terça-feira, 13 de dezembro de 2005

Evo Morales Segue como Favorito

da Redação do Jornal Brasil de Fato O Movimento Al Socialismo (MAS), partido do presidenciável Evo Morales, continua liderando as pesquisas pré-eleitorais, enquanto seus principais adversários contabilizam recuos. Levantamento realizado pela cadeia Usted Elige no final de novembro mostra que o Poder Democrático Social (Podemos) – agremiação de caciques da direita boliviana – registrou queda de um ponto percentual e o Unidad Nacional (UN), de 4,5. O MAS, por sua vez, ganhou mais apoio dos bolivianos e subiu de 30,7% para 32,8% em relação ao levantamento anterior, mantendo-se à frente dos 27,7% do Podemos e dos 9,4% do UN. Ainda de acordo com a pesquisa, cerca de 45% dos bolivianos acreditam que Morales será eleito presidente do país no pleito de 18 de dezembro. Já 33,3% acham que o ex-presidente Jorge Quiroga vencerá a disputa. Em 18 de dezembro, os bolivianos vão escolher presidente, vicepresidente, senadores, deputados e prefeitos. Segundo a legislação local sobre a disputa presidencial, se nenhum candidato tiver mais de 50% dos votos, o Congresso definirá quem será o vencedor. Já para meados de 2006 está agendada uma Assembléia Constituinte e um referendo sobre autonomias regionais. Guerra Suja No Parlamento, no entanto, os masistas (como são conhecidos os integrantes do MAS) devem ficar em minoria. As pesquisas mostram o Podemos elegendo 14 senadores e o partido ligado aos cocaleros, com 11 senadores. Diante desse cenário, se Morales for eleito, o MAS já estuda estratégias para enfrentar um parlamento hostil ao poder Executivo. “No caso em que for necessário, faremos uso dos decretos e contaremos ainda com o apoio dos movimentos sociais para obrigar os parlamentares a aprovar leis”, assegurou o candidato a deputado Gustavo Torrico. A poucos dias das eleições, as campanhas dos candidatos conservadores ficaram mais agressivas e passaram a fazer pesados ataques contra Evo Morales, inclusive questionando aspectos de sua vida privada. O ex-presidente Quiroga tem usado os meios de comunicação hegemônicos do país para dizer que o candidato do MAS é uma opção inviável e perigosa para a Bolívia. “Não podemos nos dar ao luxo de perder nossos mercados, milhares de bolivianos perderão seu trabalho se Evo for presidente, isto porque cortará relações com todos os governos que comercializam conosco”, afirmou o direitista, que ocupou interinamente a presidência do país entre 2001 e 2002. Uma outra propaganda do Podemos apresenta uma indígena que se diz abandonada por seu companheiro. “Evo Morales abandonou seus filhos. Se não é responsável com a própria família, como poderá ser com nós?”, pergunta a personagem. Em contrapartida, o líder cocalero conta com apoio da maior parte da população do país, sobretudo nas classes trabalhadoras, de parte dos movimentos sociais e – recentemente – recebeu votos de apreço de dois governantes da região: o venezuelano Hugo Chávez e o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. As manifestações de apoio foram uma resposta à estratégia da direita de tentar passar a imagem de um Evo isolado no continente. Dois Modelos Apesar da guerra suja, as campanhas apresentam dois modelos para a Bolívia. Um antineoliberal proposto pelo líder indígena Morales e outro encabeçado por Quiroga que consiste em basicamente manter o esquema do mais puro livre-mercado que vigora no país há 20 anos. Apesar de o MAS não propor mudanças estruturas para a Bolívia (veja as dez principais propostas no quadro abaixo), o discurso do partido está sendo melhor aceito sobretudo porque não se resume a seguir os mandamentos do neoliberalismo e das instituições multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), definindo uma agenda para o país. Setores afinados à direita boliviana – empresários, transnacionais e donos dos meios de comunicações – temem o crescente descontentamento do povo que tem se convertido em mobilizações permanentes e derrubadas de presidentes (como Gonzalo Sánchez de Lozada, em 2003, e Carlos Mesa, em 2004). A pedido de Quiroga, o presidente boliviano Eduardo Rodríguez – que assumiu interinamente após a queda de Mesa – determinou que fosse investigado um suposto plano de golpe de Estado do MAS. O partido classificou que a investida foi motivada por “revanchismo ou sentimento de vingança pelo fato de se ter denunciado a entrega ilegal de 28 mísseis para serem desativados nos Estados Unidos”. Após essa denúncia, Morales havia pedido ao Ministério Público do país que abrisse um processo contra Rodríguez. (Bolpress – www.bolpress.com – e La Jornada, www.jornada.unam.mx) As dez propostas do MAS para transformar o país 1. Nacionalização dos hidrocarbonos – que todo o gás e todo o petróleo que saiam de nossos poços sejam propriedade nossa e não das transnacionais. 2. Assembléia Constituinte – para conduzir o país, com apoio de todos os setores sociais, à construção de uma nova pátria. 3. Lei Andrés Ibáñez para as Autonomias – descentralização política e administrativa da República para que os povos indígenas, municípios e regiões tenham poder de decisão política e financeira. 4. Plano de desenvolvimento produtivo – anulação do Decreto Supremo 21060 por ser inconstitucional e revisão da Lei de Inversões.* 5. Lei contra a corrupção e a impunidade – investigação de fortunas aplicável a presidentes, vice-presidentes, ministros e políticos que estiveram no governo nos últimos 20 anos. 6. Lei de austeridade fiscal – eliminar os gastos excessivos nas instituições estatais, e a superremuneração de assessores das entidades públicas. 7. Lei da terra produtiva – acabar com o latifúndio e a tendência de uso especulativo da terra. 8. Seguridade cidadã – uma política de seguridade preventiva, com base na inclusão social e investimentos públicos. 9. Soberania social – criar um novo Sistema de Seguridade Social para dar cobertura de saúde em três níveis: medicina familiar, internação e especializações e hospitalar. 10. Educação e cultura – anulação da Lei de Reforma Educativa, com garantia da educação gratuita em um sistema único nacional. * O decreto 21060 foi editado em agosto de 1985 e foi criado, em tese, para pôr fim à hiperinflação. Na prática, impunha uma série de medidas políticoadministrativas que tinham como objetivo criar um marco regulatório para a aplicação de medidas neoliberais, reduzindo a participação do Estado na economia e possibilitando a privatização, entre outras ações.

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