sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Cantores Bons de Bico

Bem, com a visita do papagaio ao meu lar e com o advento da máquina fotográfica na minha vida, tenho tido um grnade interresse por aves. Ainda mais agora, que um passarinho que cantava de madrugada lá em casa eque sumiiu por anos e anos, voltou. Escuto seu canto novamente, mas agora não às madrugadas, mas pela manhã e de tardezinha - que é quando eu estou em casa. Aí, ouvindo o passarinho, queria saber qual era. Tarefa difícil para quem não sabe nada de passarinhos e que viveu a vida toda na selva de pedras. Porém, encontrei um programa da rádio USP que traz cada passarinho de raça "popular", curiosidades sobre eles e, o que eu estava procurando, seu canto. Ah, tem uma foto também, impressindível. Enfim, esse programa da rádio USP traz os elementos necessários para se identificar uma ave: sua foto e seu canto. Corre lá e veja que lindo!! MCantores Bons de Bico/Rádio USP

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

A invenção da crise

Marilena Chauí Profa. Dra. do Departamento de Filosofia/USP [entrevista tirada do blog de Paulo Henrique Amorim (link ao lado)] Era o fim da tarde. Estava num hotel-fazenda com meus netos e resolvemos ver jogos do PAN-2007. Liguei a televisão e “caí” num canal que exibia um incêndio de imensas proporções enquanto a voz de um locutor dizia: “o governo matou 200 pessoas!”. Fiquei estarrecida e minha primeira reação foi típica de sul-americana dos anos 1960: “Meu Deus! É como o La Moneda e Allende! Lula deve estar cercado no Palácio do Planalto, há um golpe de Estado e já houve 200 mortes! Que vamos fazer?”. Mas enquanto meu pensamento tomava essa direção, a imagem na tela mudou. Apareceu um locutor que bradava: “Mais um crime do apagão aéreo! O avião da TAM não tinha condições para pousar em Congonhas porque a pista não está pronta e porque não há espaço para manobra! Mais um crime do governo!”. Só então compreendi que se tratava de um acidente aéreo e que o locutor responsabilizava o governo pelo acontecimento. Fiquei ainda mais perplexa: como o locutor sabia qual a causa do acidente, se esta só é conhecida depois da abertura da caixa preta do avião? Enquanto me fazia esta pergunta e angustiada desejava saber o que havia ocorrido, pensando no desespero dos passageiros e de suas famílias, o locutor, por algum motivo, mudou a locução: surgiram expressões como “parece que”, “pode ser que”, “quando se souber o que aconteceu”. E eu me disse: mas se é assim, como ele pôde dizer, há alguns segundos, que o governo cometeu o crime de assassinar 200 pessoas? Mudei de canal. E a situação se repetia em todos os canais: primeiro, a afirmação peremptória de que se tratava de mais um episódio da crise do apagão aéreo; a seguir, que se tratava de mais uma calamidade produzida pelo governo Lula; em seguida, que não se sabia se a causa do acidente havia sido a pista molhada ou uma falha do avião. Pessoas eram entrevistadas para dizer (of course) o que sentiam. Autoridades de todo tipo eram trazidas à tela para explicar porque Lula era responsável pelo acidente. ETC. Mas de todo o aparato espetacular de exploração da tragédia e de absoluto silêncio sobre a empresa aérea, que conta em seu passivo com mais de 10 acidentes entre 1996 e 2007 (incluindo o que matou o próprio dono da empresa!), o que me deixou paralisada foi o instante inicial do “noticiário”, quando vi a primeira imagem e ouvi a primeira fala, isto é, a presença da guerra civil e do golpe de Estado. A desaparição da imagem do incêndio e a mudança das falas nos dias seguintes não alteraram minha primeira impressão: a grande mídia foi montando, primeiro, um cenário de guerra e, depois, de golpe de Estado. E, em certos casos, a atitude chega ao ridículo, estabelecendo relações entre o acidente da TAM, o governo Lula, Marx, Lênin e Stálin, mais o Muro de Berlim!!! 1) Que papel desempenhou a mídia brasileira – especialmente a televisão – na “crise aérea” ? Meu relato já lhe dá uma idéia do que penso. O que mais impressiona é a velocidade com que a mídia determinou as causas do acidente, apontou responsáveis e definiu soluções urgentes e drásticas! Mas acho que vale a pena lembrar o essencial: desde o governo FHC, há o projeto de privatizar a INFRAERO e o acidente da GOL, mais a atitude compreensível de auto-proteção assumida pelos controladores aéreos foi o estopim para iniciar uma campanha focalizando a incompetência governamental, de maneira a transformar numa verdade de fato e de direito a necessidade da privatização. É disso que se trata no plano dos interesses econômicos. No plano político, a invenção da crise aérea simplesmente é mais um episódio do fato da mídia e certos setores oposicionistas não admitirem a legitimidade da reeleição de Lula, vista como ofensa pessoal à competência técnica e política da auto-denominada elite brasileira. É bom a gente não esquecer de uma afirmação paradigmática da mídia e desses setores oposicionistas no dia seguinte às eleições: “o povo votou contra a opinião pública”. Eu acho essa afirmação o mais perfeito auto-retrato da mídia brasileira! Do ponto de vista da operação midiática propriamente dita, é interessante observar que a mídia: a) não dá às greves dos funcionários do INSS a mesma relevância que recebem as ações dos controladores aéreos, embora os efeitos sobre as vidas humanas sejam muito mais graves no primeiro caso do que no segundo. Mas pobre trabalhador nasceu para sofrer e morrer, não é? Já a classe média e a elite... bem, é diferente, não? A dedicação quase religiosa da mídia com os atrasos de aviões chega a ser comovente... b) noticiou o acidente da TAM dando explicações como se fossem favas contadas sobre as causas do acontecimento antes que qualquer informação segura pudesse ser transmitida à população. Primeiro, atribuiu o acidente à pista de Congonhas e à Infraero; depois aos excessos da malha aérea, responsabilizando a ANAC; em seguida, depois de haver deixado bem marcada a responsabilidade do governo, levantou suspeitas sobre o piloto (novato, desconhecia o AIRBUS, errou na velocidade de pouso, etc.); passou como gato sobre brasas acerca da responsabilidade da TAM; fez afirmações sobre a extensão da pista principal de Congonhas como insuficiente, deixando de lado, por exemplo, que a de Santos Dumont e Pampulha são menos extensas; c) estabeleceu ligações entre o acidente da GOL e o da TAM e de ambos com a posição dos controladores aéreos, da ANAC e da INFRAERO, levando a população a identificar fatos diferentes e sem ligação entre si, criando o sentimento de pânico, insegurança, cólera e indignação contra o governo Lula. Esses sentimentos foram aumentados com a foto de Marco Aurélio Garcia e a repetição descontextualizada de frases de Guido Mântega, Marta Suplicy e Lula; d) definiu uma cronologia para a crise aérea dando-lhe um começo no acidente da GOL, quando se sabe que há mais de 15 anos o setor aéreo vem tendo problemas variados; em suma, produziu uma cronologia que faz coincidir os problemas do setor e o governo Lula; e) vem deixando em silêncio a péssima atuação da TAM, que conta em seu passivo com mais de 10 acidentes, desde 1996, três deles ocorridos em Congonhas e um deles em Paris – e não dá para dizer que as condições áreas da França são inadequadas! A supervisão dos aparelhos é feita em menos de 15 minutos; defeitos são considerados sem gravidade e a decolagem autorizada, resultando em retornos quase imediatos ao ponto de partida; os pilotos voam mais tempo do que o recomendado; a rotatividade da mão de obra é intensa; a carga excede o peso permitido (consta que o AIRBUS acidentado estava com excesso de combustível por haver enchido os tanques acima do recomendado porque o combustível é mais barato em Porto Alegre!); etc. f) não dá (e sobretudo não deu nos primeiros dias) nenhuma atenção ao fato de que Congonhas, entre 1986 e 1994, só fazia ponte-aérea e, sem mais essa nem aquela, desde 1995 passou a fazer até operações internacionais. Por que será? Que aconteceu a partir de 1995? g) não dá (e sobretudo não deu nos primeiros dias) nenhuma atenção ao fato de que, desde os anos 1980, a exploração imobiliária (ou o eterno poder das construtoras) verticalizou gigantesca e criminosamente Moema, Indianópolis, Campo Belo e Jabaquara. Quando Erundina foi prefeita, lembro-me da grande quantidade de edifícios projetados para esses bairros e cuja construção foi proibida ou embargada, mas que subiram aos céus sem problema a partir de 1993. Por que? Qual a responsabilidade da Prefeitura e da Câmara Municipal? 2) Como a sra. avalia a reação do Governo Lula à atuação da mídia nesse episódio ? Fraca e decepcionante, como no caso do mensalão. Demorou para se manifestar. Quando o fez, se colocou na defensiva. O que teria sido politicamente eficaz e adequado? Já na primeira hora, entrar em rede nacional de rádio e televisão e expor à população o ocorrido, as providências tomadas e a necessidade de aguardar informações seguras. Todos os dias, no chamado “horário nobre”, entrar em rede nacional de rádio e televisão, expondo as ações do dia não só no tocante ao acidente, mas também com relação às questões aéreas nacionais, além de apresentar novos fatos e novas informações, desmentindo informações incorretas e alertando a população sobre isso. Mobilizar os parlamentares e o PT para uma ação nacional de informação, esclarecimento e refutação imediata de notícias incorretas. 3) Em “Leituras da Crise”, a sra. discute a tentativa do impeachment do Presidente na chamada “crise do mensalão”. A sra. vê sinais de uma nova tentativa de impeachment ? Sim. Como eu disse acima, a mídia e setores da oposição política ainda estão inconformados com a reeleição de Lula e farão durante o segundo mandato o que fizeram durante o primeiro, isto é, a tentativa contínua de um golpe de Estado. Tentaram desestabilizar o governo usando como arma as ações da Polícia Federal e do Ministério Público e, depois, com o caso Renan (aliás, o governador Requião foi o único que teve a presença de espírito e a coragem política para indagar porque não houve uma CPI contra o presidente FHC, cuja história privada, durante a presidência, se assemelhou muito à de Renan Calheiros). Como nenhuma das duas tentativas funcionou, esperou-se que a “crise aérea” fizesse o serviço. Como isso não vai acontecer, vamos ver qual vai ser a próxima tentativa, pois isso vai ser assim durante quatro anos. 4) No fim de “Simulacro e Poder” a sra. diz: “... essa ideologia opera com a figura do especialista. Os meios de comunicação não só se alimentam dessa figura, mas não cessam de instituí-la como sujeito da comunicação ...Ideologicamente ... o poder da comunicação de massa não é igual ou semelhante ao da antiga ideologia burguesa, que realizava uma inculcação de valores e idéias. Dizendo-nos o que devemos pensar, sentir, falar e fazer, (a comunicação de massa) afirma que nada sabemos e seu poder se realiza como intimidação social e cultural... O que torna possível essa intimidação e a eficácia da operação dos especialistas ... é ... a presença cotidiana ... em todas as esferas da nossa existência ... essa capacidade é a competência suprema, a forma máxima de poder: o de criar realidade. Esse poder é ainda maior (igualando-se ao divino) quando, graças a instrumentos técnico-cientificos, essa realidade é virtual ou a virtualidade é real...” Qual a relação entre esse trecho de “Simulacro e Poder” e o que se passa hoje ? Antes de me referir à questão do virtual, gostaria de enfatizar a figura do especialista competente, isto é, daquele é supostamente portador de um saber que os demais não possuem e que lhe dá o direito e o poder de mandar, comandar, impor suas idéias e valores e dirigir as consciências e ações dos demais. Como vivemos na chamada “sociedade do conhecimento”, isto é, uma sociedade na qual a ciência e a técnica se tornaram forças produtivas do capital e na qual a posse de conhecimentos ou de informações determina a quantidade e extensão de poder, o especialista tem um poder de intimidação social porque aparece como aquele que possui o conhecimento verdadeiro, enquanto os demais são ignorantes e incompetentes. Do ponto de vista da democracia, essa situação exige o trabalho incessante dos movimentos sociais e populares para afirmar sua competência social e política, reivindicar e defender direitos que assegurem sua validade como cidadãos e como seres humanos, que não podem ser invalidados pela ideologia da competência tecno-científica. E é essa suposta competência que aparece com toda força na produção do virtual. Em “Simulacro e poder” em me refiro ao virtual produzido pelos novos meios tecnológicos de informação e comunicação, que substituem o espaço e o tempo reais – isto é, da percepção, da vivência individual e coletiva, da geografia e da história – por um espaço e um tempo reduzidos a um única dimensão; o espaço virtual só possui a dimensão do “aqui” (não há o distante e o próximo, o invisível, a diferença) e o tempo virtual só possui a dimensão do “agora” (não há o antes e o depois, o passado e o futuro, o escoamento e o fluxo temporais). Ora, as experiências de espaço e tempo são determinantes de noções como identidade e alteridade, subjetividade e objetividade, causalidade, necessidade, liberdade, finalidade, acaso, contingência, desejo, virtude, vício, etc. Isso significa que as categorias de que dispomos para pensar o mundo deixam de ser operantes quando passamos para o plano do virtual e este substitui a realidade por algo outro, ou uma “realidade” outra, produzida exclusivamente por meios tecnológicos. Como se trata da produção de uma “realidade”, trata-se de um ato de criação, que outrora as religiões atribuíam ao divino e a filosofia atribuía à natureza. Os meios de informação e comunicação julgam ter tomado o lugar dos deuses e da natureza e por isso são onipotentes – ou melhor, acreditam-se onipotentes. Penso que a mídia absorve esse aspecto metafísico das novas tecnologias, o transforma em ideologia e se coloca a si mesma como poder criador de realidade: o mundo é o que está na tela da televisão, do computador ou do celular. A “crise aérea” a partir da encenação espetacularizada da tragédia do acidente do avião da TAM é um caso exemplar de criação de “realidade”. Mas essa onipotência da mídia tem sido contestada socialmente, politicamente e artisticamente: o que se passa hoje no Iraque, a revolta dos jovens franceses de origem africana e oriental, o fracasso do golpe contra Chavez, na Venezuela, a “crise do mensalão” e a “crise aérea”, no Brasil, um livro como “O apanhador de pipas” ou um filme como “Filhos da Esperança” são bons exemplos da contestação dessa onipotência midiática fundada na tecnologia do virtual.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Entrevista - Software Livre

Aqui vai uma "entrevista" no JÔ Soares sobre software livre. Um atestado de ignorância, prepotêcia e incomprtência. Mas o que os entrevistados falam sobre software livre é bem interessante. Poderia ser melhor, se não fosse o entrevistador... Parte 1 Parte 2 Parte 3 Parte 4

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Os Brasileiros Emburreceram

Sabe, sempre me interesso pelos comentários de Paulo Henriq1ue Amorim no ig. Me admira muito que alguém com tanta visibilidade na mídia tenha uma opinião sobre ela mesma bem menos alucinada e muito mais crítica. Assim, como sempre leio seus breves comentários, publiquemos um hoje. Ah, o link para sua página no ig, o Conversa Afiada está logo aí do lado! e até mais!! Os Brasileiros Emburreceram

Paulo Henrique Amorim

Máximas e Mínimas 590

. Faz parte da ideologia da elite branca (e separatista, no caso de São Paulo), que se expressa na mídia conservadora (e golpista), explicar a popularidade do Presidente Lula com a circunstância de a maioria dos brasileiros ser pobre e ignorante.

. Os abastados, a classe média emergente, os fregueses da Daslu, os letrados, os cultos, os ex-alunos e professores da USP não gostam do Lula.

(Clique aqui para ler no Último Segundo que a popularidade do Presidente Lula permanece inabalada – ou seja, lá em cima – , mesmo depois da tentativa de Golpe de Estado com a queda do avião da TAM)

. Interessante.

. Quer dizer, então que, quando o povo brasileiro elegeu o presidente Fernando Henrique Cardoso duas vezes, a maioria tinha PhD na Sorbonne e um padrão de vida de Orange County, na California ?

. Então, os brasileiros empobreceram e emburreceram...

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Animação - O Navio

Uma animaçãozinha para alegrar o dia....

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Lenin - Sobre as Greves

Bem, hoje "a cidade pára", como dizem aos quatro ventos os jornais. Isso por quê os metroviários fazem greve. E os pelegos, supervisores, furam a greve - já que provavelvelmente nem se sentem "proletários" para seguirem a greve. E a população, conjuntamente aos meios de comunicação, se sente num caos - deve ser o caos aéreo dos pobres!! E a discussão da greve, como sendo algo ilegítimo desses baderneiros. Ou com o argumento de que funcionário público não teria o seu direito. Ainda mais sendo um "serviço essencial", dizem eles. O presidente do sindicato - que eu não sei é o mesmo demitido por realizar lutas trabalhistas - disse ontem em entrevista a alguma emissora de rádio - recebi essa informação de terceiros próximos inconformados - "que existem outros meios de transporte em São Paulo e que a cidade não pára. Pode? O repórter ficou indignidado!". Ouvi esse mesmo discurso no trabalho hoje. Olha, convenhamos, ninguém vai morrer por ter que chegar ao seu trabalho umas duas horas mais tarde. Claro, tirando os extremos de algum trabalhador ser mandado embora por conta de um atraso. Aí, o problema é bem mais em baixo, e nem pode ser atribuída a culpa disso ao funcionário do metrô. Saúde sim é serviço essencial. Sem ele sim, morremos. Aliás, já que não o temos mesmo,morremos todos os dias. Porém, como seria a forma de luta dos trabalhadores da saúde? Mas isso é um assunto para outro dia e outra ocasião... As formas de pressão dos metroviários não poderia ser outra senão essa. "Abre as catracas", sempre escuto. Porém, por lei isso não é permitido. Para sair da discussão da legalidade/ilegalidade da greve dos funcionários público, do trabalhador, etc, procurei - e achei - um texto clássico sobre as greves como forma de luta e reivindicação dos trabalhadores. Aliás, ele fala das leis ao sinal do texto. O texto de Lenin é bárbaro. Salvo suas temporariedades, como o trabalho infantil, a insalubridade extrema nas condições das fábricas, a jornada de milhares de horas e a falta de leis trabalhistas, podemos ver muitos fatores a que ele se refere ainda em pauta hoje. Como a presença maciça de polciais nas ruas de São Paulo, netse dia de greve, e o papel das leis na manutenção do status quo: "a lei permite aos donos de fábricas reunir-se e tratar abertamente sobre a maneira de reduzir o salário dos operários. ao passo que os operários são tachados de delinqüentes ao se colocarem todos de acordo! Despejam os operários de suas casas, a policia fecha os armazéns em que os operários poderiam adquirir comestíveis a crédito e pretende-se instigar os soldados contra os operários, mesmo quando estes mantêm uma atitude serena e pacifica. Dá-se inclusive aos soldados ordem de abrir fogo contra os operários, e quando matam trabalhadores indefesos, atirando-lhes pelas costas, o próprio czar manifesta a sua gratidão as tropas (assim fez com os soldados que mataram grevistas em Iaroslavl, em 1895) ". Mais ao final do texto, ele diz também que há de se saber a hora certa para se fazer uma greve. Sua falta têm provocadoo desgaste do movimento de greve. Enfim, não perca esse texto maravilhoso. e "vamos ler os clássicos", como proclamam os professores. Mas com cautela, entendo o mundo atual como produto do passado e não como cópia do mesmo. Sobre as Greves V. I. Lenine

1899


Escrito: finais de 1899 Primeira Edição: Revista Proletarskaya Revolyutsiya, No. 8-9, 1924. Publicado de acordo com um manuscrito copiado por mão desconhecida. Fonte da Presente Tradução: On Strikes, Lenin Internet Archive (marxists.org), 2003. Tradução de: Alexandre Linares. HTML por José Braz para The Marxists Internet Archive. Direito de Reprodução: Lenin Internet Archive (marxists.org), 2002. A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License.


Nos últimos anos, as greves operárias são extraordinariamente freqüentes na Rússia. Não existe nenhuma província industrial onde não tenha havido várias greves. Quanto às grandes cidades, as greves não cessam. Compreende-se, pois, que os operários conscientes e os socialistas se coloquem cada vez mais amiúde a questão do significado das greves, das maneiras de realizá-las e das tarefas que os socialistas se propõem ao participarem nelas.

Em primeiro lugar, é preciso ver como se explica o nascimento e a difusão das greves. Quem se lembra de todos os casos de greve conhecidos por experiência própria, por relatos de outros ou através dos jornais, verá logo que as greves surgem e se expandem onde aparecem e trabalham centenas (e, às vezes, milhares) de operários; aí dificilmente se encontrará uma fábrica em que não tenha havido greves; quando eram poucas as grandes fábricas na Rússia, rareavam as greves; mas visto que elas crescem com rapidez tanto nas antigas localidades fabris como nas novas cidades e aldeias industriais, as greves tornam-se cada vez mais freqüentes.

Por que a grande produção fabril leva sempre às greves? Isso se deve ao fato de que o capitalismo leva, necessariamente, à luta dos operários contra os patrões, e quando a produção se transforma numa produção em grande escala, essa luta se converte necessariamente em luta grevista.

Denomina-se capitalismo a organização da sociedade em que a terra, as fábricas, os instrumentos de produção, etc., pertencem a um pequeno numero de latifundiários e capitalistas, enquanto a massa do povo não possui nenhuma ou quase nenhuma propriedade e deve, por isso, alugar sua força de trabalho. Os latifundiários e os industriais contratam os operários, obrigando-os a produzir tais ou quais artigos, que eles vendem no mercado. Os patrões pagam aos operários exclusivamente o salário imprescindível para que estes e sua família mal possam subsistir, e tudo o que o operário produz acima dessa quantidade de produtos necessária para a sua manutenção o patrão embolsa: isso constitui o seu lucro. Portanto, na economia capitalista, a massa do povo trabalha para outros, não trabalha para si, mas para os patrões, e o faz por um salário: compreende-se que os patrões tratem sempre de reduzir o salário: quanto menos entreguem aos operários, mais lucro lhes sobra. Em compensação, os operários tratam de receber o maior salário possível, para poder sustentar a sua família com uma alimentação abundante e sadia, viver numa boa casa e não se vestir como mendigos, mas como se veste todo mundo. Portanto, entre patrões e operários há uma constante luta pelo salário: o patrão tem liberdade de contratar o operário que quiser, pelo que procura o mais barato. O operário tem liberdade de alugar-se ao patrão que quiser, e procura o que paga mais. Trabalhe o operário na cidade ou no campo, alugue seus braços a um latifundiário, a um fazendeiro rico, a um contratista ou a um industrial, sempre regateia com o patrão, lutando contra ele pelo salário.

Mas, pode o operário, por si só, sustentar essa luta? É cada vez maior o numero de operários: os camponeses se arruinam e fogem das aldeias para as cidades e para as fábricas. Os latifundiários e os industriais introduzem máquinas, que deixam os operários sem trabalho. Nas cidades aumenta incessantemente o número de desempregados, e nas aldeias o de gente reduzida a miséria: a existência de um povo faminto faz baixarem ainda mais os salários. É impossível para o operário lutar sozinho contra o patrão. Se o operário exige maior salário ou não aceita a sua rebaixa, o patrão responde: vá para outro lugar, são muitos os famintos que esperam à porta da fabrica e ficarão contentes em trabalhar, mesmo que por um salário baixo.

Quando a ruína do povo chega a tal ponto que nas cidades e nas aldeias há sempre massas de desempregados. quando os patrões amealham enormes fortunas e os pequenos proprietários são substituídos pelos milionários, então o operário transforma-se num homem absolutamente desvalido diante do capitalista. O capitalista obtém a possibilidade de esmagar por completo o operário, de condená-lo à morte num trabalho de forçados, e não só ele, como também sua mulher e seus filhos. Com efeito, vejam as indústrias em que os operários ainda não conseguiram ficar amparados pela lei e não podem oferecer resistência aos capitalistas, e comprovarão que a jornada de trabalho é incrivelmente longa, até de 17 a 19 horas. que criaturas de cinco ou seis anos executam um trabalho extenuante e que os operários passam fome constantemente, condenados a uma morte lenta. Exemplo disso é o caso dos operários que trabalham a domicílio para os capitalistas: mas, qualquer operário se lembrará de muitos outros exemplos! Nem mesmo na escravidão e sob o regime de escravidão existiu uma opressão tão terrível do povo trabalhador como a que sofrem os operários quando não podem opor resistência aos capitalistas nem conquistar leis que limitem a arbitrariedade patronal.

Pois bem, para não permitir que sejam reduzidos a esta tão extrema situação de penúria, os operários iniciam a mais encarniçada luta. Vendo que cada um deles por si só é absolutamente impotente e vive sob a ameaça de perecer sob o jugo do capital, os operários começam a erguer-se, juntos, contra seus patrões. Dão início às greves operárias. A princípio é comum que os operários não tenham nem sequer, uma idéia clara do que procuram conseguir, não compreendem porque atuam assim: simplesmente quebram as máquinas e destroem as fábricas. A única coisa que desejam é fazer sentir aos patrões a sua indignação: experimentam suas forças mancomunadas para sair de uma situação insuportável, sem saber ainda porque sua situação é tão desesperada e quais devem ser suas aspirações.

Em todos os países, a indignação começou com distúrbios isolados, com motins, como dizem em nosso país a polícia e os patrões. Em todos os países, estes distúrbios deram lugar, de um lado, a greves mais ou menos pacificas e, de outro, a uma luta de muitas faces da classe operária por sua emancipação.

Mas que significado têm as greves na luta da classe operária? Para responder a essa pergunta devemos nos deter primeiro em examinar com mais detalhes as greves. Se o salário dos operários se determina – como vimos – por um convênio entre o patrão e o operário. e se cada operário por si só é de todo impotente, torna-se claro que os operários devem necessariamente defender juntos as suas reivindicações; devem necessariamente declarar-se em greve, para impedir que os patrões baixem os salários, ou para conseguir um salário mais alto. E, efetivamente, não existe nenhum pais capitalista em que não sejam deflagradas greves operárias. Em todos os países europeus e na América, os operários se sentem, em toda parte, impotentes quando atuam individualmente e só podem opor resistência aos patrões se estiverem unidos, quer declarando-se em greve, quer ameaçando com a greve. E quanto mais se desenvolve o capitalismo, quanto maior é a rapidez com que crescem as grandes fábricas, quanto mais se vêem deslocados os pequenos pelos grandes capitalistas, mais imperiosa é a necessidade de uma resistência conjunta dos operários porque se agrava o desemprego, aguça-se a competição entre os capitalistas, que procuram produzir mercadorias de modo mais barato possível (para o que é preciso pagar aos operários o menos possível), e acentuam-se as oscilações da industrial e as crises. Quando a indústria prospera, os patrões obtêm grandes lucros e não pensam em reparti-los com os operários: mas durante a crise os patrões tratam de despejar sobre os ombros dos operários os prejuízos. A necessidade das greves na sociedade capitalista está tão reconhecida por todos nos países europeus, que lá a lei não proíbe a declaração de greves: somente na Rússia subsistiram leis selvagens contra as greves (destas leis e de sua aplicação falaremos em outra oportunidade).

Mas as greves, por emanarem da própria natureza da sociedade capitalista, significam o começo da luta da classe operária contra esta estrutura da sociedade. Quando os operários despojados que agem individualmente enfrentam os potentados capitalistas, isso equivale a completa escravização dos operários. Quando, porém, estes operários desapossados se unem, a coisa muda. Não há riquezas que os capitalistas possam aproveitar se não encontram operários dispostos a trabalhar com os instrumentos e materiais dos capitalistas e a produzir novas riquezas. Quando os operários enfrentam sozinhos os patrões continuam sendo verdadeiros escravos, trabalhando eternamente para um estranho, por um pedaço de pão, como assalariados eternamente submissos e silenciosos. Mas quando os operários levantam juntos suas reivindicações e se negam a submeter-se a quem tem a bolsa de ouro, deixam então de ser escravos, convertem-se em homens e começam a exigir que seu trabalho não sirva somente para enriquecer a um punhado de parasitas, mas que permita aos trabalhadores viver como pessoas. Os escravos começam a apresentar a reivindicação de se transformarem em donos: trabalhar e viver não como queiram os latifundiários e capitalistas, mas como queiram os próprios trabalhadores. As greves infundem sempre tal espanto aos capitalistas porque começam a fazer vacilar seu domínio. "Todas as rodas se detêm se assim o quer teu braço vigoroso" diz sobre a classe operária uma canção dos operários alemães. Com efeito, as fábricas, as propriedades dos latifundiários, as máquinas, as ferrovias, etc., etc., são, por assim dizer, rodas de uma enorme engrenagem: esta engrenagem fornece diferentes produtos, transforma-os, distribui-os onde necessários. Toda esta engrenagem é movida pelo operário, que cultiva as terras, extrai os minerais, elabora as mercadorias nas fábricas, constrói casas, oficinas e ferrovias. Quando os operários se negam a trabalhar, todo esse mecanismo ameaça paralisar-se. Cada greve lembra aos capitalistas que os verdadeiros donos não são eles, e sim os operários, que proclamam seus direitos com força crescente. Cada greve lembra aos operários que sua situação não é desesperada e que não estão sós. Vejam que enorme influência exerce uma greve tanto sobre os grevistas como sobre os operários das fábricas vizinhas ou próximas, ou das fábricas do mesmo ramo industrial. Nos tempos atuais, pacíficos, o operário arrasta em silêncio sua carga. não reclama ao patrão, não reflete sobre sua situação. Durante uma greve, o operário proclama em voz alta suas reivindicações, lembra aos patrões todos os atropelos de que tem sido vítima, proclama seus direitos, não pensa apenas em si ou no seu salário, mas pensa também em todos os seus companheiros que abandonaram o trabalho junto com ele e que defendem a causa operária sem medo das provocações.

Toda greve acarreta ao operário grande numero de privações, tão terríveis que só se podem comparar com as calamidades da guerra: fome na família, perda do salário, freqüentes detenções, expulsão da cidade em que reside e onde trabalhava. E apesar de todas essas calamidades, os operários desprezam os que se afastam de seus companheiros e entram em conchavos com o patrão. Vencidas as calamidades da greve, os operários das fábricas próximas sentem entusiasmo sempre que vêem seus companheiros iniciarem a luta. "Os homens que resistem a tais calamidades para quebrar a oposição de um burguês, saberão também quebrar a força de toda a burguesia", dizia um grande mestre do socialismo, Engels, falando das greves dos operários ingleses. Amiúde, basta que se declare em greve uma fabrica para que imediatamente comece uma série de greves em muitas outras fábricas. Como é grande a influência moral das greves, como é contagiante a influência que exerce nos operários ver seus companheiros que, embora temporariamente, se transformam de escravos em pessoas com os mesmos direitos dos ricos! Toda greve infunde vigorosamente nos operários a idéia do socialismo; a idéia da luta de toda a classe operária por sua emancipação do jugo do capital. É muito freqüente que, antes de uma grande greve, os operários de uma fábrica, uma indústria ou uma cidade qualquer, não conheçam sequer o socialismo, nem pensem nele, mas que depois da greve difundam-se entre eles, cada vez mais, os círculos e as associações, e seja maior o número dos operários que se tornam socialistas.

A greve ensina os operários a compreender onde repousa a força dos patrões e onde a dos operários; ensina a pensarem não só em seu patrão e em seus companheiros mais próximos, mas em todos os patrões, em toda a classe capitalista e em toda a classe operária. Quando um patrão que acumulou milhões às custas do trabalho de varias gerações de operários não concede o mais modesto aumento de salário e inclusive tenta reduzi-lo ainda mais e, no caso de os operários oferecerem resistência, põe na rua milhares de famílias famintas, então os operários vêem com clareza que toda a classe capitalista é inimiga de toda a classe operária e que os operários só podem confiar em si mesmos e em sua união. Acontece muitas vezes que um patrão procura enganar, de todas as formas, aos operários, apresentando-se diante deles como um benfeitor, encobrindo a exploração de seus operários com uma dádiva insignificante qualquer, com qualquer promessa falaz. Cada greve sempre destrói de imediato este engano, mostrando aos operários que seu "benfeitor" é um lobo com pele de cordeiro.

Mas a greve abre os olhos dos operários não só quanto aos capitalistas, mas também ao que se refere ao governo e às leis. Do mesmo modo que os patrões se esforçam para aparecerem como benfeitores dos operários. Os funcionários e seus lacaios se esforçam para convencer os operários de que o czar e o governo czarista se preocupam com os patrões e os operários na mesma medida, com espírito de justiça. O operário não conhece as leis e não convive com os funcionários, em particular os altos funcionários, razão pela qual dá, freqüentemente, crédito a tudo isso. Eclode, porém, uma greve. Apresentam-se na fabrica o fiscal, o inspetor fabril, a polícia e, não raro. tropas, e então os operários percebem que infringiram a lei: a lei permite aos donos de fábricas reunir-se e tratar abertamente sobre a maneira de reduzir o salário dos operários. ao passo que os operários são tachados de delinqüentes ao se colocarem todos de acordo! Despejam os operários de suas casas, a policia fecha os armazéns em que os operários poderiam adquirir comestíveis a crédito e pretende-se instigar os soldados contra os operários, mesmo quando estes mantêm uma atitude serena e pacifica. Dá-se inclusive aos soldados ordem de abrir fogo contra os operários, e quando matam trabalhadores indefesos, atirando-lhes pelas costas, o próprio czar manifesta a sua gratidão as tropas (assim fez com os soldados que mataram grevistas em Iaroslavl, em 1895). Torna-se claro para todo operário que o governo czarista é um inimigo jurado, que defende os capitalistas e ata de pés e mãos os operários. O operário começa a entender que as leis são adotadas em benefício exclusivo dos ricos, que também os funcionários defendem os interesses dos ricos, que se tapa a boca do povo trabalhador e não se permite que ele exprima suas necessidades e que a classe operária deve necessariamente arrancar o direito de greve, o direito de participar duma assembléia popular representativa encarregada de promulgar as leis e de velar por seu cumprimento. Por sua vez. o governo compreende muito que as greves abrem os olhos dos operários, razão porque tanto as teme e se esforça a todo custo para sufocá-las o mais rápido possível. Um ministro do Interior alemão, que ficou famoso por suas ferozes perseguições contra os socialistas e os operários conscientes, declarou em uma ocasião, não sem motivo, perante os representantes do povo: "Por trás de cada greve aflora o dragão da revolução". Durante cada greve cresce e desenvolve-se nos operários a consciência de que o governo é seu inimigo e de que a classe operária deve preparar-se para lutar contra ele pelos direitos do povo.

Assim, as greves ensinam os operários a unirem-se; as greves fazem-nos ver que somente unidos podem agüentar a luta contra os capitalistas; as greves ensinam os operários a pensarem na luta de toda a classe patronal e contra o governo autocrático e policial. Exatamente por isso, os socialistas chamam as greves de "escola de guerra", escola em que os operários aprendem a desfechar a guerra contra seus inimigos, pela emancipação de todo o povo e de todos os trabalhadores do jugo dos funcionários e do jugo do Capital.

Mas a "escola de guerra” ainda não é a própria guerra. Quando as greves alcançam grande difusão, alguns operários (e alguns socialistas) começam a pensar que a classe operária pode limitar-se às greves e às caixas ou sociedades de resistência [1], que apenas com as greves a classe operária pode conseguir uma grande melhora em sua situação e até sua própria emancipação. Vendo a força que representam a união dos operários e até mesmo suas pequenas greves, pensam alguns que basta aos operários deflagrarem a greve geral em todo o pais para poder conseguir dos capitalistas e do governo tudo o que queiram. Esta opinião também foi expressada pelos operários de outros países quando o movimento operário estava em sua etapa inicial e os operários ainda tinham muito pouca experiência.

Esta opinião, porém, é errada. As greves são um dos meios de luta da classe operária por sua emancipação, mas não o único, e se os operários não prestam atenção a outros meios de luta, atrasam o desenvolvimento e os êxitos da classe operária. Com efeito, para que as greves tenham êxito são necessárias as caixas de resistência, a fim de manter os operários enquanto dure o conflito. Os operários (comumente os de cada indústria, cada ofício ou cada oficina) organizam essas caixas em todos os países, mas na Rússia isso é extremamente difícil, porque a polícia as persegue, apodera-se do dinheiro e prende os operários. Naturalmente, os operários sabem resguardar-se da policia; naturalmente, a organização dessas caixas é útil, e não queremos dissuadir os operários de se ocuparem disso. Mas não se deve confiar em que, estando proibidas por lei, as caixas operárias possam contar com muitos membros; e sendo escasso o numero de cotizantes, essas caixas não terão grande utilidade. Alem disso, até nos países em que existem livremente as associações operárias, e onde são muito fortes as caixas, até neles a classe operária de modo algum pode limitar-se as greves em sua luta. Basta que sobrevenham dificuldades na indústria (uma crise como a que agora se aproxima da Rússia, por exemplo) para que os patrões temporariamente provoquem greves, porque às vezes lhes convém suspender temporariamente o trabalho e lhes é útil que as caixas operárias esgotem seus fundos. Daí não poderem os operários limitar-se, de modo algum, às greves e às sociedades de resistência.

Em segundo lugar, as greves só são vitoriosas quando os operários já possuem bastante consciência, quando sabem escolher o momento para desencadeá-las, quando sabem apresentar reivindicações, quando mantêm contato com os socialistas para receber volantes e folhetos. Mas operários assim ainda há muito poucos na Rússia, e é necessário fazer todos os esforços para aumentar seu numero, tornar conhecida nas massas operárias a causa operária, fazê-las conhecer o socialismo e a luta operária. Esta é a missão que devem cumprir os socialistas e os operários conscientes, formando, para isso, o partido operário socialista.

Em terceiro lugar, as greves mostram aos operários, como vimos, que o governo é seu inimigo e que é preciso lutar contra ele. Com efeito, as greves ensinaram gradualmente à classe operária, em todos os países, a lutar contra os governos pelos direitos dos operários e pelos direitos de todo o povo. Como já dissemos, essa luta só pode ser levada a cabo pelo partido operário socialista, através da difusão entre os operários das justas idéias sobre o governo e sobre a causa operária. Noutra ocasião nos referiremos em particular a como se realizam na Rússia as greves e a como devem utilizá-la os operários conscientes. Por enquanto devemos assinalar que as greves são, como já afirmamos linhas atrás, urna "escola de guerra”, mas não a própria guerra; as greves são apenas um dos meios de luta, uma das formas do movimento operário.

Das greves isoladas. os operários podem e devem passar, e passam realmente, em todos os países, à luta de toda a classe operária pela emancipação de todos os trabalhadores. Quando todos os operários conscientes se tornam socialistas, isto é, quando tendem para esta emancipação, quando se unem em todo o país para propagar entre os operários o socialismo e ensinar-lhes todos os meios de luta contra seus inimigos, quando formam o partido operário socialista, que luta para libertar todo o povo da opressão do governo e para emancipar todos os trabalhadores do jugo do capital, só então a classe operária se incorpora plenamente ao grande movimento dos operários de todos os países, que agrupa todos os operários, e hasteia a bandeira vermelha em que estão inscritas estas palavras:

"Proletários de todos os países, uni-vos!"


Notas:

[1] As “caixas de resistência” correspondem ao fundo de greve.

(texto tirado do site www.marxists.org, com o link ao lado. Site este que se deve conhecer!)

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Ganância privada e omissão pública resultaram em caos aéreo

Bom, e hoje sai o conteúdo - selecionado - da caixa preta do avião da TAM que caiu na Washington Luís. Agora a imprensa - pelo menos a Folha e até a Veja desta semana - está parando de culpar o Lula. Ah, não é possível, eles hão de encontrar algum outro motivo. O gesto obceno do acessor do Presidente parece que não colou, sendo essa uma saída que encontraram para culpar o governo novamente. Como disse o Luciano, um amigo lá da Geografia, consideraram o gesto obceno como uma comemoração - ao acidente, como ficou subentendido. Pois é. Agora, eles não vão sossegar até achar outro motivo para meter o pau. E eu já cansei faz tempo,a ssim como os movimentos sociais já cansaram! E o Jornal Nacional nem deu ouvidos.... Malditos FDP, é o mínimo que posso dizer. Bem, na época do acidente eu estava de férias - do trabalho e da internet -, o que me fez ausente dessas discussões virtuais. Até foi bom, por que, com experiência em outros casos, sei que ficam especulando, dia após dia, não mudam de assunto e não progridem nas discussões. Elas só melhoram depois de um tempo de reflexão. Em cima disso, encontrei um texto muito bom hoje. Publicado no site do Correio da Cidadania. Fala dessa ganância da imprensa e das empresas aéreas. E, por último, eu tenho uma pergunta a fazer: pq ninguém até agora culpou essa imprensa maldita pelo acidente? Eles estavam pressionando, diariamente e insuportavelmente, para que o aeroporto melhorasse seus horários e que os vôos previstos saíssem na hora. É claro que iriam liberar qualquer pista o quanto antes! Ainda mais esse governo que nunca dexa de falar bem da "mídia democrática" que temos. Ação passível de aplausos executou a Anac, ao obrigar as empresas a pararem de vender passagens até que os vôos fossem regularizados. Disso, a imprensa falou pouco, né?! Bem, chega de falatório e vamos ao texto. E boa leitura!! Ganância privada e omissão pública resultaram em caos aéreo Escrito por Valéria Nader, do site do Correio da Cidadania 27-Jul-2007 O último e trágico acontecimento no setor aéreo em Congonhas, na seqüência não somente de uma crise que se arrasta há tempos, mas também de outras ocorrências dramáticas, vem sendo alvo de uma série de análises com os mais variados enfoques. Se é compreensível que a comoção pela tragédia enseje, especialmente em um primeiro momento, uma dispersão de opiniões na busca de sua explicação e também pelos culpados, chama atenção o maniqueísmo que vem predominando nas análises sobre o caos aéreo, tanto na imprensa como entre especialistas. O perigo é caminhar-se para uma esquizofrenia, que será tanto mais inócua na busca de qualquer solução quanto menos se fizer perceber. O que está verdadeiramente acontecendo na aviação de nosso país? Essa é a pergunta que faz toda a população brasileira que acompanha os problemas aéreos desde que o acidente com a Gol, em setembro de 2006, abriu a caixa-preta da aviação no Brasil. Gol: sem conspirações O emergir à época de uma crise aguda em céu, até então, de brigadeiro, no país em que a aviação civil e a comercial se notabilizavam como pontuais, eficientes e portadoras de tecnologia de ponta, deixou atônitos todos os que assim se apercebiam da infra-estrutura aérea de que se utilizavam. Não poderiam pensar ou agir de outra forma os leigos, diante de uma imagem tão bem construída e também operante. Mas já nesse momento começaram a emergir problemas reais que há anos vem enfrentando o setor e, para cuja explosão, o acidente da Gol fora somente a gota d’água. Analistas, especialistas e profissionais sérios, que antes do acidente não teriam, obviamente, a menor chance de furar o bloqueio das arraigadas estruturas de poder e dos meios de comunicação para expor as mazelas do setor, viram-se na contingência de o fazer em função das frestas que se abriram diante da gravidade do quadro. Já no começo desse ano de 2007, não poderia mais restar dúvidas quanto às deficiências que há anos vêm sendo represadas. Em abril, Uébio José da Silva, presidente do Sindicato dos Aeroviários de São Paulo, em conversa com o Correio, constatava que “o acidente com o grupo Mamonas Assassinas, ocorrido há dez anos, foi um erro de controle do tráfego aéreo, que poderia ter corrigido a rota e evitado sua colisão”. Especulações quanto a eventuais conspirações que estariam sendo tecidas pelos controladores do tráfego aéreo, ou outras quaisquer, já aí se desmascararam: “o que ocorreu é que os controladores se viram à mercê de serem responsabilizados penalmente por homicídio culposo devido ao acidente da Gol, e isso foi a gota d’água para que se abrisse a caixa-preta da aviação civil no Brasil”, ressaltou Uébio em abril. Especulações, ademais, quanto à responsabilidade da atual gestão já aí também ficaram delimitadas, vez que a derrocada aérea, sem dúvida alguma, transcende o governo Lula. No entanto, é também inegável, segundo narrou o próprio Uébio, que a atual gestão não ficou devendo nada às anteriores, na medida em que se perdeu por completo, empurrando os problemas com a barriga. Sem qualquer plano para implementar no setor, sem qualquer gestão conjunta entre o governo federal, o Ministério da Defesa, a Infraero e a ANAC (a Agência Nacional de Aviação Civil), envolvendo todos os seus atores, as soluções anunciadas não passaram de bravatas inconseqüentes. Tam: quais os novos “sofismas”? E agora, com mais um trágico acontecimento em menos de um ano, até agora o maior na história do país, e onde provavelmente mais de 200 vidas foram ceifadas, quais seriam as novas formulações? Há ainda margem para especulações, divagações, a exemplo daquelas que ainda ressoam? Abriu-se, certamente, um cenário mais cristalino, que literalmente desabou sobre a cabeça da população, tornando-se difícil mascará-lo. Mas, por isso mesmo, um cenário mais intrincado, e onde “sofismas” podem aparecer, e já estão aparecendo, de forma mais sofisticada. De um lado, mediante a realidade cabal, alguns dos maiores veículos de comunicação, os grandes sustentáculos do status quo, estampam daqui e dali análises questionadoras do enorme volume de recursos que vem sendo despendido no pagamento de juros da dívida pública – dos quais os maiores beneficiários são os especuladores -, em detrimento dos investimentos na infra-estrutura do país. Muito provavelmente não com esse propósito explícito, insinua-se aí um questionamento ao modelo econômico dominante, que não foi nem mesmo arranhado em suas linhas mestras pelo ex-operário e atual presidente Lula. Por outro lado, vêm sendo a cada dia mais freqüentes críticas à “esquerda” do espectro político, denunciando propósitos “golpistas” que estariam a caminho por parte da grande mídia e dos antigos grupos de poder, aproveitando-se do atual acidente para imputar culpas e desestabilizar o atual governo. Ainda que sejam cabíveis tais alertas, não se afiguram como essenciais. Tornam-se mesmo inócuos em um momento com a gravidade do atual, por pelo menos três fatos incontestáveis. Em primeiro lugar, conforme já acima salientado, quaisquer análises minimamente sérias não deixam dúvidas quanto às origens remotas da atual crise, transcendendo a atual gestão. Além disso, não se trata da primeira e nem da última vez que a grande mídia se aproveita de um episódio para vingar a pedra no sapato que para ela representa a chegada de um homem de origem popular à presidência. Mas, por último, e preponderando sobre essa constatação, não se pode deixar de levar em conta a relação esquizofrênica que essa própria mídia mantém com um mandatário que - segundo reconhecido até entre as hostes políticas aliadas ao governo Lula – manteve até agora intactas as bases essenciais de sustentação das elites dominantes no país. Seria, assim, no mínimo arriscado apostar no poder e na disposição “golpista” daqueles que são historicamente “poderosos”. O que está em jogo Para que se tenha um diagnóstico sério e, acima de tudo, efetivo da calamidade que vem atravessando o país no setor aéreo, importa buscar o reconhecimento de suas raízes mais profundas, que agora se projetaram de modo contundente e incontestável na conjuntura imediata. O entrelaçamento dos interesses privados aos públicos, de forma quase sempre a usurpar os últimos, não constitui uma novidade no Brasil. Notoriamente presente desde que se intensificou o projeto nacional-desenvolvimentista, já fora largamente definido na ditadura como a “privatização do Estado”, na medida em que este assumia os ônus do crescente endividamento externo. Daí em diante, ao passo em que o projeto neoliberal assolou os quatro cantos do mundo, os países emergentes foram palco de benesses cada vez maiores do setor público em prol do setor privado, assumindo o último papel preponderante na condução das diversas economias. Constituiriam, nesse sentido, meras coincidências, em nosso país especificamente, o apagão elétrico, a crise do racionamento de energia, o escândalo das termoelétricas – que se provaram desnecessárias e acabaram por ser assumidas pelo Estado, através da Petrobras -, a degringolada das rodovias e da infra-estrutura portuária, a cratera do metrô de São Paulo e, agora, o apagão aéreo? Seguindo-se quase ininterruptamente um ao outro, poderiam ser designados de fatalidades esses acontecimentos? Se uma rápida retomada histórica sugere que pensar em fatalidade seria uma forma primária de encarar a situação, o diretor de Segurança do Vôo do Sindicato Nacional dos Aeronautas e comandante da Varig, Carlos Gilberto Camacho, em uma entrevista ao Correio sobre o último acidente da TAM em Congonhas, reforça essa apreensão, ao deixar claro com seu depoimento alguns determinantes básicos que concorreram para o caos atual. Inadequação de Congonhas e/ou ganância das empresas? Em face do atual acidente, a inadequação do aeroporto de Congonhas para a quantidade de operações a que vinha sendo submetido é uma das causas mais exploradas pela mídia - em um claro viés, deve-se admitir, de culpabilização das autoridades e suavização da responsabilidade das empresas aéreas. Não há dúvidas, segundo ressalta Camacho, quanto à sobrecarga em Congonhas: “o aeroporto de Congonhas perdeu, ao longo do tempo, sua vocação, que era atender a vôos regionais com até duas horas de duração. No limite, uma aeronave poderia decolar de São Paulo, pousar em Salvador e retornar. Hoje, o aeroporto é um hub de distribuição de vôos nacionais e internacionais; há um excesso em sua utilização exatamente por conta da oferta e da demanda, uma equação que tem uma capacidade de equilíbrio incrível. Se for levado em consideração que o aeroporto tem limites e restrições, particularmente no que diz respeito à sua operacionalidade, é um aeroporto que pode sim ser utilizado. Porém, devem ser alterados os tipos e o peso das aeronaves que o utilizam e, em dias de chuva, o aeroporto sequer deve ser operado”. Ainda segundo Camacho, no ano de 2006, houve quatro grandes derrapagens no aeroporto, que foram a antecipação da tragédia. “Fomos avisados; a natureza não nos enganou”. Por que então tamanha insistência em arriscar? O motivo não é nada gratuito. “A ganância das empresas aéreas é um complicador grande, pois, se pararmos para analisar, o aeroporto poderia muito bem atender às pontes aéreas de São Paulo até o Rio, Belo Horizonte, Curitiba e Brasília, por exemplo. Mas trata-se de um aeroporto que está saturado, e as autoridades responsáveis sofrem diversos tipos de pressões. Temos, basicamente, a lógica do lucro; se o capital não é contido ao ocupar o seu espaço e lugar, ele vai avançando. Ou seja, o capital tem a necessidade de aferir cada vez mais lucratividade e quem deve regular esse modelo é a sociedade. No aeroporto de Congonhas, que é um dos aeroportos mais lucrativos do mundo, logicamente iria haver, pela lógica do mercado, essa concentração de vôos. Quem tem o papel de regular isso são as autoridades, nossos representantes legais. Quando não o fazem, é necessário repúdio, através de medidas via Ministério Público, Justiça Federal, da sociedade etc. Estes instrumentos legais estão aí para coibir abusos e excessos. Foi exatamente isso o que aconteceu quando, no início deste ano, o Ministério Público Federal tentou interditar o aeroporto de Congonhas”, ressalta Camacho. Uma lógica perversa e a ANAC O relato de um experiente comandante do setor é uma evidência, portanto, de que estamos diante de uma lógica perversa, onde o que menos interessa é a busca isolada de bodes expiatórios, o governo, a oposição, as empresas, a mídia etc. Afinal, se promíscuos interesses privados se fizeram valer é porque há anos não se faz devidamente presente o poder público. “Nesse momento, a responsabilidade é de um conjunto de atores, não há um único responsável. As coisas foram acontecendo durante anos e anos. Não é culpa de um nem de dois governos, mas sim de uma falta de planejamento estratégico no país em relação ao transporte aéreo”, reitera o comandante da Varig. A ANAC, mais uma das agências que vieram na onda da desregulamentação, é apenas uma das engrenagens desse processo: “trata-se de uma agência nova, que ainda está ganhando experiência, que ainda está aprendendo. Os capitalistas do setor, não; esses têm muito conhecimento de causa. O que houve foi uma dicotomia, um desencontro total. Se levarmos em conta que 92% do setor estão nas mãos de duas empresas, um duopólio, não tenha dúvidas de que essas empresas terão um peso muito grande nas decisões da Agência. O Conselho de Aviação Civil (CONAC) se reuniu várias vezes nos últimos anos, apresentando diversas propostas para o setor. No entanto, a ANAC não atendeu a nenhuma das resoluções. A agência serve sim aos interesses das empresas, em detrimento dos interesses da sociedade”. Para ler a entrevista completa com Carlos Gilberto Camacho, clique aqui. Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania.