quarta-feira, 31 de maio de 2006

Execuções

Pois é... Mais um pouquinho desta estória triste.

Execuções

Ouvidoria da Polícia quer investigação de grupos de extermínio Ouvidoria quer apuração de cinco casos de assassinatos na Grande São Paulo cometidos por elementos encapuzadas que podem pertencer às corporações policiais. A solicitação foi feita às corregedorias das polícias Civil e Militar. Negando saber da existência de esquadrões da morte em SP, ouvidor deve avaliar caso de policiais com camiseta da escuderia Le Cocq. Verena Glass - Carta Maior São Paulo – As denuncias da ação de supostos grupos de extermínio formados por policiais em São Paulo levou a Ouvidoria da Policia do Estado a solicitar, nesta segunda (22), que o IML priorize a perícia de 12 corpos, vitimas de cinco ataques executados por homens encapuzados portando armamentos pesados. Por não terem os autores conhecidos, os casos não estão na lista dos laudos solicitados pelo Ministério Público, que avaliará apenas aqueles onde há comprovação de autoria de policiais. O ouvidor Antonio Funari Filho também solicitou às corregedorias das polícias Civil e Militar que abram inquéritos em suas corporações para investigar os casos. Concretamente, segundo Funari, o que existe por enquanto são apenas “cinco denúncias de casos concretos de violência covarde”, cometida por “elementos usando máscaras ninja e portando armamento pesado” no Jaçanã, em São Mateus, em Guarulhos, no Parque Bristol e no Parque São Rafael. Mas existem indícios de que há envolvimento de policiais nessas ações, principalmente por conta do armamento usado, afirma Funari. Nesta segunda, o ouvidor também se reuniu com o secretário de Segurança do Estado, Saulo de Castro Abreu Filho, e solicitou a intervenção de policiais especializados em crime organizado para inibir a “organização de outros criminosos, policiais ou não”. Escuderia Le Cocq A presença de dois homens vestindo camisetas com os dizeres “Scuderie Detetive Le Cocq, esquadrão da morte, Brasil” em uma audiência na Assembléia Legislativa no último dia 16 ainda não foi investigada pela ouvidoria, que teria recebido informações que ambos eram agentes penitenciários e, portanto, objetos para a ouvidoria penitenciária. De acordo com o depoimento à Carta Maior de um jornalista (que preferiu não ser identificado) e que conversou com um dos rapazes, porém, os dois são policiais. “Um deles disse que a camiseta era apenas uma brincadeira e não quis conversa, mas o outro confirmou que havia um movimento na polícia de organização de um novo esquadrão da morte, não como o que agia durante o período da ditadura militar, mas algo parecido. Segundo o policial, que disse ter 24 anos e estar há quatro na corporação, não adiantaria esperar autorização dos superiores para vingar a morte dos policiais assassinados pelo PCC”. Segundo o jornalista, a impressão que teve é que “são jovens com muita raiva, que se sentem excluídos e sem proteção, abandonados pelos chefes e que querem assumir por conta própria o fazer justiça pelos colegas". Afirmando desconhecer a existência ou a organização de esquadrões da morte ou de extermínio em São Paulo nos últimos anos, o ouvidor Antonio Funari disse que poderá averiguar o policiais a partir desta denuncia. Como a ouvidoria só atua em casos de denuncia, Funari pede à população que encaminhe ao órgão qualquer indício de execução possivelmente cometida por policiais através de sua pagina eletrônica, www.ouvidoria-policia.sp.gov.br .

segunda-feira, 22 de maio de 2006

A matança dos suspeitos

Triste, muito triste. Ah, só completando: dêem uma olhadinha no blog do Ferrés. Ele tem outras informações do caso, e foi até ameaçado de morte por postá-las. A matança dos suspeitos Fonte: Carta Maior - 17/05 Já que não temos justiça, por que não nos contentar com a vingança? Os meninos pardos e pobres da periferia estão aí pra isso mesmo. Para morrer na lista dos suspeitos anônimos. Para serem executados pela polícia ou pelos traficantes. Maria Rita Kehl* Vamos falar sério: alguém acredita que a rebelião do PCC foi controlada pela polícia de São Paulo? Vejamos: as autoridades apresentaram aos cidadãos evidências de que pelo menos uma parte da poderosa quadrilha do crime organizado foi desbaratada? O sigilo dos celulares que organizaram, de dentro das prisões, a onda de atos terroristas no estado de São Paulo, Paraná, Mato Grosso, etc, foi quebrado para revelar os nomes de quem trabalhou para Marcos Camacho, o Marcola, fora da cadeia? Qual foi o plano de inteligência posto em ação para debelar a investida do terror iniciada no último final de semana? Alguém acredita que “voltamos à normalidade?” Ou se voltamos – pois a vida está mais ou menos com a mesma cara de antes, só um pouco mais envergonhada: de que normalidade se trata? Uma normalidade vexada: uma vez constatada a rapidez com que os capitalistas selvagens do tráfico de drogas desestabilizaram o cotidiano do estado mais rico do Brasil, não dá mais para esconder o fato de que nossa precária tranqüilidade depende integralmente da tranqüilidade deles. Se os defensores da lei e da ordem não mexerem com seus negócios, eles não mexem conosco. Caso contrário, se seus interesses forem afetados, eles põem para funcionar imediatamente a rede de miseráveis a serviço do tráfico, conectada através de celulares autorizados pelo sistema carcerário (que outra explicação para a falta de bloqueadores e de detectores de metal nos presídios?) e toleradas pelo governador de plantão. No caso, o mesmo governador que, na hora do aperto, rejeitou trabalhar em colaboração com a Polícia Federal e, horas depois, negou ter feito acordos com os líderes do PCC. Segunda feira, nos telejornais, o governador Lembo nos fez recordar a retórica autoritária dos militares: nada a declarar além de “tudo tranqüilo, tudo sob controle”. E quanto aos oitenta mortos (hoje são 115), governador? Ah, aquilo. Bem, aquilo foi um drama, é claro. Lamento muito. Mas pertence ao passado. A falta de transparência na conduta das autoridades e a desinformação proposital, que ajuda a semear o pânico na população, fazem parte das táticas autoritárias do atual governador de São Paulo. Quanto menos a sociedade souber a respeito da crise que nos afeta diretamente, melhor. Melhor para quem? Na noite de segunda feira, quando os paulistanos em pânico tentavam voltar mais cedo para casa, vi-me parada ao lado de uma viatura policial, em um dos muitos congestionamentos que bloquearam a cidade. Olhei o homem à minha esquerda e, pela primeira vez na vida, solidarizei-me com um policial. Vi um homem humilde, desprotegido, assustado. Cumprimentou-me com um aceno conformado, como quem diz: fazer o que, não é? Pensei: ele sabe que está participando de uma farsa. Uma farsa que pode lhe custar a vida. De repente entendi uma parte, pelo menos uma parte, da já habitual truculência da polícia brasileira: eles sabem que arriscam a vida em uma farsa. Não me refiro aos salários de fome que facilitam a corrupção entre bandidos e PMs. Refiro-me ao combate ao crime, à proteção da população, que são a própria razão de ser do trabalho dos policiais. Se até eu, que sou boba, percebi a farsa montada para que a polícia fingisse controlar o terror que se espalhava pela cidade enquanto as autoridades negociavam respeitosamente com Marcolas e Macarrões, imagino a situação do meu companheiro de engarrafamento. Imagino a falta total de sentido do exercício arriscado de sua profissão. Imagino o sentimento de falta de dignidade destes que têm licença para matar os pobres, mas sabem que não podem mexer com os interesses dos ricos, nem mesmo dos que estão trancados em presídios de segurança máxima e restrições mínimas. Mas é preciso trabalhar, tocar a vida, exercer o trabalho sujo no qual não botam fé nenhuma. É preciso encontrar suspeitos, enfrentá-los a tiros, mostrar alguns cadáveres à sociedade. Satisfazer nossa necessidade de justiça com um teatro de vingança. A esquizofrenia da condição dos policiais militares foi revelada por algumas notícias de jornal: encapuzados como bandidos, executam inocentes sem razão alguma para a seguir, exibindo a farda, fingirem ter chegado a tempo de levar a vítima para o hospital. Isso é o que alguns PMs fazem na periferia, nos bairros pobres onde também eles moram, onde o desamparo em relação à lei é mais antigo e mais radical do que nas regiões mais centrais da cidade. Nas ruas escuras das periferias os PMs cumprem seu dever de vingança e atiram no entregador de pizza. Atiram no menino que esperava a noiva no ponto de ônibus, ou nos anônimos que conversam desprevenidos, numa esquina qualquer. No motoboy que fugiu assustado – quem mandou fugir? Alguma ele fez... Não percebem – ou percebem? – que o arbítrio e a truculência com que tratam a população pobre contribui para o prestígio dos chefes do crime, que às vezes se oferecem às comunidades como única alternativa de proteção. Assim a polícia vem “tranqüilizando” a cidade, ao apresentar um número de cadáveres “suspeitos” superior ao número de seus companheiros mortos pelo terrorismo do tráfico. Suspeitos que não terão nem ao menos a sorte do brasileiro Jean Charles, cuja morte será cobrada da polícia inglesa porque dela se espera que não execute sumariamente os cidadãos que aborda, por mais suspeitos que possam parecer. Não é o caso dos meninos daqui; no Brasil ninguém, a não ser os familiares das vítimas, reprova a polícia pelas execuções sumárias de centenas de “suspeitos”. Mas até mesmo os familiares têm medo de denunciar o arbítrio, temendo retaliações. Aqui, achamos melhor fingir que os suspeitos eram perigosos, e seus assassinatos são condição na nossa segurança. Deixemos o Marcola em paz; ele só está cuidando de seus negócios. Negócios que, se legalizados, deixariam o campo de forças muito mais claro e menos violento (morre muito mais gente inocente na guerra do tráfico do que morreriam de overdose, se as drogas fossem liberadas – disso estou certa). Mas são negócios que, se legalizados, dariam muito menos lucro. O crime é que compensa. Então ficamos assim: o estado negocia seus interesses com os do Marcola, um homem poderoso, fino, que lê Dante Alighieri e tem muito dinheiro. Deixa em paz os superiores do Marcola que vivem soltos por aí, no Congresso talvez, ou abrigados em algumas secretarias de governo. Deles, pelo menos, a população sabe o que pode e o que não pode esperar. E já que é preciso dar alguma satisfação à sociedade assustada, deixemos a polícia à vontade para matar suspeitos na calada da noite. Os policiais se arriscam tanto, coitados. Ganham tão pouco para servir à sociedade, e podem tão pouco contra os criminosos de verdade. Eles precisam acreditar em alguma coisa; precisam de alguma compensação. Já que não temos justiça, por que não nos contentar com a vingança? Os meninos pardos e pobres da periferia estão aí pra isso mesmo. Para morrer na lista dos suspeitos anônimos. Para serem executados pela polícia ou pelos traficantes. Para se viciarem em crack e se alistar nas fileiras dos soldadinhos do tráfico. Para sustentar nossa ilusão de que os bandidos estão nas favelas e de que do lado de cá, tudo está sob controle. *Maria Rita Kehl é psicanalista, ensaísta e poeta, é autora do livro "A mínima diferença - o masculino e o feminino na cultura".

sexta-feira, 12 de maio de 2006

Lei Boliviana Desmente Cobertura da Mídia Brasileira

Tenho procurado textos sobre a situação da Petrobrás e do gás da Bolívia. Encontro uns que defendem e outros que são totalmente contra. Achei melhor postar um que conteste. Não que eu concorde 100%, mas o outro lado já está sendo muito bem defendido. Daremos voz ao outro. O primeiro texto é meio massante no começo, mas depois melhora. Depois vem o decreto do Evo. Meio extenso, mas vale a pena. E bom frio a todos, que não passa! Lei Boliviana Desmente Cobertura da Mídia Brasileira Por Gilberto Maringoni Fonte: Carta Maior, 3/5/2006 São Paulo - A maior parte da imprensa brasileira não pensou muito. Saiu logo atirando: “Brasil cria corvos na América do Sul” (Eliane Cantanhede) “, “Adiós Petrobrás” (manchete do Diário do Comércio), “Despreparo e improvisação” (Miriam Leitão) e “Golpe letal” (editorial do Estado de S. Paulo). Tudo leva a crer que estamos diante de uma declaração de guerra e da desapropriação unilateral de bens e propriedades do Brasil. Vigorou mais a bílis do que a racionalidade jornalística. Um exame detalhado no Decreto Supremo, assinado pelo presidente da Bolívia, nem de longe aponta para algo semelhante. “O que Evo Morales propõe não é arresto dos bens e ativos da companhia, mas uma repartição mais vantajosa nos royalties do gás”, aponta Fernando Siqueira, diretor da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet). “Essa é uma promessa de campanha. Se a Petrobrás tiver cabeça fria e competência para negociar, não haverá problemas maiores. O Brasil é o melhor mercado para o gás boliviano”, completa ele. A letra da Lei Na realidade, o Decreto Supremo 28.701, aprovado em 1o de maio último, apenas reafirma e materializa as diretrizes já expressas na Constituição do país e reafirmadas na Lei de Hidrocarbonetos, aprovada , em 17 de maio de 2005. Não há neles uma só linha falando em desapropriação e arresto de ativos, como pinta a mídia brasileira. Mas, logo de saída, enfatiza-se que “O Estado recupera a propriedade e o controle total e absoluto dos recursos (naturais)”. É melhor colocar os fatos em ordem cronológica, para desembaralhar a confusão. A leitura pode ser um pouco árida, mas é esclarecedora. Vamos lá. A Constituição Política da República da Bolívia em seu artigo 139o. diz o seguinte: “As reservas de hidrocarbonetos, qualquer que seja o estado em que se encontrem ou a forma em que se apresentem, são de domínio direto, inalienável, imprescritível do Estado. Nenhuma concessão ou controle poderá conferir a propriedade das reservas de hidrocarbonetos. A prospecção, exploração, comercialização e transporte dos hidrocarbonetos e seus derivados são de responsabilidade do Estado”. A Constituição é de 1967 e sofreu cinco reformas até 2005. Portanto, é anterior ao governo Evo Morales. Em 18 de julho de 2004, após intensa pressão de movimentos sociais, é realizado o plebiscito sobre a exploração e comercialização do gás, ainda sob o governo do presidente Carlos Mesa (2003-2006). A posição vencedora era a de nacionalização do produto logo após sua extração, ou “na boca do poço”. Mesa cumpriu um mandato-tampão, após a queda do presidente Gonzalo Sánchez de Losada, por conta dos protestos contra a política de exportação de gás. Na promessa de Mesa constava a edição de uma nova lei de hidrocarbonetos. A regulamentação do petróleo A palavra é cumprida e, em 17 de maio de 2004, uma nova norma é aprovada. Clique aqui para ler a íntegra . Em seu artigo 5o., ela refere-se tanto ao plebiscito, quanto ao artigo 139o. da Constituição, afirmando proceder a recuperação “da propriedade de todos os hidrocarbonetos na boca do poço para o Estado boliviano. E o Estado exercerá, através de Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), seu direito proprietário sobre a totalidade dos hidrocarbonetos”. Mesa não tinha nada de “populista”, ou de “nacionalista retrógrado”, como a imprensa acusa Evo Morales. Ao contrário. Trata-se de um empresário sem participação política anterior ao seu mandato. A lei dedica seu artigo 6o. à refundação da YPFB, cujos ativos haviam sido quase totalmente privatizados nos últimos anos. O artigo 8o. “dispõe que o Estado reterá 50% do valor da produção de gás e petróleo”, de acordo com o plebiscito. Mais adiante, o artigo 53º. cria “o Imposto Direto dos Hidrocarbonetos (IDH)”. No item seguinte, afirma-se que “A alíquota do IDH é de 32% do total da produção (...) medida no ponto de fiscalização”. Assim, pela soma da repartição dos royalties e pela cobrança de impostos, chega-se aos 82% destinados ao Estado boliviano. Repetindo: todo o relatado acima aconteceu ANTES da posse de Evo Morales. Impostos e Nacionalização O recente decreto de Morales, apenas tenta fazer com que as leis anteriores “peguem”. Assim, seu artigo 2o. ela afirma: “A partir de 1o. de maio de 2006, as empresas petroleiras que atualmente realizam atividades de produção de gás e petróleo no território nacional estão obrigadas a entregar à YPFB toda a produção de hidrocarbonetos”. O tópico seguinte demarca: “Só poderão seguir operando no país as companhias que acatem imediatamente as disposições do presente decreto (...), até que num prazo não maior a 180 dias de sua promulgação, se regularize a atividade mediante contratos que cumpram as condições e requisitos legais e constitucionais. Ao término deste prazo, as companhias que não firmarem contratos não poderão seguir operando no país”. O ponto central da lei está em seu artigo 4º.: “Durante o período de transição, para os campos cuja produção (...) de gás natural no ano de 2005 tenha sido superior a 100 milhões de pés cúbicos diários, o valor da produção se distribuirá da seguinte forma: 82% para o Estado (18% de regalias e participações, 32% de imposto direto e 32% através de uma participação adicional para a YPBF) e 18% para as companhias”. A nacionalização – ressalte-se novamente, sem confisco – está no artigo 7o. “Se nacionalizam as ações necessárias para que a YPBF controle com o mínimo de 50% mais 1 as empresas Chaco S.A. (British Petroleum), Andina S.A. (Repsol espanhola), Transredes AS (Enron), Petrobrás Bolívia Refinación AS e Compañía Logística de Hidrocarburos de Bolivia SA. (Oiltanking GmbH alemã)”. Em entrevista ao jornal boliviano La Razón , o vice-presidente boliviano Alvaro Garcia Linera adverte que os 180 dias compreendem “um período de transição, em que ainda não estão vigentes velhos contratos, e tampouco estão definidos os novos”. Segundo ele, nestes meses acontecerão auditorias “empresa por empresa, para examinar-se seus investimentos, custos, gastos de operação, rentabilidade e como irão se fixar os novos ingressos para o estado e para as companhias”. FHC provoca prejuízo “A reação da imprensa deveria ter ocorrido quando a Petrobrás assinou contratos de gás com a Bolívia”, aponta Fernando Siqueira. Segundo ele, “Por pressão de FHC, ela assumiu o gasoduto boliviano, quando ainda não existia aqui mercado para o gás. Durante cinco anos, a empresa importou 18 milhões de metros cúbicos do produto e pagou por 25 milhões, pois a atividade era anti econômica”. Não era exatamente à Bolívia que os pagamentos eram feitos. Os destinatários eram as empresas Total (França), Repsol (Espanha), Amaco (EUA) e Enron (EUA). Elas exploravam, em 1998, reservas de 400 milhões de metros cúbicos e pressionaram o Brasil a mudar sua matriz energética hídrica, criando assim mercado para o gás. “A Petrobrás fez um contrato absurdo e ninguém reclamou porque ela era 90% estatal”, ressalta Siqueira. As possíveis perdas são, seguramente, menores do que as do contrato firmado no governo tucano, assegura. Na época, a empresa assumiu o risco cambial e uma série de outras incertezas. “O que acontece hoje? FHC vendeu cerca de 40% do capital em Wall Street e mais 19% foi para gente como Benjamin Steinbruch e Daniel Dantas. O Estado detém apenas 32% da empresa, embora tenha a maioria dos votos”, diz ele. Os acionistas privados agora pressionam o governo e a imprensa, resultando nessa grita toda. Decreto Supremo 28071 Evo Morales Ayma Presidente Constitucional da República Herois do Chaco: Considerando: Que em históricas jornadas de luta o povo conquistou à custa do seu sangue o direito a que a nossa riqueza em hidrocarbonetos volte às mãos da nação e seja utilizada em benefício do país. Que no Referendo Vinculante de 18 de Julho de 2004, através da contundente resposta à pergunta 2, o povo decidiu, de maneira soberana, que o Estado Nacional recupere a propriedade de todos os hidrocarbonetos produzidos no país. Que, de acordo como expressamente disposto nos Artigos 136, 137 e 139 da Constituição Política do Estado, os hidrocarbonetos são bens nacionais de domínio originário, directo, inalienáveis e imprescritíveis do Estado, razão pela qual constituem propriedade pública inviolável. Que, por mandato do inciso 5 do Artigo 59 da Constituição Política do Estado, os contratos de exploração de riquezas nacionais devem ser autorizados e aprovados pelo Poder Legislativo, critério reiterado na sentença do Tribunal Constitucional Nº 0019/2005 de 7 de Março de 2005. Que esta autorização e aprovação legislativa constitui o fundamento do contrato de exploração de riquezas nacionais por tratar-se do consentimento que outorga a nação, como proprietária destas riquezas, através dos seus representantes. Que as actividades de exploração e produção de hidrocarbonetos se estão a efectuar mediante contratos que não cumpriram com os requisitos constitucionais e que violam expressamente os mandatos da Carta Magna ao entregar a propriedade da nossa riqueza em hidrocarbonetos a mãos estrangeiras. Que expirou o prazo de 180 dias, indicado pelo Artigo 5 da Lei Nº 3058, de 17 de Maio de 2005, Lei dos Hidrocarbonetos, para a assinatura obrigatória de novos contratos. Que o chamado processo de capitalização e privatização da Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) significou não só um grave dano económico ao Estado como também um acto de traição à pátria ao entregar em mãos estrangeiras o controle e a direcção de um sector estratégico, atingindo a soberania e a dignidade nacionais. Que, de acordo com os Artigos 24 e 135 da Constituição Política do Estado, todas as empresas estabelecidas no país são consideradas nacionais e estão submetidas à soberania, leis e autoridades da República. Que é vontade e dever do Estado e do Governo Nacional nacionalizar e recuperar a propriedade dos hidrocarbonetos, em aplicação ao disposto na Lei dos Hidrocarbonetos. Que o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, assim como o Pacto dos Direitos Económicos e Culturais, subscritos a 16 de Dezembro de 1966, determinam que: "Todos os povos podem dispor livremente das suas riqueza e recursos naturais, sem prejuízo das obrigações que derivam da cooperação económica internacional baseada no princípio do benefício recíproco, assim como no do direito internacional. Em nenhum caso poderá privar-se um povo dos seus próprios meios de subsistência". Que a Bolívia foi o primeiro país do Continente a nacionalizar seus hidrocarbonetos, no ano de 1937, à Standard Oil Co., medida heróica, que foi tomada novamente no ano de 1969 afectando a Gulf Oil, correspondendo à presente geração levar adiante a terceira e definitiva nacionalização do seu gás e do seu petróleo. Que esta medida se inscreve na luta histórica das nações, movimentos sociais e povos originários para reconquistar nossas riquezas como base fundamental para recuperar nossa soberania. Que pelo exposto corresponde emitir a presente disposição, para levar adiante a nacionalização dos recursos em hidrocarbonetos do país. Em Conselho de Ministros Decreta: Artigo 1 - No exercício da soberania nacional, obedecendo ao mandato do povo boliviano expresso no Referendo vinculante de 18 de Julho de 2004 e em aplicação estrita dos preceitos constitucionais, nacionalizam-se os recursos de hidrocarbonetos do país. O Estado recuperar a propriedade, a posse e o controle total e absoluto destes recursos. Artigo 2 I. A partir de 1 de Maio de 2006, a empresas petroleiras que actualmente realizam actividades de produção de gás e petróleo no território nacional estão obrigadas a entregar em propriedade à Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) toda a produção de hidrocarbonetos. II. A YPFB, em nome e em representação do Estado, no exercício pleno da propriedade de todos os hidrocarbonetos produzidos no país, assume a sua comercialização, definindo as condições, volumes e preços tanto para o mercado interno como para a exportação e a industrialização. Artigo 3 I. Só poderão continuar a operar no país as companhias que acatem imediatamente as disposições do presente Decreto Supremo, até que, num prazo não superior a 180 dias a partir da sua promulgação, se regularize sua actividade, mediantes contratos que cumpram as condições e requisitos legais e constitucionais. No termo deste prazo, as companhias que não hajam firmado contratos não poderão continuar a operar no país. II. Para garantir a continuidade da produção, a YPFB, de acordo com directivas do Ministério dos Hidrocarbonetos e Energia, tomará a seu cargo a operação nos campos das companhias que se negarem a acatar ou impeçam o cumprimento do disposto no presente Decreto Supremo. III. A YPFB não poderá executar contratos de exploração de hidrocarbonetos que não hajam sido individualmente autorizados e aprovados pelo Poder Legislativo em pleno cumprimento do mandato do inciso 5 do Artigo 59 da Constituição Política do Estado. Artigo 4 - I. Durante o período de transição, para os campos cuja produção certificada média de gás natural do ano 2005 haja sido superior aos 100 milhões de pés cúbicos diários, o valor da produção será distribuído da seguinte forma: 82% para o Estado (18% de royalties e participações, 32% de Imposto Directo aos Hidrocarbonetos, IDH, e 32% através de uma participação adicional para a YPFB), e 18% para as companhias (o que cobre custos de operação, amortização de investimentos e lucros). II. Para os campos cuja produção certificada média de gás natural do ano 2005 tenha sido inferior a 100 milhões de pés cúbicos diários, durante o período de transição será mantida a actual distribuição do valor da produção de hidrocarbonetos. III. O Ministério dos Hidrocarbonetos e Energia determinará, caso a caso e mediante auditorias, os investimentos realizados pelas companhias, bem como suas amortizações, custos de operação e rentabilidade obtida em cada campo. Os resultados das auditorias servirão de base à YPFB para determinar a retribuição ou participação definitiva correspondente às companhias nos contratos a serem firmados de acordo com o estabelecido no Artigo 3 do presente Decreto Supremo. Artigo 5 I. O Estado toma o controle e a direcção da produção, transporte, refinação, armazenagem, distribuição, comercialização e industrialização dos hidrocarbonetos no país. II. O Ministério dos Hidrocarbonetos e Energia regulará e estabelecerá as normas destas actividades até que sejam aprovados novos regulamentos de acordo com a Lei. Artigo 6 I. Em aplicação do disposto pelo Artigo 6 da Lei dos Hidrocarbonetos, transferem-se como propriedade para a YPFB, a título gratuito, as acções dos cidadãos bolivianos que faziam parte do Fundo de Capitalização Colectiva nas empresas capitalizadas Chaco SA, Andina Sa e Transredes SA. II. Para que esta transferência não afecte o pagamento do BONOSOL, o Estado garante a reposição dos aportes de dividendos que estas empresas entregavam anualmente ao Fundo de Capitalização Colectiva. III. As acções do Fundo de Capitalização Colectiva que estão em nome dos Administradores de Fundos de Pensões nas empresas Chaco SA, Andina SA e Transredes SA serão endossadas em nome da YPFB. Artigo 7 I. O Estado, recupera sua plena participação em toda a cadeia produtiva do sector de hidrocarbonetos. II. Nacionalizam-se as acções necessárias para que a YPFB no mínimo 50% mais 1 nas empresas Chaco SA, Andina SA, Transredes SA, Petrobrás Bolívia Refinación SA e Compañia Logística de Hidrocarburos de Bolívia SA. III. A YPFB nomeará imediatamente seus representantes e síndicos nos respectivos directórios e firmará novos contratos de sociedade e administração nos quais se garanta o controle e a direcção estatal das actividades de hidrocarbonetos no país. Artigo 8 - Em 60 dias, a partir da data de promulgação do presente Decreto Supremo e dentro do processo de refundação da YPFB, será procedida a sua reestruturação integral, convertendo-a numa empresa corporativa, transparente, eficiente e com controle social. Artigo 9 - Em tudo que não seja contrário ao disposto no presente Decreto Supremo, continuarão a ser aplicados os regulamentos e normas vigentes nesta data, até que sejam modificados de acordo com a lei. Os Senhores Ministros de Estado, o Presidente da YPFB e as Forças Armadas da Nação ficam encarregados da execução e cumprimento do presente Decreto Supremo. Feito no Palácio do Governo da cidade de La Paz, no primeiro dia do mêsde Maio do ano dois mil e seis. Fdo. Evo Morales Ayma, David Choquehuanca Céspedes, Juan Ramón Quintana Taborga, Alicia Muñoz Alá, Walker San Miguel Rodríguez, Carlos Villegas Quiroga, Luis Alberto Arce Catacora, Abel Mamani Marca, Celinda Sosa Lunda, Salvador Ric Riera, Hugo Salvatierra Gutiérrez, Andrés Soliz Rada, Walter Villarroel Morochi, Santiago Alex Gálvez Mamani, Ministro de Trabajo e Interino de Justicia, Félix Patzi Paco, Nila Heredia Miranda. A transcrição do original encontra-se em http://listas.nodo50.org/cgi-bin/mailman/listinfo/diariodeurgencia

sexta-feira, 5 de maio de 2006

Site - Pérolas da música brasileira

Oi pessoas!! Hoje vai um site de músicas antigas, que vai ficar como link da parte de músicas aí do lado. Bom frio para os paulistas e paulistanos!! Pérolas da Música Brasileira

terça-feira, 2 de maio de 2006

Apologia ao Trabalhador

Oizinho! Adorei o texto de hj, pois bem didático sobre o trabalho alienante - em comemoração ao primeiro de maio. Eu devo `tê-lo adorado também devido à minha condição de trabalhadora, que eu nem sei até quando vai. O que fala do prazer do trabalhador - o salário - é EXATAMENTE o que sinto. E a incerteza de até qdo o teremos é que sinto também. Enfim, o texto revela a minha posição de trabalhadora e de taaaaaaaaaantos outros pelo mundo. Simplesmente maravilhoso!! Apologia ao Trabalhador Já se anunciou o “fim do trabalho”, o “fim da história”, o “fim da ideologia”, o “fim da política”, o “fim do Estado”. São todas manifestações de desejos, mais do que da realidade. Nunca, como atualmente, tanta gente, em todas as partes do mundo, vive do seu trabalho. Emir Sader* O homem se distingue dos outros animais por várias características, mas a fundamental é a de que o homem é um ser com capacidade de trabalho. Enquanto os outros animais apenas recolhem o que encontram na natureza – e mesmo a abelha e a formiga, que trabalham, o fazem mecanicamente –, os homens transformam o meio em que vivem. E, ao transformar o meio em que vivem, transformam-se a si mesmos. É através do trabalho que os homens podem transformar, conscientemente, o mundo, humanizando-o. No entanto, se perguntada sobre o que mais gostaria de fazer, a maioria esmagadora das pessoas não citaria o trabalho. Preferiria dormir, comer, ter relações sexuais ou simplesmente não fazer nada. Isto é, preferiria fazer o que temos em comum com os outros animais. O trabalho é negativo, esgotador, desinteressante, para a grande maioria da humanidade, que não trabalha no que quer, que não decide onde vai trabalhar, o que vai produzir, para quem vai ser vendido o que produz, a que preço, em que condições de trabalho vai se engajar. Nada disso. Para eles, o único momento bom do trabalho é no dia em que se recebe salário, ainda assim até o momento em que ele termina – o que acontece cada vez mais rapidamente. Isto ocorre porque a sociedade atual está regida pela alienação do trabalho. Alienação com o mesmo sentido jurídico do termo: entregar a outro o que é nosso. A grande maioria das pessoas se vale do trabalho não da forma criativa de transformar o mundo conforme sua imaginação, seus desejos, seus projetos. Não se trata de humanizar o mundo através do trabalho, mas de se valer do trabalho como instrumento de sobrevivência. De alugar a capacidade de trabalho para quem tem dinheiro para contratá-lo e fazer os outros investimentos necessários, afim de ter um meio de sobrevivência – o trabalhador – e acumular capital – o empresário. De fim, o trabalho se torna meio. E este meio é alienado. No entanto, toda a riqueza – material e espiritual – das nossas sociedades continua a ser produzida pelo trabalho e pelos trabalhadores. Anunciou-se o “fim do trabalho”, da mesma forma que se anunciou o fim de tantas outras coisas – “fim da história”, “fim da ideologia”, “fim da política”, “fim do Estado”. Todas manifestações de desejos, mais do que da realidade. Nunca, como atualmente, tanta gente, em todas as partes do mundo, vive do seu trabalho. O que diminuiu significativamente foi o trabalho formal – isto é, contrato com direitos, condição fundamental para se ser cidadão, sujeito de direitos. A maioria dos brasileiros, dos latino-americanos e das pessoas em todas as regiões do mundo não tem contrato de trabalho. Trabalham, mas não têm décimo-terceiro salário, nem licença maternidade, nem férias. Produzem a riqueza das nossas sociedades, mas não gozam dos direitos elementares, das garantias básicas de que terá emprego e salário no próximo mês, que poderá pagar o aluguel, as despesas de alimentos, das roupas, dos materiais de escola para os filhos e outros gastos. Em uma sociedade que termine com a alienação do trabalho, este se tornará instrumento de realização humana, de desalienação, de emancipação dos homens e das mulheres. A alienação do trabalho – exploração do trabalho, apropriação da riqueza produzida por ele, falta de consciência por parte do trabalhador de que é ele que produz as riquezas do mundo, às quais ele não tem acesso – é um dos fundamentos da sociedade centrada no capital e que, por isso, tem a denominação de capitalismo. A sociedade fundada no trabalho, na generalização do trabalho, em que todos são trabalhadores, em que todos produzem riquezas materiais e espirituais, tem outro nome – socialismo. Diante de mais um Primeiro de Maio, é sempre bom recordar que esse é o dia do trabalhador e não simplesmente do trabalho. Que é uma data que recorda todas as lutas dos trabalhadores do mundo inteiro para diminuir a jornada de trabalho, que chegou a ser de 16 horas, para proibir o trabalho noturno de mulheres e crianças, para fixar um salário mínimo, pela conquista do direito a férias, a 13º salário, a licença-maternidade, a aposentadoria. Direitos colocados em questão pelo capitalismo liberal, o que recoloca o significado do primeiro de maio com mais força na atualidade. *Emir Sader é professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da Uerj e autor, entre outros, de “A vingança da História".