quinta-feira, 5 de janeiro de 2006

Presidente eleito da Bolívia fala sobre nacionalização do gás

O Genteeeeee!! Po, desculpa o sumiço! Penso no blog todo dia, não consigo relaxar! Mas só de pensar nessa conexão lerrrrrrrda, em ter que procurar textos com essa conexão, me desanimo. Mas entrei hj e vi uma mensagem muito fofa. Me animou a continuar a caminhada. E estou aqui, em 2006, esperando que este seja um ano bom. Para mim, para você, para o mundo todo. E para a América Latina. Que as pessoas neste ano sejam mais tolerantes. E menos estressadas, menos hipócritas. Muuuito menos hipócritas e falsas. Assim espero. Hoje escolhi uma entrevista leve com o Evo Morales. Vitória respeitosa.

Presidente eleito da Bolívia fala sobre nacionalização do gás

Maite Rico

Enviada especial a La Paz

Do site da Ação Popular Socialista Ele está sobrecarregado pela vitória eleitoral de uma magnitude inesperada e pelos "paparazzi", como chama os jornalistas, que o assediam a cada passo. Veste jeans pretos, tênis esportivos e jaqueta de brim azul, a cor do Movimento ao Socialismo (MAS), seu partido. Evo Morales, 46 anos, o menino aimará que pastoreava lhamas em sua Oruro natal, o jovem que se curtiu nos sindicatos cocaleiros em Cochabamba e o deputado capaz de mobilizar as massas para derrubar governos prepara-se para se transformar, no próximo dia 22 de janeiro, no primeiro presidente indígena da Bolívia. Morales confirma a nacionalização das jazidas de gás e petróleo e a revisão dos contratos de exploração, que considera ilegais. El País - O que o senhor se sente mais: indígena, camponês ou cocaleiro? Evo Morales - Indígena, fundamentalmente. Estou muito orgulhoso de meu povo, mas também da classe média, intelectual, profissional que se somou ao MAS para que nós mesmos possamos nos governar e resolver nossos problemas. EP - Como explica o apoio que teve nas cidades, sendo o MAS um movimento camponês? Morales - Da gente das cidades, mestiça, crioula, também estou orgulhoso por esse apoio tão consciente, tão solidário. O movimento indígena é inclusivo, e valoriza nossa atitude democrática e nossa luta pela igualdade. EP - Que relação o senhor quer ter com a oposição? Morales - Se estiverem dispostos à mudança, serão bem-vindos. E se não a luta não será somente no Congresso, mas fora do Congresso. Essa é a nossa força para mudar nossa história. EP - Que tipo de relação quer ter com os EUA? Morales - De respeito mútuo, sem chantagens nem condicionamentos. Temos dignidade como povo e lutamos por nossa soberania. EP - O senhor estaria disposto a negociar um Tratado de Livre Comércio (TLC) com os EUA, como fez o Peru? Muitas empresas exportadoras dizem que sem o TLC fecharão. Morales - Não é tanto assim. É preciso revisar esses documentos. O TLC não é nenhuma solução, pelo contrário, fecha cooperativas, microempresas... Se for um acordo para que o comércio seja de microempresários e pequenas empresas, e não das transnacionais, será bem-vindo. Precisamos de um comércio de povo a povo para resolver os problemas econômicos, e não para concentrar o capital em poucas mãos. EP - O senhor pensa em continuar com os acordos de erradicação das plantações de coca? Morales - Queremos convocar o governo americano para fazer um narcotráfico zero, mas não vai haver coca zero. Uma coisa é a folha de coca, outra é a cocaína. A coca faz parte de nossa cultura, e faremos um estudo do mercado legal da folha de coca para definir as plantações com os sindicatos de agricultores. A luta contra o narcotráfico tem de ser eficaz, e não uma desculpa para que os EUA controlem nossos países e assentem bases militares ou mandem soldados armados, como no Chapare. Isso tem de terminar. Queremos que os EUA respeitem a autodeterminação dos povos latino-americanos. EP - O Estado boliviano é por lei o dono dos recursos naturais. O que quer dizer quando fala em nacionalizar os hidrocarbonetos? Morales - Acho que na prática o Estado não exerce o direito de propriedade. Os contratos (com as companhias de petróleo) são ilegais, inconstitucionais. Existem cláusulas que dão o direito de propriedade na boca do poço. É preciso revisá-los, mas já são nulos de pleno direito. EP - Em que situação vão ficar as companhias de petróleo, que fizeram investimentos enormes? Morales - Precisamos de seus serviços para explorar e perfurar, e serão pagas por isso. Não vamos expropriar seus bens. Será garantida a segurança jurídica, que recuperem seu investimento e que tenham lucro. Mas o Estado boliviano tem de controlar a cadeia de produção e a comercialização. EP - Dariam preferência a alguma companhia, como a brasileira Petrobras ou a espanhola Repsol? Morales - Se estiverem dispostos a nos deixar beneficiar de nossos recursos, vamos lhes dar garantias. Muitos países dizem que é preciso combater a pobreza; o que melhor que lutar contra a pobreza com nossos recursos naturais? EP - O que espera de Hugo Chávez? Morales - Eu o respeito e admiro muito. Luta ao lado de seu povo pela dignidade, pela soberania, pelos recursos naturais. Quando um líder defende seu povo, e essa é minha experiência, um povo defende seu líder. É o caso de Hugo Chávez. Imagine quantos golpes já enfrentou: um golpe militar, um golpe econômico, um golpe da mídia e continua mais fortalecido. Inclusive um golpe democrático, com o referendo revogatório que se transformou em referendo retificador. EP - Muitos bolivianos estão irritados porque, apesar de suas declarações de apoio, Hugo Chávez preferiu comprar soja dos EUA em vez da Bolívia, que é o principal produtor da região. Também excluiu a Bolívia do projeto de gasoduto com o Brasil, Argentina e Chile. Morales - São os oligarcas que manipulam isso politicamente. Nós estamos dispostos a renegociar para que nossa soja tenha mercado, e não somente com a Venezuela, mas com muitos países. EP - O que o senhor diz ao pessoal da Central Operária Boliviana (COB) e aos movimentos sociais, que lhe dão três meses para cumprir suas exigências, como nacionalizar os combustíveis sem indenização? Morales - A COB está com o MAS. A COB não é o comitê executivo, são as forças sociais: os mineiros, professores, transportadores, agricultores... eles estão conosco. Alguns dirigentes da cidade de El Alto talvez tenham dito algo. EP - Ontem mesmo o secretário-executivo da COB, Jaime Solares, reiterou o ultimato. Morales - E quem acredita nele? EP - Não são representativos? Morales - Não quero comentar esse tema. Mas sim que é impossível resolver em cinco anos a destruição do país em 500 anos, e com a Espanha podemos falar bastante sobre isso. EP - Falando de Espanha, soube que o senhor recebeu um convite do primeiro-ministro José Luiz Rodríguez Zapatero. Morales - Sim, há pouco recebi uma ligação de Zapatero, muito feliz com nossa vitória. Eu o convidei para a transmissão de poder, e ele me convidou o mais cedo possível, e me disse que vai instruir seu chanceler para minha visita à Espanha. Temos muita vontade de conversar. Esse é um apoio. EP - Uma curiosidade: de onde saiu o nome Evo? Morales - Teria de perguntar a meus pais. Eles nunca me disseram. EP - É o único Evo na Bolívia? Morales - Bem, hoje já existem muitos Evitos

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