segunda-feira, 12 de dezembro de 2005

Excessos e Abusos

Olá pessoas! O Weblogger continua morto, dá para acreditar? Eu queria colocar um atalho de lá pra cá mas pelo jeito, não vai dar não. O texto de hj é bem legal. Trata do bombardeio da propaganda em nossas vidas. E, para melhorar um pouquinho, ainda tem o projeto do prefeito anti-pobre de permitir que empresas financiem o uniforme escolar e coloquem suas propagandas nos mesmos. Meninos perdigão, meninas Walita. Quer pagar quanto? Excessos e Abusos Thomaz Wood Jr. do site da Carta Capital Estratégias promocionais extravagantes e mal concebidas transformam atividades frugais, como escutar o rádio ou ir ao cinema, em experiências ruidosas e torturantes Há algumas semanas, esta coluna registrou com pesar a transmutação do cinema em ambiente de consumo fast-food. Antes do prato principal, registrava este escriba, a publicidade imposta faz a tela gritar, gemer e explodir. As peças são histriônicas e desarmônicas. O cinema, pela ação de mãos invisíveis, forças de mercado e outras entidades sobrenaturais, transformou-se em caça-níquel. Onde havia prazer e fruição, colocou-se entretenimento e consumo. No lugar da platéia, plantaram-se hordas de sensibilidade anêmica e gostos abrutalhados. Há muito tempo, a defunta Sétima Arte é utilizada para vender mercadorias. Os veículos utilizados pelo mais famoso agente secreto inglês são tão cuidadosamente escolhidos e promovidos quanto os próprios atores que interpretam o personagem. Desenhos animados infantis constituem o centro de uma gigantesca operação de marketing, que vende brinquedos, viagens, roupas e quinquilharias diversas. O tênis do policial, o acessório da heroína, a bebida do casal, nada é gratuito. A linha de separação entre drama e publicidade é cada vez mais tênue. A maioria do público não percebe a diferença entre a trama e as inserções promocionais. Aqueles que percebem, provavelmente não se importam. O cinema não é exemplo único. Aonde os sentidos alcançam, há sinais da intensa algaravia mercadológica, a puxar e empurrar, seduzir e induzir. Passear despreparado pelo dial da freqüência modulada pode provocar comoção e depressão. Nas estações, notará o ouvinte a presença de falastrões e histriônicos, a vender carros e churrascarias, laxantes e vitaminas. Algumas freqüências converteram-se em vomitórios de notícias; outras tantas agora se dedicam a salvar a alma dos ouvintes. Para quem habita São Paulo, o único traço de civilização situa-se no último quartil do dial, na rádio da Fundação Padre Anchieta. Porém, mesmo esse bastião contra a barbárie anda sofrendo abusos promocionais. Por obra d’algum gênio publicitário, os intervalos entre Elgar e Mahler, ou entre Schumann e Shostakovich, que poderiam ser preenchidos por respeitoso silêncio, agora explodem com exaltações a lavadoras e geladeiras. Outro curioso exemplo de abuso promocional são as viagens aéreas. A ponte Rio-São Paulo, por exemplo, parece ter sido objeto das maquinações d’algum gênio do mal. Objetivo: expropriar valores em pleno ar. Meio: torturar, por 45 minutos, as vítimas. Os aeroportos há muito tempo transformaram-se em ruidosos centros comerciais. Até aí, nada de novo. Agora, ao entrar na cabine da aeronave e afivelar seu cinto de segurança, o pobre viajante perceberá um mirabolante roteiro em ação. Os sinais de início do espetáculo não são sutis. Nas costas da poltrona da frente, a 30 ou 40 centímetros dos olhos, um colorido adesivo anuncia o mais fantástico, inovador e moderno aparelho de telefonia celular. Cerca de 20 centímetros acima, o protetor de cabeça celebra uma notável empresa de serviços. Mal atingida a altitude de cruzeiros, as aeromoças, travestidas de garotas-propaganda, promoverão cartões de crédito. Dez minutos depois, sortearão um brinde alusivo ao lançamento de um novo modelo de automóvel. Antes da aterrissagem, distribuirão uma maçã para lembrar uma nova rota coberta pela empresa (para Nova York, muito sutil!). Em terra, a vida não é diferente. A avenida Nova Faria Lima, em São Paulo, é um bom exemplo de domínio da combalida cidade pelos outdoors: ali, os ditos são de tal porte e se encontram em tal número que deixaram de disputar a paisagem com prédios, casas e árvores. Eles agora constituem a própria paisagem. Nos bairros residenciais ao redor abundam faixas, placas e cartazes. Cada graça alcançada, amor reconquistado ou prédio lançado parece merecer um anúncio à humanidade. Há algumas poucas décadas, vender era uma atividade relativamente discreta. O consumo, de nível bem inferior ao atual, era ditado pelo atendimento às necessidades básicas. O crescimento econômico, o aumento do poder de compra e o aumento da competição trouxeram abordagens mais agressivas de promoção e vendas. Hoje, os grandes sistemas de telemarketing realizam bombardeios maciços sobre as linhas inimigas: os consumidores potenciais. Muitos deles gritam e esperneiam, mas o porcentual que sucumbe ao ataque é suficiente para justificar o insano esquema. N’outras plagas, regulamentação e controle social inibem os vândalos. Na selvagem Pindorama, regras pálidas e incivilidade continuam a abrir espaço para os excessos e os abusos.

Nenhum comentário: