quarta-feira, 5 de abril de 2006

O novo muro da vergonha

Movimentos sociais planejam mobilização para impedir a construção de um muro duplo na fronteira dos Estados Unidos com o México Mariana Tamari de Caracas (Venezuela) do Jornal Brasil de Fato Como parte de um pacote de medidas para conter a entrada de imigrantes ilegais, congressistas estadunidenses apresentaram o projeto conhecido como "iniciativa Sensenbrenner", que prevê a construção de um muro duplo, de mais de mil quilômetros, na fronteira entre o México e os Estados Unidos. Essas medidas, que ainda devem ser aprovadas pelo Senado e pela Casa Branca, geraram protestos em todo o mundo. No Fórum Social Mundial, foi articulada uma mobilização para destruir simbolicamente esse possível monumento ao terror imperialista. No dia 28 de janeiro, em Caracas, entidades ligadas à defesa dos Direitos Humanos anunciaram a realização de uma marcha que terá início no dia 21 de março, em Chiapas, no México, e atravessará o país até chegar a Cidade Juarez, na divisa com os EUA. Ali acontecerá um ato de desobediência civil, no qual manifestantes cruzarão o limite entre os dois países para mostrar indignação em relação ao tratamento que recebem os imigrantes nos EUA. De acordo com Michael Guerrero, coordenador nos EUA da Grassroots Global Justice, junto ao ato contra o muro acontecerá um Fórum Social Fronteiriço, cujo objetivo será preparar uma plataforma para as organizações ligadas às questões que envolvem imigrantes. Além disso, vão começar os debates para o Fórum Social dos Estados Unidos, previsto para junho, em Atlanta, Georgia. Edur Arregui, da Liga Magonista 7 de janeiro, entidade que está articulando o ato entre organizações estadunidenses, mexicanas e canadenses, afirmou que já foram gastos cerca de três bilhões de dólares na construção de partes do muro e que, caso o novo projeto seja aprovado pelo congresso estadunidense, os custos podem chegar a 20 bilhões de dólares. "O muro é simplesmente um monumento para intimidar os imigrantes, pois não aumenta a segurança. É para dizer que eles não são bem-vindos. Serve para fazer com que os imigrantes entrem no país sem dignidade". Ele acredita que além de ser um símbolo do poder imperialista dos EUA, o muro deve gerar na maioria dos estadunidenses a sensação de estar em uma fortaleza sitiada. "O muro é um elemento-chave de controle da sociedade estadunidense. Serve para isolar a sociedade, para que o povo não veja outros povos, para que não se identifique e não sinta empatia por nenhuma outra nação." Cidade Juarez A cidade onde vai acontecer a Intifada mexicana tem 1,7 milhão de habitantes e retrata as conseqüências das políticas antiimigrantes dos Estados Unidos. A maioria da população de Cidade Juarez é de mulheres e crianças. São esposas, filhos e filhas dos imigrantes homens que se arriscam no deserto em busca do sonho americano. Ciudade Juarez, no Estado mexicano de Chihuahua, faz fronteira com a cidade texana de El Paso. Nos últimos dez anos, mais de 350 mulheres foram mortas em Cidade Juarez sob circunstâncias que as autoridades ainda não conseguiram esclarecer. As hipóteses apontam para tráfico de órgãos, crime organizado, redes de tráfico de mulheres e companhias ou pessoas que realizam vídeos de pornografia. Para Christian Ramirez, do Comitê do Serviço Americano dos Amigos (AFSC, sigla em inglês), a causa dessas mortes está relacionada ao problema da criminalização da imigração. "Famílias se desfazem pelo sonho americano. As mulheres de Cidade Juarez ficam vulneráveis pelas condições a elas impostas", acredita ele. Segundo Christian, desde que foi implantada a Estratégia Bilateral de Cooperação Contra as Drogas México-Estados Unidos, em 1998, mais de quatro mil pessoas morreram ao tentar atravessar a fronteira. No México há mais de 400 fossas comuns onde são enterrados aqueles que não conseguem terminar a travessia com vida.

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