terça-feira, 2 de maio de 2006

Apologia ao Trabalhador

Oizinho! Adorei o texto de hj, pois bem didático sobre o trabalho alienante - em comemoração ao primeiro de maio. Eu devo `tê-lo adorado também devido à minha condição de trabalhadora, que eu nem sei até quando vai. O que fala do prazer do trabalhador - o salário - é EXATAMENTE o que sinto. E a incerteza de até qdo o teremos é que sinto também. Enfim, o texto revela a minha posição de trabalhadora e de taaaaaaaaaantos outros pelo mundo. Simplesmente maravilhoso!! Apologia ao Trabalhador Já se anunciou o “fim do trabalho”, o “fim da história”, o “fim da ideologia”, o “fim da política”, o “fim do Estado”. São todas manifestações de desejos, mais do que da realidade. Nunca, como atualmente, tanta gente, em todas as partes do mundo, vive do seu trabalho. Emir Sader* O homem se distingue dos outros animais por várias características, mas a fundamental é a de que o homem é um ser com capacidade de trabalho. Enquanto os outros animais apenas recolhem o que encontram na natureza – e mesmo a abelha e a formiga, que trabalham, o fazem mecanicamente –, os homens transformam o meio em que vivem. E, ao transformar o meio em que vivem, transformam-se a si mesmos. É através do trabalho que os homens podem transformar, conscientemente, o mundo, humanizando-o. No entanto, se perguntada sobre o que mais gostaria de fazer, a maioria esmagadora das pessoas não citaria o trabalho. Preferiria dormir, comer, ter relações sexuais ou simplesmente não fazer nada. Isto é, preferiria fazer o que temos em comum com os outros animais. O trabalho é negativo, esgotador, desinteressante, para a grande maioria da humanidade, que não trabalha no que quer, que não decide onde vai trabalhar, o que vai produzir, para quem vai ser vendido o que produz, a que preço, em que condições de trabalho vai se engajar. Nada disso. Para eles, o único momento bom do trabalho é no dia em que se recebe salário, ainda assim até o momento em que ele termina – o que acontece cada vez mais rapidamente. Isto ocorre porque a sociedade atual está regida pela alienação do trabalho. Alienação com o mesmo sentido jurídico do termo: entregar a outro o que é nosso. A grande maioria das pessoas se vale do trabalho não da forma criativa de transformar o mundo conforme sua imaginação, seus desejos, seus projetos. Não se trata de humanizar o mundo através do trabalho, mas de se valer do trabalho como instrumento de sobrevivência. De alugar a capacidade de trabalho para quem tem dinheiro para contratá-lo e fazer os outros investimentos necessários, afim de ter um meio de sobrevivência – o trabalhador – e acumular capital – o empresário. De fim, o trabalho se torna meio. E este meio é alienado. No entanto, toda a riqueza – material e espiritual – das nossas sociedades continua a ser produzida pelo trabalho e pelos trabalhadores. Anunciou-se o “fim do trabalho”, da mesma forma que se anunciou o fim de tantas outras coisas – “fim da história”, “fim da ideologia”, “fim da política”, “fim do Estado”. Todas manifestações de desejos, mais do que da realidade. Nunca, como atualmente, tanta gente, em todas as partes do mundo, vive do seu trabalho. O que diminuiu significativamente foi o trabalho formal – isto é, contrato com direitos, condição fundamental para se ser cidadão, sujeito de direitos. A maioria dos brasileiros, dos latino-americanos e das pessoas em todas as regiões do mundo não tem contrato de trabalho. Trabalham, mas não têm décimo-terceiro salário, nem licença maternidade, nem férias. Produzem a riqueza das nossas sociedades, mas não gozam dos direitos elementares, das garantias básicas de que terá emprego e salário no próximo mês, que poderá pagar o aluguel, as despesas de alimentos, das roupas, dos materiais de escola para os filhos e outros gastos. Em uma sociedade que termine com a alienação do trabalho, este se tornará instrumento de realização humana, de desalienação, de emancipação dos homens e das mulheres. A alienação do trabalho – exploração do trabalho, apropriação da riqueza produzida por ele, falta de consciência por parte do trabalhador de que é ele que produz as riquezas do mundo, às quais ele não tem acesso – é um dos fundamentos da sociedade centrada no capital e que, por isso, tem a denominação de capitalismo. A sociedade fundada no trabalho, na generalização do trabalho, em que todos são trabalhadores, em que todos produzem riquezas materiais e espirituais, tem outro nome – socialismo. Diante de mais um Primeiro de Maio, é sempre bom recordar que esse é o dia do trabalhador e não simplesmente do trabalho. Que é uma data que recorda todas as lutas dos trabalhadores do mundo inteiro para diminuir a jornada de trabalho, que chegou a ser de 16 horas, para proibir o trabalho noturno de mulheres e crianças, para fixar um salário mínimo, pela conquista do direito a férias, a 13º salário, a licença-maternidade, a aposentadoria. Direitos colocados em questão pelo capitalismo liberal, o que recoloca o significado do primeiro de maio com mais força na atualidade. *Emir Sader é professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da Uerj e autor, entre outros, de “A vingança da História".

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