terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Caixão de luxo do operário não cabia no jazigo

Oiláááá!! Achei um texto muito bom a respeito do desabamento das cosntruções do metrô na zona Oeste de São Paulo(antes tarde do que nunca!!). Desabamento este que me deixou bastante chocada. Chocada por que, além de terem-se perdido vidas ali, talvez por incompetência, talvez por fraudes, tirou-se um pedaço de cada família que perdeu seu parente ali. Foram arrancados pedaços dos corações de cada um. E não há nada que pague essa perda. Nada mesmo. Caixão de luxo do operário não cabia no jazigo Laura Capriglione da Folha de S.Paulo Morto sob 38 metros de terra no desabamento da estação Pinheiros do metrô, o motorista de caminhão Francisco Sabino Torres, 47, transportava 30 mil kg de terra todos os dias no caminhão Mercedes-Benz 2638 que pilotava a serviço do Consórcio Via Amarela. Ele teve de enfrentar a terra de novo na hora do enterro. Velório realizado em sua casa, na rua Santa Terezinha, Vila Guilherme, em Francisco Morato, Grande São Paulo, o féretro estava marcado para sair ontem às 9h em direção ao cemitério da Alegria. Não deu. Nessa hora, sob chuva, a rua de terra era lama intransitável. O carro da funerária desistiu. Cerca de 20 operários do consórcio, que foram ao enterro, ofereceram-se para carregar o caixão nas costas --ladeira acima, 200 metros até o asfalto. Câmeras de TVs ao vivo, a prefeita Andréa Pelizari (PSDB) mandou um trator jogar brita para estabilizar o terreno. O carro funerário conseguiu sair às 11h, sob aplausos de colegas, vizinhos e familiares. No cemitério, outro problema: os jazigos foram construídos na medida padrão das urnas mortuárias populares. O caixão do motorista Torres era especial, de luxo, pago pelo Consórcio Via Amarela. Resultado: não cabia no retângulo concretado. Demorou. A solução foi enfiá-lo de lado. O secretário estadual de Justiça, Luiz Antonio Marrey, que fora levar conforto aos familiares, não esperou. O corpo ainda estava encalacrado e o helicóptero da PM com Marrey a bordo sobrevoou o campo santo, voltando para São Paulo. Pai de três filhos (Kelly, 19, Adilson, 16, e Danilo, 15), marido de Maria Sinhazinha Torres, o motorista era líder comunitário. Passou os últimos 20 anos, tempo de moradia em Francisco Morato, lutando por asfalto. Não deu tempo. Francisco Morato, 200 mil habitantes, só uma indústria instalada, é cidade-dormitório dona dos piores indicadores sociais do Estado. De 1.500 ruas, apenas 400 são pavimentadas. O resto é terra.

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