sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

A Veja e o padre Julio Lancelotti

Sabe, tenho me perguntado de onde vem o pensamento facista e segregacionista da classe média paulistana. Aquelas coisas que a gente sempre é obrigado a ouvir, como "só deviam ficar em São Paulo os nascidos aqui. Os outros têm que ir embora". Os outros,^leia-se os nordestinos. Essa frase me deixa possessa. Como pode ? E de onde vem essa ignorância toda? Pq eu não vejo no Jornal Nacional essa idéia sendo propagada. Enfim, tenho pensado nisso. Encontrei uma reportagem no ministério da Saúde sobre uma das besteiras que a Veja anda dizendo. Agora ofendendo Júlio Lanceloti, acusando-o de demagogia com os moradores de Rua e portadores de HIV. Abaixo, tudo que esta reportagem rendeu: 20/01/06 Revista Veja ataca Júlio Lancelotti em reportagem deste mês. Publicação afirma que padre usa da 'demagogia' e dos moradores de rua como 'manobra para fazer política'. Movimento de aids e Programa Nacional enviam mensagem de apoio a Lancelotti 19/01/2006 - 18h05 Na edição de n. 1938 da revista Veja, de 11 de janeiro de 2006, a publicação traz uma reportagem criticando o Padre Julio Lancelotti, fundador da casa de apoio Casa Vida, que cuida de crianças soropositivas, e líder da Pastoral da Rua. Na reportagem, Camila Antunes (repórter), afirma que o padre é demagogo e que os motivos pelo qual o padre defende os moradores em situação em rua "estão longe de ser religiosos. O que ele quer mesmo é ter a sua disposição um rebanho de manobra para fazer política", informa a Veja. Por fim, a repórter propõe um acordo ao padre que tem se mostrado contra as rampas antimendigo. "A prefeitura retira as rampas e o padre abandona o seu bunker e passa a morar debaixo do viaduto. Lá, poderá controlar os assaltantes e encontrar a santa felicidade junto ao 'Povo da Rua'", ironiza a reportagem. Inúmeras foram as manifestações nessa semana diante da reportagem. Pessoas ligadas ao movimento de Aids e que tem acompanhado o trabalho de Julio Lancelotti enviaram cartas de apoio e mensagens de solidariedade ao padre. Para o ex-presidente do Fórum de ONG/Aids do Estado de São Paulo, Rubens Duda, a reportagem é "lamentável" e "mostra nitidamente o quanto alguns profissionais ou órgãos da imprensa, prestam-se, sabe-se lá a que custo, a instrumento de políticos para bater naqueles que denunciam autonomamente as manobras eleitoreiras com ações de discriminação e preconceito a diversas populações, entre elas, as de moradores de rua", afirmou. Leia aqui a reportagem publicada pela Veja: O PECADO DA DEMAGOGIA O padre Julio Lancelotti líder de uma organização política ligada ao PT chamada Pastoral da Rua (atenção, papa Bento XVI), comete todos os dias um pecado mortal - o da demagogia. Ele é o criador de uma categoria que leva o nome de "Povo da Rua". É a denominação de Lancelotti para mendigos, menores abandonados e loucos que vagam pelas ruas de São Paulo. A pretexto de defender o "Povo da Rua", o padre quer transformar uma situação precária - a dos sem-teto e que tais - em permanente. Toda e qualquer iniciativa para colocar esse pessoal em abrigos, custeados pela prefeitura, limpar os logradouros públicos de barracas e excrementos e livrar os transeuntes do risco de assaltos protagonizados por pivetes é torpedeada por Lancelotti com a classificação de "prática higienista". Os motivos do padre estão longe de ser religiosos. O que ele quer mesmo é ter a sua disposição um rebanho de manobra para fazer política. Se Lancelotti fosse mesmo sensível às necessidades de seu "Povo da Rua", começaria por oferecer abrigo na igreja da qual é pároco: a de São Miguel Arcanjo, no bairro paulistano da Mooca. A igreja, porém, tem grades nas portas e cerca elétrica nos muros - um aparato suficiente para definir aquela casa de Deus como um "bunker antimendigo". "Antimendigo é a expressão usada por ele - e por jornalistas amigos seus - para classificar pejorativamente a iniciativa da prefeitura de São Paulo de colocar rampas de superfície áspera sob o viaduto que leva à Avenida Paulista. A administração municipal recorreu a esse expediente para desalojar os marginais que instalados no local, assaltavam as pessoas que transitam por ali. Lancelotti continua a esbravejar que "as rampas antimendigo" fazem parte de uma "visão higienista". Pois bem, propõe-se aqui um acordo: a prefeitura retira as rampas e o padre abandona o seu bunker e passa a morar debaixo do viaduto. Lá, poderá controlar os assaltantes e encontrar a santa felicidade junto ao "Povo da Rua". (Repórter: Camila Antunes) Fonte: Revista Veja, 11 de janeiro de 2006, página 92 MANIFESTAÇÕES DE APOIO Nesta quinta-feira,19, o Programa Nacional de DST/Aids encaminhou à Agência de Notícias da Aids uma carta que foi enviada ao Diretor de Redação da Revista Veja, Eurípedes Alcântara, solidarizando-se ao Padre Julio Lancelotti por seu trabalho incansável na luta contra a Aids. Leia a seguir. MINISTÉRIO DA SAÚDE SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE PROGRAMA NACIONAL DE DST/AIDS SEPN Quadra: 511 Bloco: "C" 70.750-543-Brasília-DF Tel. (0xx61) 3448-8024 Ofício 567/SCDH/PN-DST-AIDS/SVS/MS Brasília, 17 de janeiro de 2006. Ao Senhor EURÍPEDES ALCÂNTARA Diretor de Redação da Revista Veja Caixa Postal 11079 05422-970 – São Paulo - SP Assunto: Matéria da Revista Veja 11/01/06 – O Pecado da Demagogia 1. Em referência a matéria da revista Veja de 11/01/06, intitulado: "O pecado da demagogia", ao qual faz, desnecessariamente, equivocadas críticas ao Pe. Julio Lancelotti e seu trabalho, vimos por meio deste, nos solidarizar com quem incansavelmente está a frente, dentre outras, da luta contra o HIV/Aids. 2. Em sua trajetória pessoal e social, o acolhimento a crianças vivendo com HIV/Aids, com a constituição das Casas Vida I e II, efetivaram uma das primeiras respostas a orfandade advinda da epidemia. 3. A luta do Pe. Julio Lancelotti na defesa das minorias busca resgatar os direitos inalienáveis desta população e contribui para minimizar o impacto da exclusão social, discriminação e preconceito que atingem as pessoas que vivem à margem da sociedade. 4. As parcerias deste Programa com a Casa Vida sempre foram regidas por seriedade e responsabilidade nos trabalhos realizados. 5. A matéria não reflete a história e a trajetória de um homem que pautou sua vida na defesa das populações mais carentes. Atenciosamente, Pedro Chequer Diretor A presidente da organização não-governamental Associação de Prevenção e Tratamento da Aids (APTA), Teresinha Pinto, fez questão de assinalar seu protesto contra o "achincalhamento grosseiro perpetrado contra uma das figuras mais respeitáveis desta república", escreveu referindo-se ao padre. Ela classifica a revista como uma "publicação de direitismo hidrófobo que se esconde atrás do mercadologismo para justificar interesses bem disfarçados de viés ideológico (do qual repórteres e colunistas são meras caricaturas)", informou. Para ela, "o Padre Júlio Lancelotti é uma figura admirada, em primeiro lugar, em sua paróquia – por seu fazer simples de transformação – para usar uma expressão de outro pensador contemporâneo, o filósofo Renato Gianini Ribeiro – depois, pelas comunidades Médica, Educacional e Social (terceiro setor, no nível de compreensão da revista) por seu magnífico trabalho na Casa Vida (crianças soropositivas) e na defesa dos excluídos – como os sem-teto e os internos da Febem – contra a violência do fascismo entranhado em nossas elites". O ex-presidente do Fórum de ONG/Aids do Estado de São Paulo, Rubens Duda, também manifestou-se a favor do Padre Julio e classificou como "lamentável" a reportagem. Leia na íntegra. O PECADO DA AUTONOMIA A lamentável matéria da revista Veja , criticando o trabalho do Pe. Julio Lancelotti, mostra nitidamente o quanto alguns profissionais ou órgãos da imprensa, prestam-se, sabe-se lá a que custo, a instrumento de políticos para bater naqueles que denunciam autonomamente as manobras eleitoreiras com ações de discriminação e preconceito a diversas populações, entre elas, as de moradores de rua. Pe. Julio Lancelotti é fundador da Casa Vida I e II que abriga crianças portadoras do HIV/Aids, Coordenador do Movimento dos Moradores de Rua e da Pastoral do Menor na Região da Zona Leste de São Paulo, contrariamente do que é colocado, como Pároco da Igreja de São Miguel Arcanjo, Arcanjo Miguel, aquele que enfrentou o diabo, Pe. Julio enfrenta a cada dia o "diabo" da inércia religiosa e clerical, para além muro, combatendo o "diabo" da injustiça social, não há duvidas que se ficasse estático em sua Paróquia, usufruiria de muito mais conforto e evitaria ataques diretos de quem o considera desafeto por suas posições em defesa daqueles ao qual se comprometeu a defender em sua trajetória religiosa. Mais do que abrir a porta de sua casa para os moradores de rua, abriu sua vida, como o fez aos menores e as crianças portadoras do HIV/Aids. Quem o conhece, sabe que daria sua casa e muito mais, sem pestanejar, se isso trouxesse a dignidade e resolvesse o problema ,que é de vontade política, de política publica a essa população. Ele deseja a permanência, não da situação precária dos "sem – tetos" , mas da visibilidade do problema, para evitar que seja abafado ou escondido com a "prática higienista" adotada por essa desastrosa gestão em ano de eleição. Quanto ao acordo do vigário morar debaixo do viaduto em troca da retirada das rampas ásperas colocadas pela prefeitura, seria melhor a prefeitura substituir as rampas por políticas dignas, ousando assim, a cumprir a sua obrigação, dessa forma, os viadutos estariam vazios e ninguém, inclusive o padre, necessitariam de morar sob eles. Se a política anti-mendigo, não deu certo, e a estratégia agora é a política anti- Pe. Julio, a sociedade civil organizada, órgãos e pessoas publicas estão atentos a essa sórdida manobra. Tatiana Vieira fonte: ministerio da saúde http://www.aids.gov.br/data/Pages/LUMISDA56F374ITEMID8406F3C5F13C493FB687226D6753159FPTBRIE.htm

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