sexta-feira, 17 de março de 2006

TV Digital brasileira: do sonho ao ralo !!!

êta correria... êta canseira... Mas o texto hj foi difícil, viu! O melhor foi esse aqui. Eu até ia postar sobre a greve das universidades na França, mas as reportagens são fracas. Então, belê. Inté!

TV Digital brasileira: do sonho ao ralo !!!

Mauro Oliveira e Tarcísio Pequeno “Se foi pra desfazer por que é que fez?” (Vinícius) O que levaria um Governo nariz empinado, esperança de um novo tempo, a ter a ousadia de convocar a inteligência nacional para definir um modelo de TV Digital que atenda aos interesses sociais e econômicos do país para depois jogar todo este esforço pelo ralo? Infelizmente, o nariz Pinóquio ficará abaixo do nível do mar. A vingar a “boataria”, cada vez mais forte na imprensa, neste 10 de março o Presidente Lula deve anunciar a escolha integral de um dos padrões internacionais para a TV Digital brasileira em detrimento de um modelo híbrido que contemplaria os interesses da nação. Os tucanos deixaram aos petistas a decisão sobre futuro da TV Digital brasileira. No lugar da simples escolha de um dos padrões existentes (americano, europeu e japonês), o atual Governo teve a ousadia de instituir o SBTVD (Sistema Brasileiro de TV Digital), um consórcio de pesquisa e desenvolvimento de um modelo que atendesse aos interesses sociais, tecnológicos, culturais e econômicos da nação. O interesse social estaria atendido em um modelo que privilegiasse o quesito interatividade com o usuário, permitindo o uso de serviços digitais, possivelmente a internet, promovendo uma ação efetiva de inclusão digital sem precedentes. O econômico vai desde a independência integral de um padrão e seus royalties associados à possibilidade de um modelo exportável de TV Digital interativa, capaz de interessar grandes mercados emergentes com condição geográfico-sociais semelhantes às do Brasil. O tecnológico estaria na valorização da competência nacional, dando-lhe chance de consolidar, por exemplo, no campo do software (midlleware e aplicativos) e o cultural no estímulo à produção de conteúdo pela criação de um mercado próprio. Como diz o Prof. Dr. Luiz Fernando da PUC-Rio e Guido Lemos da UFPB, em carta endereçada aos ministros responsáveis pela definição: “enganam-se aqueles que pensam que a adoção de um padrão estrangeiro não afetará a produção de conteúdos” Ao conduzirmos o SBTVD, como Secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações durante quinze meses, adotamos a estratégia de manter abertas no leque de alternativas, mesmo a de que o modelo brasileiro de TV Digital viesse a convergir para uma das tecnologias já consolidadas, se tal se demonstrasse convergente com nossos interesses. O que jamais contemplamos foi a possibilidade de adotar de forma dependente e subalterna a integralidade de qualquer desses padrões. Preservar um espaço para a contribuição tecnológica nacional e para, quando menos, a adaptação da tecnologia aos nossos interesses e necessidades, e a um parti pris lógico irrevogável. O SBTVD, ao contrário do SIVAM, decidido à revelia da inteligência nacional, é um sucesso de planejamento e implementação que seduziu a academia de norte a sul do País de Monteiro Lobato. São mais de 1.500 pesquisadores e 80 instituições de P&D verde-amarelas que acreditaram numa solução híbrida para a TV Digital brasileira, que contemple em sua arquitetura os interesses nacionais acima citados e, sem xenofobia, os subpadrões internacionais estabelecidos, a exemplo do Tucano, Bandeirantes e outros bichos voadores que precisam de turbinas e parafusos importados para serem competitivos e assim contribuírem para o PIB e orgulho nacionais. Assim, que interesses poderiam levar o Governo que teve a audácia de empreender um tal esforço ao arrepio de interesses e pressões vir a renunciar à oportunidade de uma nova Embraer da tecnologia da informação? Lembro-me do Dr Ozires Silva, um dos convidados ao nosso Fórum mensal sobre Política Industrial em Telecom, ao comentar as dificuldades no lançamento do Tucano. O Seu Zé do açougue, Dona Maria da bodega, o Seu Reimundo,vigia, podem não entender muito de tecnologia, política e outros chantilis. Talvez não sejam até capazes de compreender este artigo, mas que ninguém duvide! Seu Zé, dona Maria e seu Reimundo, da mesma origem humilde de nosso presidente eleito, que entendem muito bem a importância de uma Petrobrás, de uma Embraer, de uma Embrapa, entenderão o ralo ao qual será jogada uma oportunidade histórica, caso o Governo Lula decida pela adoção integral de um dos padrões internacionais de TV Digital. Já que os políticos não têm conhecimento de causa, espera-se da academia, esta que apesar de prestigiada no SBTVD manteve-se calada até agora, exceto em raros momentos, solte logo os “cachorros” para que não se concretize neste 10 de março a lição do poeta: “se foi pra desfazer por que é que fez”! Mauro Oliveira - Doutor em Informática, foi Secretário de Telecomunicações do MINICOM até setembro/2006. Tarcísio Pequeno - Doutor em Ciência da Computação, foi Secretário Regional da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência

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