigo do mundo. Portanto, o caminho para a saída da crise e da construção de uma política de soberania alimentar continua sendo a realização de uma reforma agrária ampla, geral e massiva. *ARIOVALDO UMBELINO DE OLIVEIRA, 60, é professor titular de geografia agrária da USP e diretor da Abra (Associação Brasileira de Reforma Agrária). Integrou a equipe que elaborou a proposta do Segundo Plano Nacional de Reforma Agrária para o governo Lula (2003). (Além de ser uma das melhores, mais competentes e mais combatentes pessoas que já conheci. O "Ari", como a gente o chama(va) lá no Departamento da Geo) Fonte: Folha de S.Paulo – 17/4/08 – (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1704200809.htm)

quinta-feira, 10 de abril de 2008

O que é pra que serve o Estado

"O governo do estado moderno não é mais que uma junta que administra os negócios comuns de toda a classe burguesa" (Manifesto Comunista, 1848) Vimos que a dependência econômica dos trabalhadores é assegurada essencialmente graças à propriedade privada da classe dominante sobre os meios de produção. No entanto, a simples dependência econômica não é suficiente para a manutenção duradoura de um modo de produção baseado na exploração. Os trabalhadores assalariados e os explorados em geral continuam sendo a imensa maioria da população, enquanto os opressores constituem uma ínfima minoria. Para que os minoritários exploradores possam manter em obediência a maioria explorada é necessário um instrumento político eficaz. E este instrumento é o Estado. A burguesia e seus ideólogos difundem largamente a concepção da neutralidade do Estado. Aprendemos na escola que o Estado se destina a salvaguardar o interesse geral da população, proteger o país, etc. Esforçam-se, assim, em fazer-nos crer que o Estado não tem nenhuma relação com a existência das classes sociais e com a luta que se trava entre elas. A concepção marxista do Estado vem sendo desenvolvida partindo exatamente da recusa da tese burguesa da neutralidade do aparelho do Estado. Lênin em "O Estado e a revolução" afirma: "O Estado, portanto, é produto e manifestação do fato das contradições de classe serem inconciliáveis. O Estado surge no momento e na medida em que, objetivamente, as contradições de classe não podem conciliar-se. E inversamente: a existência do Estado prova que as contradições de classe são inconciliáveis. (..) Segundo Marx, o Estado é um organismo de dominação de classe, um organismo de opressão de uma classe por outra; é a criação de uma "ordem" que legaliza e fortalece esta opressão ...... Em "Acerca do Estado", Lenin enfatiza: "O Estado é uma máquina para manter o domínio de uma classe sobre outra. Quando na sociedade não havia classes, quando os homens, antes da época da escravidão, trabalhavam em condições primitivas de maior igualdade, em condições de mais baixa produtividade do trabalho, quando o homem primitivo pôde conseguir com dificuldade os meios indispensáveis para a existência mais tosca e primitiva, então não surgiu, nem podia surgir, um grupo especial de pessoas diferenciadas especializadas em governar e que dominassem o resto da sociedade. " Dessas passagens podemos extrair algumas idéias essenciais: o Estado é o resultado do surgimento e desenvolvimento de classes antagônicas, é um organismo de dominação, de opressão de uma classe sobre outra; é a "criação de uma ordem que legaliza e fortalece esta opressão" (Lenin). Para que isto seja possível, o Estado reserva a uma pequena minoria certas funções que primitivamente eram exercidas por toda a sociedade; a mais importante delas é o uso de armas, e da força em geral. Pegar em armas torna-se prerrogativa de instituições como o Exército e a polícia. Outra função chave é o exercício da justiça, que passa a pertencer a juizes e a outros "especialistas". Nas sociedades primitivas cabia sempre à assembléias coletivas. A classe dominante - hoje a burguesia - controla o aparelho do Estado - Forças Armadas, administração, aparelho judiciário e todos os aparelhos ideológicos - fundamentalmente através de seu poder econômico. A classe que domina o sistema de produção (que detém os meios de produção e de troca) controla também todo o aparelho de Estado. Desta forma, o Estado é sempre uma ditadura de classe, responsável por manter a ordem estabelecida. Embora seja um aparelho de coerção violenta, o Estado também reforça e garante a estabilidade da classe dominante através de instituições que reproduzem sua ideologia, como a escola, os meios de comunicação, a Igreja ... A aceitação da exploração como natural e eterna, a aceitação passiva da divisão em classes, são idéias ostensivamente difundidas pelos aparelhos ideológicos do Estado." (Iniciação ao Marxismo - Cadernos do Marxismo Revolucionário, escrito por Francisco Cavalcante, do site do PSTU)

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Leviandade é crime (caso Isabella Nardoni)

Clóvis Rossi Folha de S. Paulo, 2/04/08 Se o poder público brasileiro (no caso, o paulista) adotasse o devido rigor, puniria o delegado responsável pelo caso da menina Isabella Oliveira Nardoni, 5 anos, morta no sábado, por colocar o pai como suspeito. No fundo, estamos diante de uma gênese idêntica ao escândalo da Escola Base, no qual a mídia foi crucificada, com toda a justiça. Mas faltou mais alguém na cruz: o delegado responsável pela investigação do caso. Vamos rebobinar um pouco a fita e analisar as circunstâncias em que se deu a desumana crucificação dos responsáveis pela escola, apontados como abusadores de crianças. Quem detinha, com exclusividade, todas as informações? O delegado. Ninguém mais. Quem repassou as informações aos jornalistas, coletivamente? O delegado. Aos jornalistas, restava um de dois caminhos: duvidar ou acreditar (claro que me refiro aos jornalistas de boa-fé; os que têm índole sensacionalista não precisam acreditar ou duvidar de nada para dar vazão à índole). Mais: se duvidassem e decidissem não publicar, seria preciso que todos tivessem idêntico comportamento. Um só que publicasse já estaria provocando o dano à reputação dos donos da escola. Agora é um pouco a mesma coisa. O delegado deu entrevista que a Rede Globo, pelo menos, pôs no ar (não vi outros telejornais, mas suspeito que todos o tenham feito). Adiantaria alguma coisa se a Folha, digamos, não publicasse a acusação ao pai da menina? Salvaria a face do jornal, mas não salvaria o principal, que é a reputação do pai. Nem importa, no caso, se vier a se comprovar que o pai é mesmo culpado. Não cabe ao delegado, ao menos nesta fase da investigação, dizer quem é ou não suspeito. Se o pai for de fato culpado, será punido ao fim da investigação. Se for inocente, já está punido.

sábado, 15 de março de 2008

Discurso favorável à tortura ganha força no Brasil

Pesquisa aponta que um em cada quatro brasileiros admite a prática como método de invesigação policial; percentual é mais alto entre os ricos e os com nível superior Pesquisa aponta que um em cada quatro brasileiros admite a prática como método de invesigação policial; percentual é mais alto entre os ricos e os com nível superior 13/03/2008 Tatiana Merlino da redação do JornaL Brasil de Fato Para um quarto da população brasileira (26%), a tortura pode ser usada contra suspeitos de cometer um crime. No entanto, a defesa da permissividade da prática varia de acordo com a camada social. O índice chega a 42% de aprovação entre as pessoas com renda superior a cinco salários mínimos, mas não passa de 19% entre os que ganham até um salário mínimo. Já entre os que têm curso superior, a tortura é aprovada por 40% dos entrevistados. Os dados são da Pesquisa sobre Valores e Atitudes da População Brasileira, realizada pela agência Nova S/B em parceria com o Ibope. “Esses percentuais indicam que a prática da tortura foi naturalizada no país”, afirma Rafael Dias, pesquisador da organização não governamental Justiça Global. De acordo com ele, apesar da defesa da tortura perpassar a história do país, “hoje vivemos um avanço tanto de um discurso quanto de uma prática autoritárias, que defende a violência contra movimentos sociais, negros e pobres da periferia”. Práticas violentas Na pesquisa realizada, o filme Tropa de Elite foi citado e lembrou-se que os policiais usam práticas violentas, consideradas como tortura. “Essa conjuntura em que vivemos está explícita no número de pessoas que foram mortas em suposto confronto com a polícia, no Rio de Janeiro”, exemplifica ele. De acordo com dados do Instituto de Segurança Pública fluminense, de janeiro a setembro de 2007, 1252 pessoas foram mortas em supostos confrontos. “Os mais pobres são os que sofrem com a tortura e os com renda maior são os que chancelam a prática. O discurso das elites é esse mesmo, de controle da população pobre por meio da violência”, critica Dias, avaliando a disparidade do comportamento sobre a tortura conforme a renda. Para o advogado Ariel de Castro Alves, coordenador-geral da Ação dos Cristãos para a Abolição da Tortura (ACAT) e representante do Movimento Nacional de Direitos Humanos, o resultado da pesquisa não causa surpresa. “A classe média tem sido vítima de violência e, como tradicionalmente é individualista, não se incomoda quando os torturados são os pobres”. De acordo com ele, o fato de as pessoas teoricamente mais esclarecidas defenderem a tortura precisa ser discutido. “Que tipo de esclarecimento é esse?”, questiona. Alves acredita que “esses resultados colocam a educação brasileira na berlinda e nos coloca a questão: para que tem servido a universidade?”. Assim como o pesquisador da Justiça Global, Alves também acredita que hoje há uma “onda de conservadorismo no país, que é forte. Basta ver que os parlamentares que defendem a paz, o desarmamento tem sido derrotados politicamente, e esses espaços vem sendo ocupados por setores que fazem apologia à violência policial”, lamenta.

terça-feira, 11 de março de 2008

sábado, 23 de fevereiro de 2008

História dos EUA

História dos Estados Unidos da América. fonte: filme Tiros em Colombine. Prá quem não viu, ótima pedida!! E nem é tão difíocil de achar. Já vi até na Blockbuster! Simplesmente ma-ra-vi-lho-so!

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Fidel renuncia

Presidente cubano foi o líder há mais tempo no poder no mundo.

Da BBC Brasil - BBC

(tirado do site do estadão)

- O líder cubano Fidel Castro anunciou nesta terça-feira que não voltará a governar o país, em uma mensagem publicada pelo órgão do Partido Comunista Cubano, o Granma. Em mensagem "de muito interesse para muitos compatriotas", Fidel afirmou que não aceitará o cargo de Presidente do Conselho de Estado, que será escolhido pela Assembléia Cubana recém-eleita. "A meus queridos compatriotas, que me deram a imensa honra de me eleger recentemente como membro do Parlamento, em cujo seio devem ser adotados acordos importantes para nossa Revolução, comunico que não aspirarei e nem aceitarei - repito - não aspirarei e nem aceitarei o cargo de Presidente do Conselho de Estado e Comandante em Chefe", escreveu Fidel. A nova Assembléia Nacional, eleita no fim de Janeiro, tem até 45 dias para escolher o chefe do governo do país. Desde 1976, Fidel vinha sendo eleito e ratificado em todas as eleições, que se realizam a cada cinco anos. O líder cubano, que encabeçou a Revolução Cubana em 1º de janeiro de 1959, está afastado do poder desde 2006, quando delegou suas funções ao irmão, Raul Castro, em virtude de problemas de saúde. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC. ------------------------------------------------------------- Sobre essas eleições....

Venceu o voto unido! • Os 91% dos votos apoiaram o chamamento à unidade da Revolução • Os 96% dos eleitores foram às urnas • Os 95,24% das chapas eleitorais válidos • Foram eleitos todos os deputados às Assembléias Estaduais e à Assembléia Nacional

MARÍA JULIA MAYORAL — do jornal Granma

OS 95,24% dos votos válidos na eleição dos deputados e o apoio majoritário dos 91% ao voto unido, evidenciam de maneira contundente a coesão do povo cubano e a confiança na Revolução.

Venceu o voto unido! (FOTO: Jorge Luis González)Esta última percentagem indica que nove em cada 10 cidadãos apoiou todos os candidatos ao Parlamento, segndo estatísticas preliminares fornecidas pela presidenta da Comissão Eleitoral Nacional (CEN), María Esther Reus.

Por decisão do povo, foram eleitos 6l4 deputados ao Parlamento e 1.201 às Assembléias Estaduais, que começarão seu mandato numa data próxima.

A também ministra da Justiça, María Esther Reus, informou que 96% dos eleitores foram às urnas. Quanto à votação nos deputados ao Parlamento, o número de cédulas foi de mais de 8.230.832, das quais os 95,24 foram válidos. Ficaram em branco 3,73% e anuladas apenas 1,04%.

Advertiu que esses números são preliminares, pois a CEN tem que comprová-los e validá-los, de acordo com a legislação vigente. Daqui a 48 horas, salientou, devemos concluir o confronto dos resultados das eleições de 20 de janeiro com o Registro Eleitoral. ----------------------------------------- E a carta de Fidel Mensaje del Comandante en Jefe

Queridos compatriotas:

Les prometí el pasado viernes 15 de febrero que en la próxima reflexión abordaría un tema de interés para muchos compatriotas. La misma adquiere esta vez forma de mensaje.

Ha llegado el momento de postular y elegir al Consejo de Estado, su Presidente, Vicepresidentes y Secretario.

Desempeñé el honroso cargo de Presidente a lo largo de muchos años. El 15 de febrero de 1976 se aprobó la Constitución Socialista por voto libre, directo y secreto de más del 95% de los ciudadanos con derecho a votar. La primera Asamblea Nacional se constituyó el 2 de diciembre de ese año y eligió el Consejo de Estado y su Presidencia. Antes había ejercido el cargo de Primer Ministro durante casi 18 años. Siempre dispuse de las prerrogativas necesarias para llevar adelante la obra revolucionaria con el apoyo de la inmensa mayoría del pueblo.

Conociendo mi estado crítico de salud, muchos en el exterior pensaban que la renuncia provisional al cargo de Presidente del Consejo de Estado el 31 de julio de 2006, que dejé en manos del Primer Vicepresidente, Raúl Castro Ruz, era definitiva. El propio Raúl, quien adicionalmente ocupa el cargo de Ministro de las F.A.R. por méritos personales, y los demás compañeros de la dirección del Partido y el Estado, fueron renuentes a considerarme apartado de mis cargos a pesar de mi estado precario de salud.

Era incómoda mi posición frente a un adversario que hizo todo lo imaginable por deshacerse de mí y en nada me agradaba complacerlo.

Más adelante pude alcanzar de nuevo el dominio total de mi mente, la posibilidad de leer y meditar mucho, obligado por el reposo. Me acompañaban las fuerzas físicas suficientes para escribir largas horas, las que compartía con la rehabilitación y los programas pertinentes de recuperación. Un elemental sentido común me indicaba que esa actividad estaba a mi alcance. Por otro lado me preocupó siempre, al hablar de mi salud, evitar ilusiones que en el caso de un desenlace adverso, traerían noticias traumáticas a nuestro pueblo en medio de la batalla. Prepararlo para mi ausencia, sicológica y políticamente, era mi primera obligación después de tantos años de lucha. Nunca dejé de señalar que se trataba de una recuperación "no exenta de riesgos".

Mi deseo fue siempre cumplir el deber hasta el último aliento. Es lo que puedo ofrecer.

A mis entrañables compatriotas, que me hicieron el inmenso honor de elegirme en días recientes como miembro del Parlamento, en cuyo seno se deben adoptar acuerdos importantes para el destino de nuestra Revolución, les comunico que no aspiraré ni aceptaré- repito- no aspiraré ni aceptaré, el cargo de Presidente del Consejo de Estado y Comandante en Jefe.

En breves cartas dirigidas a Randy Alonso, Director del programa Mesa Redonda de la Televisión Nacional, que a solicitud mía fueron divulgadas, se incluían discretamente elementos de este mensaje que hoy escribo, y ni siquiera el destinatario de las misivas conocía mi propósito. Tenía confianza en Randy porque lo conocí bien cuando era estudiante universitario de Periodismo, y me reunía casi todas las semanas con los representantes principales de los estudiantes universitarios, de lo que ya era conocido como el interior del país, en la biblioteca de la amplia casa de Kohly, donde se albergaban. Hoy todo el país es una inmensa Universidad.

Párrafos seleccionados de la carta enviada a Randy el 17 de diciembre de 2007:

"Mi más profunda convicción es que las respuestas a los problemas actuales de la sociedad cubana, que posee un promedio educacional cercano a 12 grados, casi un millón de graduados universitarios y la posibilidad real de estudio para sus ciudadanos sin discriminación alguna, requieren más variantes de respuesta para cada problema concreto que las contenidas en un tablero de ajedrez. Ni un solo detalle se puede ignorar, y no se trata de un camino fácil, si es que la inteligencia del ser humano en una sociedad revolucionaria ha de prevalecer sobre sus instintos.

"Mi deber elemental no es aferrarme a cargos, ni mucho menos obstruir el paso a personas más jóvenes, sino aportar experiencias e ideas cuyo modesto valor proviene de la época excepcional que me tocó vivir.

"Pienso como Niemeyer que hay que ser consecuente hasta el final."

Carta del 8 de enero de 2008:

"...Soy decidido partidario del voto unido (un principio que preserva el mérito ignorado). Fue lo que nos permitió evitar las tendencias a copiar lo que venía de los países del antiguo campo socialista, entre ellas el retrato de un candidato único, tan solitario como a la vez tan solidario con Cuba. Respeto mucho aquel primer intento de construir el socialismo, gracias al cual pudimos continuar el camino escogido."

"Tenía muy presente que toda la gloria del mundo cabe en un grano de maíz", reiteraba en aquella carta.

Traicionaría por tanto mi conciencia ocupar una responsabilidad que requiere movilidad y entrega total que no estoy en condiciones físicas de ofrecer. Lo explico sin dramatismo.

Afortunadamente nuestro proceso cuenta todavía con cuadros de la vieja guardia, junto a otros que eran muy jóvenes cuando se inició la primera etapa de la Revolución. Algunos casi niños se incorporaron a los combatientes de las montañas y después, con su heroísmo y sus misiones internacionalistas, llenaron de gloria al país. Cuentan con la autoridad y la experiencia para garantizar el reemplazo. Dispone igualmente nuestro proceso de la generación intermedia que aprendió junto a nosotros los elementos del complejo y casi inaccesible arte de organizar y dirigir una revolución.

El camino siempre será difícil y requerirá el esfuerzo inteligente de todos. Desconfío de las sendas aparentemente fáciles de la apologética, o la autoflagelación como antítesis. Prepararse siempre para la peor de las variantes. Ser tan prudentes en el éxito como firmes en la adversidad es un principio que no puede olvidarse. El adversario a derrotar es sumamente fuerte, pero lo hemos mantenido a raya durante medio siglo.

No me despido de ustedes. Deseo solo combatir como un soldado de las ideas. Seguiré escribiendo bajo el título "Reflexiones del compañero Fidel" . Será un arma más del arsenal con la cual se podrá contar. Tal vez mi voz se escuche. Seré cuidadoso.

Gracias

Fidel Castro Ruz

18 de febrero de 2008

5 y 30 p.m.

(fonte: http://www.granma.cubaweb.cu/2008/02/19/nacional/artic03.html)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Anarquismo no Brasil

A Greve de 1917 Tem muuuuito a ver com o que estou lendo ultimamente ("História das Idéias Anarquistas", de George Woodcock): A Plebe - Parte 1 A Plebe - Parte 2 fonte: site Sabotagem (Link ao lado, em "Downloads"). Ótimo site para se achar livros, textos e vídeos. Vá lá achar coisas interessantíssimas!!

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

A "Não Reforma Agrária" do MDA/INCRA no Governo LULA

23 de Abril, 2006, publicado no Ação Terra

A experiência da participação na equipe de Plínio de Arruda Sampaio no segundo semestre de 2003, para elaborar o primeiro documento que deveria ser o II PNRA, foi muito importante para que se pudesse reforçar a consciência de que em política vale tudo, menos ética e moral. No governo de FHC do PSDB não foi diferente, no governo Sarney do I PNRA também não foi diferente. Aliás, na ditadura militar, também não foi diferente. Mas, os intelectuais sempre acham que chegará um dia do primado da ética e da moral também na política.

Ariovaldo Umbelino de Oliveira

“O que que há meu país O que que há ... Tá faltando consciência Tá sobrando paciência Tá faltando alguém gritar ...” 1. Um pouco da História ... A experiência da participação na equipe de Plínio de Arruda Sampaio no segundo semestre de 2003, para elaborar o primeiro documento que deveria ser o II PNRA, foi muito importante para que se pudesse reforçar a consciência de que em política vale tudo, menos ética e moral. No governo de FHC do PSDB não foi diferente, no governo Sarney do I PNRA também não foi diferente. Aliás, na ditadura militar, também não foi diferente. Mas, os intelectuais sempre acham que chegará um dia do primado da ética e da moral também na política. O intelectual José Juliano de Carvalho Filho da FEA – USP e da ABRA 4 em um feliz artigo publicado em “O Globo” de 20/01/2006, foi brilhante na crítica aos dados de 2005 divulgados pelo MDA/INCRA sobre a reforma agrária no governo LULA: “Controvérsia sobre números não é novidade quando se trata de reforma agrária. Quem acompanha a política agrária no Brasil deve se lembrar de várias situações em que este fato ocorreu. Chegou a vez do governo Lula. No governo Figueiredo final do período ditatorial houve controvérsia sobre os números da reforma. Naquela época, final de 1984, foi oficialmente anunciada a emissão do milionésimo documento de titulação de terra. O governo de então apontava este fato como evidência de que estava em curso no país o maior programa de reforma agrária do mundo. Os jornais publicaram várias análises. Manifestei-me a respeito em artigo publicado pela Folha de S. Paulo à época: O milhão de títulos anunciados refere-se a uma série de documentos, entre os quais se incluem títulos de propriedade definitivos para agricultores sem terra, para posseiros que já ocupavam a terra e títulos com direito a ocupação provisória. Evidentemente, a dita maior reforma agrária do mundo, e dos militares, não ocorreu. Cabe também relembrar o óbvio, ou seja, os movimentos sociais foram perseguidos e reprimidos nesse período negro da nossa história.” Assim, como a música de Raul Seixas, “E anos 80” e seu verso certeiro: “E anos 80, a charrete que perdeu o condutor”5 mostrou simbolicamente, ocorreram muitas derrotas/vitórias na luta pela reforma agrária no país. O Brasil dos militares não fez a reforma agrária do Estatuto da terra, mas a sociedade civil ganhou o MST que reforçou a luta que a CPT já fazia desde a década de 70. Ganhou-se o I PNRA, no governo Sarney, mas o Brasil perdeu Marcos Freire, ministro da Reforma Agrária. Veio a Constituição “cidadã” de 1988, mas, a reforma agrária perdeu a possibilidade histórica de desapropriar terras produtivas concedida pelo Estatuto da Terra de 1964. Certamente, é possível pensar que o PT tenha começado a perder seu norte na eleição de 1989, e todos que o ajudaram em sua construção, perderam o partido que poderia começar a revolucionar a sociedade brasileira. Quem sabe aí, pode ter desaparecido na história política do Brasil, a possibilidade de um partido transformar este país. É possível também, pensar que sucumbiu aí, mais uma das teses ortodoxas de um determinado tipo de marxismo. Mas, também é possível pensar que neste momento, uma nova alternativa estava nascendo no campo brasileiro, o cada vez mais forte movimento camponês moderno. Aliás, contrariando intelectuais, políticos de esquerda e quem sabe, parte de seus próprios dirigentes. Feita a digressão, é preciso voltar ao texto de CARVALHO FILHO: “Em dezembro de 1995, primeiro ano do governo FHC, o presidente da República afirmava na imprensa ter conseguido cumprir a meta de campanha, assentando mais de 40 mil famílias. O MST questionava os números oficiais, apresentando o número de famílias assentadas em 1995, como inferior a 15 mil. De acordo com o MST, a diferença se devia ao fato de que FHC, para chegar à meta de 40 mil famílias assentadas naquele ano, somara títulos de regularização fundiária de processos que vinham de governos anteriores e, ainda, de títulos de posseiros. Para o MST, a meta anunciada pelo governo se referia a 40 mil novas famílias que seriam assentadas. Durante a campanha pela reeleição, sempre a inflar seus supostos feitos, o então candidato FHC afirmava pelo site do Incra: O Brasil está realizando a maior reforma agrária em curso no mundo. Na televisão, na propaganda oficial, ator famoso anunciava: Uma família assentada a cada cinco minutos. O segundo mandato, marcado pela chamada reforma agrária de mercado de FHC, desmontou conceitos e condições para uma distribuição fundiária efetiva. Duas linhas de atuação norteavam o governo. De um lado, agressividade na implementação da política fundiária, anúncio de medidas e números, sempre, com razão, contestados. De outro, com a conivência da mídia, crítica contínua aos movimentos sociais, sobretudo o MST com os objetivos de desqualificá-los, enfraquecê-los e criminalizá-los. Essa outra maior reforma agrária em curso no mundo também não ocorreu.” CARVALHO FILHO certamente há de concordar que é preciso continuar registrando para a história, que no interior do segundo mandato de FHC, existiu também, pela primeira vez na história da humanidade, a “Reforma Agrária Virtual dos Correios”. Ou seja, aquela que só ocorreu na televisão para iludir os camponeses sem terra. Quem sabe, FHC ou o PSDB, ou o próprio ministro Raul Jungmann, um dia poderão dar notícia da mesma, para o registro da história. A midia brasileira foi tão conivente com este falso programa de reforma agrária, que nunca mais, ele foi objeto de uma reportagem sequer. O que permite entender que a grande midia só defende a propriedade privada da terra, e mais, que uma parte dos repórteres, não tem a mínima consciência sobre o que escrevem e/ou falam sobre a propriedade privada da terra na sociedade capitalista. Quando foram realizadas as reuniões para formular o II PNRA, encontrou-se no INCRA, um cadastro de mais de 1,2 milhões de brasileiros que tinham sido iludidos pelo PSDB do então presidente FHC. Este partido tem muita conta para prestar à sociedade brasileira. Aliás, ele tem sido um partido do “faz de conta”, “faz de conta que sabe fazer”, “faz de conta que fez”, “faz de conta que irá fazer”, etc, etc, etc. Mas, agora são os camponeses que novamente estão sendo iludidos. Iludidos pelo MDA/INCRA. A pergunta a ser feita é: o Presidente LULA sabia/sabe que o MDA/INCRA está fazendo um “quarto da reforma agrária” prevista na Meta 1 do II PNRA? Ou seja, aquela que interessa diretamente aos movimentos socioterritoriais que formam a Via Campesina e o Fórum da Reforma Agrária?

Doc. Completo:

A “Não Reforma Agrária” do MDA/INCRA no Governo Lula